domingo, 20 de novembro de 2022

仮面ライダーBLACK SUN - Kamen Rider BLACK SUN

Saudações.

Terminei de ver a série Kamen Rider BLACK SUN, exibida na Amazon Prime Video. Abaixo segue um resumo e impressões.


Esta é a versão sem spoilers, na medida do possível



A série se passa no Japão de 2022, em uma realidade em que existem seres chamados "Kaijin", híbridos de humanos com animais ou plantas, que vivem em meio das pessoas comuns dentro da sociedade. E eles são vítimas de preconceito pela maioria humana.


O governo instituiu a convivência pacífica entre os japoneses e esses seres há cinquenta anos, mas mesmo assim as animosidades continuam. Existem movimentos ativistas tanto daqueles que pregam a harmonia e a igualdade de direitos, quanto daqueles que incitam o ódio aos Kaijin, havendo constantes embates entre esses dois grupos. É em meio a tudo isso que uma jovem ativista pró-Kaijin, Aoi Izumi (Kokoro Hirasawa) faz um discurso na ONU em defesa desses seres.


E apesar de na fachada garantir os direitos dos Kaijin, o governo secretamente os explora em um esquema repugnante comandado pelo Primeiro Ministro Shinichi Dounami (Lou Ohshiba), que envolve até mesmo as minorias e as camadas menos favorecidas da população humana. E conivente com esse esquema está o Partido Gorgom, composto por Kaijin que se submetem a essa opressão chamada de "convivência" para garantir a sobrevivência de sua espécie.


Dentro de tudo isso existem duas pessoas que foram escolhidas para serem o futuro Rei Criador, a entidade suprema dos Kaijin:

Um deles é Kotaro Minami/Kamen Rider Black Sun (Hidetoshi Nishijima), um homem soturno, apático e desiludido, que teve seus ideais destroçados e agora sobrevive (não "vive") de pequenos "trabalhos" que envolvem cobrança dívidas para agiotas, assim como assassinatos. Tudo isso em troca de dinheiro e de Cetamina, um analgésico antidepressivo que ele aplica periodicamente na perna que arrasta por algum motivo. E atualmente mora em um ônibus abandonado.


O outro é Nobuhiko Akizuki/Kamen Rider Shadow Moon (Tomoya Nakamura), que ficou enclausurado em uma prisão por todos esses cinquenta anos, alimentado por uma substância chamada Heat Heaven que o manteve jovem. E ao conseguir se libertar, parte para enfrentar a opressão aos Kaijin, contatando novos companheiros e organizando movimentos para realizar seus ideais que não mudaram durante todo esse tempo.


O Rei Criador está prestes a morrer, o que é prejudicial para o esquema de Dounami e do Partido Gorgom. Para conduzir a cerimônia de sucessão é preciso conseguir as duas Kingstones, que foram implantadas nos corpos de Minami e Nobuhiko pelos seus próprios pais quando eram crianças.


Mas quem tem uma dessas pedras é Aoi, que é salva por Minami. Os dois passam a desenvolver uma estranha relação de confiança e Minami aos poucos recupera seu espírito de luta para cumprir seu objetivo: o de matar o Rei Criador.



Kamen Rider BLACK SUN estreou no Japão pela Amazon Prime Video em 28/10/2022 e só chegou no dia seguinte a outros países incluindo o Brasil. Desta vez foram colocadas legendas em português, mas aparentemente optaram por utilizar os nomes e termos da dublagem da série clássica Kamen Rider BLACK quando ela foi exibida por aqui nos anos 1990. É uma série composta de 10 episódios de aproximadamente 40 minutos cada.

A proposta é a de se recriar totalmente a história, mantendo alguns termos e conceitos da série original de 1987, porém por uma ótica adulta. E aborda problemas sociais e políticos como a corrupção e o preconceito, que é o tópico central, nesse caso contra os Kaijin.


A série se usa bastante de linguagem cinematográfica. A situação desse mundo é mostrada logo no começo com um bom trabalho audiovisual, sem o uso excessivo de falas explicativas. Os figurinos, as ambientações e os adereços são convincentes, transmitindo a sujidade desse mundo. As imagens com baixo brilho ajudam a dar um clima opressor de aridez e crueza. Isso tudo cria um ambiente envolvente que logo puxa o espectador para o mundo de BLACK SUN.

A história intercala flashbacks que contam o que aconteceu há cinquenta anos, nos anos 1970, revelando aos poucos como as coisas chegaram ao ponto em que estão. Nessas cenas a ambientação é caprichada, com a tela com coloração amarelada e tons próximos ao sépia, dando um ar nostálgico. Novamente os adereços e figurinos são caprichados, remontando à moda da época com as mulheres com faixas na cabeça e os homens de cabelo comprido e calça boca-de-sino.


O diretor Kazuya Shiraishi é basicamente um diretor de cinema e por ele se usar da linguagem audiovisual, é preciso prestar atenção na tela e não só nos diálogos para poder entender, exigindo capacidade de interpretação por parte de quem vê. Não é uma obra que se possa assistir com distrações, como olhar para o celular, e nem enquanto se faz outra coisa, como por exemplo as tarefas de casa. Existem vários detalhes que se tornam importantes mais tarde.

Kamen Rider BLACK SUN é um mundo, um ambiente que envolve o espectador. Eu mesmo pretendia ver só o primeiro episódio ao chegar tarde em casa depois do trabalho, cansado, mas acabei continuando para o segundo. Resolvi deixar o resto para o dia seguinte, mas percebia que não conseguia dormir de tanta excitação e antecipação. Fiquei assim tomado.

Depois vi, ou melhor, devorei a série de uma só vez e saí bastante satisfeito com o resultado. A sensação não foi a de ter assistido a uma série de dez episódios, mas sim a um filme de 440 minutos de duração. E então vi mais duas vezes para tentar digerir o conteúdo.



É feita uma releitura dos personagens clássicos, que são bem diferentes de seus correspondentes da série de 1987 como é descrito no resumo acima. Minami e Nobuhiko são mostrados como perfeitos opostos (e também complementares) durante toda a série, tanto na personalidade quanto nas atitudes.

Nobuhiko tem uma construção melhor, sendo que agora ele realmente tem seus próprios motivos para lutar. Seu conflito com Minami e sua mudança de visão são bem desenvolvidos, dando a ele muito mais personalidade e importância do que na série original, em que ele era apenas alguém a ser salvo, mas estava sendo controlado.


Mesmo assim a protagonista acaba sendo Aoi, que aos poucos vai percebendo que realizar seus ideais não será uma tarefa fácil em um mundo opressor em que só palavras não são o suficiente. Mas ela está longe de ser uma menina sonhadora inocente, demonstrando determinação e atitude, encarando seus oponentes com convicção. Acompanhar seu desenvolvimento é um dos jeitos de se apreciar a série. De fato, ela acabou se tornando minha favorita.

Os outros personagens de BLACK SUN não são meros coadjuvantes. Eles são multifacetados, com personalidades complexas, pendendo tanto para o bem quanto para o mal. E cada personagem tem importância na trama, sendo o gatilho para determinados eventos. Mesmo Shunsuke Komatsu (Genki Kimura) que no começo parece sobrar na trama, tem sua fatia de participação no desenvolvimento de Aoi.


O elenco é formado em sua maioria por atores consagrados no meio artístico japonês. Por isso sua performance é alta não só nas falas, como também transmitindo sentimentos e estados de espírito só com expressões e gestos, criando o "silêncio que quer dizer alguma coisa". Além dos dois protagonistas, Lou Ohshiba faz bem seu papel como um detestável e cínico "político corrupto". E sua atuação fez dele meu outro personagem favorito na série por ser deliciosamente podre, asqueroso e ruim.

Hiroki Konno, faz seu papel com igual louvor, como o desagradável e irritante ativista anti-Kaijin Wataru Igaki. E Kokoro Hirasawa, aos 14 anos de idade na época das filmagens, demonstra bastante promessa e sabe se expressar com o olhar, algo que aprendeu ao trabalhar no meio artístico desde criança.


Infelizmente a obra não é perfeita. Existem várias conveniências e inconsistências de roteiro, assim como erros de continuidade e lacunas de conceitos, especialmente nos Kaijin, que são o ponto central da história. Há ainda elementos que aparentemente envolvem ocultismo e misticismo, destoando do mundo construído na série, que se basearia em ciência e seria mais próximo do real.

As motos aparecem, mas não são usadas nos combates. Não vemos, por exemplo, o Dynamic Smash da Battle Hopper e nem o Sparkling Attack da Road Sector. E nem são representadas como armas como em uma cena de Kamen Rider Kuuga, se limitando a serem apenas meios de transporte.


A produção dos Kaijin é um tanto pobre, especialmente nos figurantes que usam máscaras claramente de baixo orçamento. São fieis à série original, mas ficam deslocados no mundo de BLACK SUN e alguns deles lembram algo saído de filmes de terror baratos do século passado. Por outro lado, as formas do Black Sun e do Shadow Moon, assim como os desenhos dos Kaijin com maior participação ficaram muito boas, orgânicas, seguindo o raciocínio da série clássica, méritos de Shinji Higuchi, que trabalhou nos conceitos.

Além disso, os efeitos especiais de transformação são bem feitos e convincentes. As metamorfoses ocorrem sem interrupções, de forma fluida, em que não dá para saber quando é feita a troca do ator sem a máscara com o fantasiado. E isso mesmo em condições em que a edição de imagens é difícil, como em multidões.

Outro ponto forte foi a representação do Rei Criador. O diretor de efeitos especiais Kiyotaka Taguchi havia sugerido usar montagens de imagem com uma miniatura, conforme conta o diretor Shiraishi, porém seria difícil fazer isso em todas as cenas. Então optou-se pelo uso de um modelo gigantesco, moldado por Kakusei Fujiwara. Como se fazia nas obras do século XX, dando uma impressão de massa e presença que não pode ser atingida pelas tecnologias de Computação Gráfica atuais. Ao menos, não ainda.

As lutas são brutas e cruas, sem coreografias bonitas ou golpes especiais estonteantes, o que pode decepcionar alguns espectadores, porem achei mais convincente assim. São basicamente brigas, com socos, chutes e pisoteamentos quando os personagens estão na forma humana. E ao se transformarem em Kaijin, o embate é selvagem, realmente como se fossem animais lutando entre si com desmembramentos, mordidas e arrancando órgãos internos, sendo que a equipe viu vários vídeos de insetos brigando entre si para servir de referência. Tem bastante violência e sangue, mas pelo visto Shiraishi se conteve um pouco desta vez em comparação com outros de seus filmes.


BLACK SUN é uma obra que fala da feiura humana, ou melhor, da feiura dos japoneses. Tanto em declarações preconceituosas, parecidas com as que podem ser vistas de vez em quando em contas de redes sociais de usuários desse país, quanto na omissão e na indiferença, em que mesmo presenciando atos de barbárie, as pessoas passam reto fingindo que não veem nada.

E existem referências a eventos históricos como o Zenkyoutou, o Exército Vermelho Japonês, o Incidente da Pensão do Monte Asama e também a Unidade 731, adaptados ao mundo da obra. Um lado obscuro da Terra do Sol Nascente e com isso o título da série passa a ter um outro sentido.

Ou seja, BLACK SUN fala do "Mal", conforme exposto em seu slogan "O que é o Mal? Quem é o Mal?". E esse "Mal" é retratado em várias instâncias tanto de forma escancarada como na figura do Primeiro Ministro e dos segregacionistas, quanto de forma velada naqueles que seriam os heróis da obra. Heróis que lutam pelo que acreditam e pelo bem de pessoas que não são eles mesmos, mas que também se usam de métodos questionáveis e reprováveis.

"O que é o Mal?
Quem é o Mal?"

É uma obra fascinante e uma boa reinterpretação, em que vi não só referências a Shotaro Ishinomori, como também elementos de Shozo Uehara, como a crítica social e ao falar do preconceito. E também de Mamoru Sasaki, ao retratar personagens subversivos, mas que têm uma causa justificável, difíceis de serem julgados.

E existem muitas referências à série clássica, algumas óbvias e outras bem discretas. Buscar esses elementos pode ser divertido e com isso descobrir que BLACK SUN pode ser diferente de BLACK, porém ao mesmo tempo é algo inesperadamente próximo. 

Gostei muito do que vi. Mais uma vez, não é uma obra perfeita, especialmente se vista como uma série de Tokusatsu ou de ficção científica. Essa é uma parte em que realmente achei uma pena não terem colocado muita força e que faria a história ficar mais convincente. Mas como um drama humano, ou melhor, um "drama Kaijin", que é a proposta da equipe, realmente dá o que pensar, tocando em temas delicados, porém necessários. 

Kamen Rider BLACK SUN é uma metáfora da desumanização do "outro", aquele que é diferente de nós, seja na aparência, nas ideias ou nas crenças. Mostra que os Kaijin são humanos, mas ao mesmo tempo que os humanos também são Kaijin. Máscaras que colocamos nos "outros" para agredi-los sem remorso.  E é assim que os "outros" nos veem para que possam fazer o mesmo, criando um conflito sem fim. Mas no fundo, somos todos iguais, todos humanos.

Tudo isso é para que possamos encarar as nossas partes ruins e as do mundo ao nosso redor e fazer alguma coisa a respeito, o que era uma das propostas, conforme contaram Shinji Higuchi e Kazuya Shiraishi.

Torço para ver mais obras nesse sentido em uma linha secundária, paralela às séries de TV.



E recomendo ver na Amazon Prime Video, de forma oficial. Há, ainda, muitas opções de obras de Tokusatsu que podem ser vistas por lá, como a série clássica Kamen Rider BLACK, assim como sua continuação, Kamen Rider BLACK RX. Antes da estreia de BLACK SUN havia muita gente perguntando se era bom ver a série original para entender, mas eu proponho o contrário: assistir primeiro BLACK SUN, que é mais curta, e depois ver o BLACK clássico para encontrar as origens das referências. E se possível, o mangá Kamen Rider Black, que está disponível por aqui.

Na Amazon Prime Video tem também Ultraman Orb e no episódio 5 podemos conferir uma participação de Kokoro Hirasawa antes de BLACK SUN. E além disso, tem Amazon Riders (Kamen Rider Amazons), outra série voltada ao público adulto, embora só com legendas em inglês.

Há ainda séries clássicas como O Fantástico Jaspion, Jiraiya o Incrível Ninja, Policial de Aço Jiban, assim como obras mais recentes como Kamen Rider Zi-O. Isso sem falar que podem ser disponibilizadas outras séries Kamen Rider pela Sato Company, mas por enquanto não tem nada confirmado.

E não se pode deixar de mencionar o longa-metragem Shin Godzilla, produzido e escrito por Hideaki Anno e dirigido por Shinji Higuchi. Outra obra de Tokusatsu com temática mais adulta e que foca nos bastidores da política japonesa, que se encontra totalmente sem saber o que fazer diante de uma ameaça nunca antes vista na história da humanidade.

A Amazon dá trinta dias de graça de experiência para usuários novos. Mas o preço de R$ 14,90 mensais (na época desta matéria) é justo, considerando a quantidade de conteúdo disponível na Prime Video, inclusive de Anime.



Caso interesse, deixei uma versão mais aprofundada desta matéria, sem cortes. Mas recomendo ter visto antes a série, pois ela necessariamente fala dos rumos da trama:

4 comentários:

  1. Escritora ao seu dispor e bem, tô vendo "BLACK SUN" via fansub. É, eu sei, deveria ver por meios legais, mas, nem todos tem condições de pagar um serviço destes. Quanto aos termos, tem sido usado os originais, sem as adaptações do Black que teve no Brasil. Agora, vou te contar: nunca pensei que acontecesse um congestionamento de download para esta série, os três primeiros episódios nem dava pra gravar, custou pra estabilizar, mostrando que o interesse pela obra era enorme por lá. Nem Super Sentai, nem Kamen Rider e Ultra chegaram neste patamar, foi Black Sun que fez isso acontecer de verdade.

    No momento, foi quatro dos dez. E a primeira impressão é: total releitura e estilo de série de TV com alguns elementos de tokusatsu; o primeiro sei como é, quando escrevo uma fanfic que recria a obra e trás somente certos elementos ou referências e nisso a série entrega muito bem, uma referência bem bobinha é a cara do Kotaro nos anos 70, é muito parecida com a do Issamu, tirando as roupas e o cabelo mais comprido; já o segundo tem sido visto como um ponto negativo pra uns, eu não importo porque não estou vendo um tokusatsu padrão e sim uma série que usa disto pra contar sua trama e personagens. Tenho gostado muito da série em si e o tom mais sério chama atenção, tem sido uma excelente experiência e sem comparações com "Kamen Rider Black", porque no meu caso, lembro mais do RX do que do Black. Tô sim vendo o Black, aos pouquinhos, porque nunca o vi e até o momento, tem sido bem legal. Quando terminar de assistir Black Sun, conto como foi. Até mais!!!

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    1. Obrigado, Escritora!

      Realmente o Kotaro dos anos 1970 lembra o ator da série clássica e acho que isso foi proposital. Notei também que a Yukari é parecida com a Katsumi (acho que aqui ficou Sachie?), a namorada do Nobuhiko no original, especialmente quando sorri.

      BLACK SUN tem uma abordagem diferente, pondo mais força no drama, com bons atores. E exige capacidade de interpretação de quem vê, para não ficar só na superfície. E a série original também é boa, com gente de primeira como Takashi Yamada e Noboru Sugimura.

      Fico no aguardo, então até terminar a série. E recomendo pegar os 30 dias de graça. Com isso dá tempo de ver não só BLACK SUN, como também BLACK e de quebra o Ultraman Orb. Amazon Riders também é ótimo.

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  2. Acabei de ver a série, e posso dizer que em questão de tokusatsu foi uma baita experiência.
    É de longe um dos meus favoritos do ano. Vou comentar mais na outra postagem.

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    1. Obrigado, André.
      Gostei mais da parte de ser um Drama Kaijin, abordando temas que falam da natureza humana. Das partes ruins que temos que melhorar. E é uma das obras de Tokusatsu que mais gostei deste ano, também. Uma experiência de imersão incrível.

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Peço que os comentários sejam apenas sobre assuntos abordados na matéria. Agradeço desde já.

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