domingo, 27 de maio de 2018

五龍奇劍士 Metal Kaiser

Saudações.

Desta vez vou falar do  seriado 五龍奇劍士 Metal Kaiser (Go Ryuki Kenshi na leitura japonesa, Wu Long Qi Jian Shi na leitura chinesa, algo como "Os Cinco Espadachins Dragões Mágicos"), um seriado Tokusatsu feito na China pela Tsuburaya Dream Factory (atual Tsuburaya Yumekobo; não tem ligação com a Tsuburaya Productions). Abaixo segue um resumo e impressões.


Estava andando pela internet quando vi um vídeo curioso. Era um trailer do seriado, cujo título logo me chamou a atenção. E também fiquei surpreso ao ver que havia um DVD com os três primeiros episódios.

É porque eu tinha lido sobre ele no livro de Hideaki Tsuburaya, em que é contada a história da Tsuburaya Productions e de como ela saiu das mãos de sua família. Eu pensei "então ele finalmente conseguiu?" Pois esse era o seu grande projeto de vida e que havia terminado em fracasso. Ao menos aparentemente.

Obs.: Uso os termos em japonês por ter mais familiaridade com essa língua.






Em 2056, sobre a cidade chinesa de Xinhai, ocorre um estranho fenômeno: surge uma aurora boreal vermelha, que é o prenúncio de grandes catástrofes. A poluição e as guerras causadas pelos seres humanos corromperam o Ki (Chi, em chinês) da Terra, permitindo o surgimento de monstros, ressuscitando antigos demônios e atraindo alienígenas invasores.

Prenúncio de uma catástrofe.

Mei Mei, a deusa guardiã da Terra, pede ao eremita Xiang Weng que salve o planeta, mas ele no começo se recusa, pois esse foi um mal que os próprios humanos chamaram. Mei Mei apela mais uma vez e então são dados a ela quatro braceletes que permitirão que pessoas escolhidas possam usar os poderes de antigos guerreiros lendários e então salvar o planeta.

Xiang Weng (interpretado por Zhong Han Hao)
Mei Mei (Li Zhe)

Uma dessas pessoas é Yuan Dong, um jovem que mora com seu primo e sua sobrinha, a quem é concedido um dos braceletes. Ele então se junta à SAM (Science Analyze Mission), uma unidade especial do governo especializada em casos extraordinários, cuja base é uma estação espacial na órbita da Terra. Lá, junto com seus companheiros de equipe, ele enfrenta as várias ameaças ao planeta e nas horas de maior perigo, ele se transforma no guerreiro gigante 青龍剣士 (Seiryu Kenshi/Qing Long Jian Shi), o Espadachim do Dragão Azul.

Yuan Dong, o protagonista (Xu Zheng Xi, também conhecido como Jeremy Jones Xu)
Nas horas de perigo, ele se torna o Seiryu Kenshi.
É usada computação gráfica, mas a resolução não é muito boa.

O seriado, feito visando o mercado chinês, mistura ficção científica com conceitos místicos desse país, como o Feng Shui. De acordo com Hideaki Tsuburaya, isso foi intencional a fim de que houvesse familiaridade com os costumes locais. Além de Seiryu, também haveria guerreiros baseados nos outros Quatro Deuses Celestiais da China, a saber, Suzaku (Shu Que em chinês, Passaro Vermelho), Genbu (Xuan Wu, Tartaruga Negra) e Byakko (Bai Hu, Tigre Branco). E eles usariam os poderes dos cinco elementos 五行 (Gogyo/Wu Hang): Fogo, Água, Terra, Árvore e Metal, que interagem entre si e possuem relações de força e fraqueza. Todos esses aspectos são bastante usados em obras japonesas.

E ainda, os guerreiros se fundiriam em um quando necessário para enfrentar um inimigo mais poderoso. Provavelmente eles formariam o 黄龍 (Kouryu/Huang Long, Dragão Amarelo), mas não há nenhuma indicação do nome dessa combinação.

Seiryu Kenshi dispara ondas de choque da espada.

O roteiro é truncado em algumas partes. A decisão de Yuan Dong de entrar para a SAM, logo depois de receber o bracelete, é repentina. E depois de sua candidatura, logo passa para a cena na base, após uma breve explicação de que ele passou com boas notas. E isso aparece especialmente no terceiro episódio, que fica com várias pontas soltas e conflitos resolvidos(?) de forma abrupta.

Ainda assim, sempre é explicado como e por que cada inimigo surge. Isso é bastante comum em filmes de monstros e também nas séries Ultra, sempre com alguma mensagem.

- Acredito em você.
Palavras de um chefe compreensivo para um soldado que desapareceu do campo de batalha e não deu uma explicação convincente.
As cenas de luta são impressionantes. Altamente dinâmicas, acrobáticas, usando o Kung Fu, com movimentos bem pensados. É exatamente como seria se Chihiro Yamamoto vestisse a fantasia do Ultraman, inclusive usando a espada, que é a arma principal do Seiryu Kenshi. Essas cenas são bem características, com movimentos diferentes das séries Ultra. Os inimigos (mesmo os monstros) são inteligentes, atacando pontos que o herói deixa vulneráveis e conseguem se desviar de ataques que venham pelas costas. Essas cenas são o maior atrativo do seriado.

O traje do herói não é como os usados nas séries Ultra, mas sim feito do mesmo material usado em Super Sentai, altamente maleável para facilitar os movimentos. O diretor de ação foi Kenji Tanigaki, que mais tarde exerceria essa função na versão em live-action de Rurou ni Kenshin, de 2014.

Não basta apenas pular para desviar. É preciso fazer uma pose como se estivesse pulando sela.
Ao se defender com a espada, é melhor usar a braçadeira para apoiar a lâmina e não se cortar.
Enrolar a cauda do monstro na espada para depois arremessar. Um movimento criativo.
Cabeçada! Golpe usado poucas vezes nas séries Ultra.
Segurar a espada com a lâmina debaixo do braço. Movimento típico da arte da espada chinesa.

Os designs das naves são de Akihiko Iguchi, que fez esse mesmo trabalho em O Regresso de Ultraman e Ultraman Ace. Elas são a Earth Dragon, que possui artilharia de tiros contínuos, a Berserker Tiger, de ataque pesado, e a Speeder Fox, uma motocicleta voadora. Com exceção da Fox, as naves são bem simples.

Speeder Fox. Usada por Yuan Dong.
Berserker Tiger. Nave de tiros fortes, que exigem um tempo de carga.
Earth Dragon, que lança tiros contínuos, mas mais fracos.

Os inimigos são visivelmente baseados em personagens da mitologia chinesa e têm bastante variedade. Enestun, do primeiro capítulo lembra um dragão chinês. É o típico "monstro", que ataca cidades causando enorme destruição. Se alimenta de eletricidade.

Enestun, se alimentando. Pode não parecer, mas ele é esperto.

O segundo inimigo é chamado simplesmente de "魔獣怨念" (Majuu Onnen/Moshou Yuannian, algo como "Rancor da Fera Mágica"), que é bem o que essa palavra descreve. Um espírito do mal de um inimigo que fora derrotado pelo Seiryu Kenshi antecessor, na dinastia Qin e queria vingança. Seu visual remete ao 牛魔王 (Gyuu Maou/Nyu Mowang), da lenda de Son Goku. Trata-se de um ser sobrenatural, mais voltado ao misticismo.

Majuu Onnen. Perspicaz, habilidoso na luta e possui uma espada.

O terceiro é um invasor alienígena, o Kaera, e o único que não tem motivos chineses. Um ser impiedoso que se diverte destruindo mundos para exibir seu poder. Foi capaz de rebater o ataque especial do Seiryu Kenshi e derrotá-lo. É arrogante, desafiando e chamando o herói para a luta, mas tem a força para respaldar essa atitude. Seria o inimigo principal da primeira fase, até surgir um novo herói.

Kaera. Simplesmente, sem "Alien/星人".

Os efeitos especiais são bons, talvez o melhor que foi possível na época e naquelas condições. Os três episódios do DVD foram dirigidos por Masaki Harada, que exerceu essa função nas séries Ultra a partir de Ultraman Tiga. E para desenhar as nuvens foi chamado Fuchimu Shimakura, que fazia isso para a Tsuburaya Productions desde o princípio e continua até hoje. Mas as paredes do estúdio de gravações não eram contínuas e por isso em algumas cenas é possível ver linhas divisórias no céu.

As miniaturas dão um clima bem diferente das séries Ultra. Só que elas parecem ser todas iguais...
Harada faz uns jogos de cena muito bonitos.
Momento histórico: a primeira cena com explosão de maquetes feita na China.
Olhando atentamente para o fundo é possível notar que o céu tem linhas divisórias. Em movimento fica bem óbvio.

A atuação é muito boa, com um elenco totalmente composto por atores chineses. Para se seguir a carreira de ator na China era obrigatório ter um diploma de Artes Cênicas, e por isso, felizmente, os atores são altamente qualificados. Tanto que Hideaki conta que teve dificuldade para fazer a seleção de elenco e chegou até a aumentar o número de personagens para acomodar o máximo possível.

Os atores são expressivos, mostrando a emoção certa para cada cena.

A embalagem do DVD é simples, com um design daqueles que pode ser encontrado em uma loja daqui do Brasil. O áudio é em chinês, com legendas em japonês, sem opções para outras línguas.

Também está incluído um folheto com comentários do presidente da Tsuburaya Yumekobo, Akira Tsuburaya, filho do Grande Mago dos Efeitos Especiais do Japão, Eiji Tsuburaya e tio de Hideaki, a quem ele deu apoio no projeto. E ainda há explicações breves sobre o herói e seus inimigos. É dada bastante ênfase ao fato da direção ser de Masaki Harada e 五龍奇劍士Metal Kaiser teria sido seu último trabalho, pois ele viria a falecer em 2008, um ano depois das gravações desses episódios.


Ver essa série foi uma experiência bem interessante. Deu para perceber que a equipe queria manter o espírito de Eiji Tsuburaya e ao mesmo tempo fazer alguma coisa diferente das séries Ultra. Isso fica bem evidente nas lutas e nos jogos de cenas. A imagem é diferente, com mais saturação nas cores nas cenas de luta, dando a impressão de que o Seiryu Kenshi não é algo deste mundo. O conceito é interessante, misturando fantasia chinesa e ficção científica e no começo eu estava cético quanto  a isso, mas até que funciona.

O ponto fraco é o roteiro, que é um pouco truncado, apressado, talvez devido a edição que teve que ser feita (vide abaixo). A música não tem nenhuma melodia especial que empolgue e às vezes ela é interrompida de forma abrupta. O mesmo pode ser dito das naves, que não têm a elegância dos antigos trabalhos do desenhista, como as MAT Arrows.

Sempre tive curiosidade de ver como tinha ficado e agora tive essa oportunidade. Uma pena que a série teve que ser interrompida. Falando nisso, ao pesquisar vi que muita gente acha que o motivo do cancelamento seria por censura do governo chinês, mas não foi bem assim. Abaixo segue a história da produção do seriado, contada por Hideaki Tsuburaya.


O Fracasso de Hideaki Tsuburaya



Hideaki sempre visou o mercado chinês, atraído pela sua enorme população. Para isso, em 2005 ele mudou o nome da Tsuburaya Comunications, que estava sob sua gestão e quase inativa, para Tsuburaya Dream Factory, criando uma nova empresa, totalmente independente da Tsuburaya Productions.

Hideaki viajou para Shanghai e lá visitou vários contatos que ele fez na época da Tsuburaya Productions, que apoiaram seu projeto pois acreditavam no nome de alguém que veio da empresa que fez o Ultraman. E então, ele voltou para o Japão em busca de financiamento e conseguiu a promessa de apoio de várias empresas. Hideaki esperava que a Bandai financiasse o projeto também, pois ela era uma marca poderosa no chamado "character business" e poderia influenciar várias outras a investir. Mas no fim a empresa acabou recusando.

A Tsuburaya Productions passava por graves dificuldades financeiras e a Bandai, que não queria perder o Ultraman, achou prudente não participar por medo de que a produtora acabasse procurando por apoio financeiro de outras empresas rivais. E se o empreendimento de Hideaki tivesse sucesso, a Productions acabaria desmoralizada, uma vez que a Dream Factory era uma empresa independente. Na época a Bandai ainda não tinha o monopólio sobre os produtos da Tsuburaya Productions, que ela só conseguiria dois anos depois, em 2007.

A recusa da Bandai acabou influenciando todas as outras e muitas acabaram retirando o apoio prometido. Mesmo assim, Hideaki não podia voltar atrás, pois os arranjos já haviam sido feitos na China. Ele fez contatos com uma emissora local, a Shanghai Media Group, e incorporou várias empresas cinematográficas à sua, que passou a contar com 51% de capital chinês e 49% de japonês em 2006.

Nessa época, a China estava incentivando a criação de programas próprios, com isenções de impostos e Hideaki viu nisso uma oportunidade. Era necessário apresentar um resumo, roteiros e um episódio-piloto de cinco minutos para o governo chinês para obter permissão para exibição. Hideaki envidou esforços nesse sentido e reuniu pessoal local para fazer esse episódio.

E não foi fácil, pois os chineses eram completamente leigos no assunto e tiveram que ser treinados desde o princípio. Por um lado, eles eram bons em montar maquetes. Melhores, mais rápidos e até mais barato que os japoneses. Por outro lado, havia limitações de técnicas e tecnologias. Os equipamentos eram muito atrasados e o pessoal não tinha qualificação trabalhar com tokusatsu. Compreensível, uma vez que não havia necessidade disso até então. E ainda por cima, os roteiristas não eram muito bons. Eles seguiam modelos pré-estabelecidos, sem muita criatividade, todos com histórias parecidas.

Hideaki recebeu bastante apoio de seu tio Akira. Os dois conversaram e chegaram à conclusão de que era necessário chamar pessoal do Japão para mostrar como se faz aos chineses. E mesmo aos 70 anos de idade, Akira participou das supervisão dos trabalhos. Foi nessa que chamaram o diretor Masaki Harada. E para escrever as histórias também foi chamado pessoal do Japão. Mas com a condição de não terem seus nomes nos créditos, para facilitar a aprovação do governo chinês. Akira revela seus nomes no panfleto do disco: Shigemitsu Taguchi, que trabalhou em várias séries Ultra, e Yuuki Okano.

Hideaki finalmente conseguiu fazer o episódio-piloto e enviar para o órgão de avaliação do governo chinês. A aprovação veio muito tempo depois em 2007. E então ele iniciou os trabalhos para fazer a série de fato, que teria 52 episódios. Mas surgiu outro empecilho. Havia um prazo de seis meses para que a série fosse feita e todos os episódios deveriam apresentados para outra avaliação. Caso contrário, seria necessário passar mais uma vez pelos trâmites burocráticos, o que gastaria mais tempo ainda. E por ser uma produção com participação de capital estrangeiro, não era permitido exibir o seriado simultaneamente à gravação de novos episódios, como é feito no Japão.

Hideaki teve que correr mais uma vez. Foi preciso trazer mais e mais pessoal do Japão e isso foi gerando custos com trânsito e estadia (assim como suborno para o governo chinês, segundo Akira). Hideaki voltou ao Japão em busca de fundos, mas não conseguiu convencer ninguém a investir no projeto. Era porque nesse ano, foi noticiado que na China era comum o comércio de produtos falsificados e havia um parque de diversões que fazia uso indevido de personagens da Disney, de Doraemon e até do próprio Ultraman.  Isso deu à China a fama de um país que não respeita direitos autorais e assim o character business seria um negócio muito arriscado por lá. Hideaki tentou argumentar, dizendo que desta vez tinha apoio do governo chinês e por isso haveria proteção, mas não funcionou.

Quando foram feitos nove episódios, a verba acabou. Hideaki já havia vendido tudo o que podia para angariar fundos, inclusive bens particulares, restando apenas sua residência em Tóquio. Tendo chegado longe demais para desistir e mesmo enfrentando oposição de sua família, Hideaki vendeu a casa e viajou para Shanghai, como se fugisse, levando o dinheiro consigo. Ele conversou com o diretor sobre o que fazer e a única solução possível foi solicitar novamente autorização do governo chinês para exibir o seriado, mas desta vez com treze capítulos e editar os nove já gravados para preencher esse número. E ainda assim isso  custaria muito dinheiro.

Em 2009, Hideaki levou três episódios prontos para a Fuji Television do Japão, que gostou do que viu e logo forneceu apoio, ainda que parco. Com isso, tudo parecia correr bem, porém, o pior ainda estava por vir.

Os vídeos eram editados por uma empresa chinesa terceirizada, com a qual tinha sido combinado fazer 52 episódios. Mas a produção estava parada e já havia se passado mais de um ano além do previsto. Os chineses exigiram o pagamento integral dos serviços sobre esse número de episódios, pegando o material gravado como garantia. E pelas leis chinesas, a empresa poderia ficar com o material, caso essas despesas não fossem pagas, e fazer o que bem quisesse com ele, inclusive editá-lo e vendê-lo para alguma outra empresa como um novo programa, ignorando os direitos autorais sobre a obra. Hideaki tentou negociar, para que ao menos o custo fosse sobre treze episódios, mas a proposta foi recusada. Ele até tinha uma cópia de alguns episódios gravados na câmera e poderia editar tudo de novo, mas isso custaria muito dinheiro, que ele já não tinha mais...

Hideaki voltou para o Japão sem nenhum vintém. Em 2010 ele saiu de sua empresa, que mais tarde mudaria de nome para Tsuburaya Yumekobo (Fábrica de Sonhos, em japonês), tendo Akira como presidente. E no fim, ele terminou como motorista, fazendo entregas em uma empresa de artigos de noivado.

Correm boatos e especulações pela internet que o seriado teria sido censurado pelo governo chinês, mas o verdadeiro motivo foi muito mais vergonhoso e constrangedor, pois ele nem chegou a ser apresentado para a avaliação. O próprio Hideaki acabou mostrando que era um Tsuburaya, por caprichar muito e não saber administrar o dinheiro.

Seu sonho foi por água abaixo e o material gravado ficou perdido em algum armazém de Shanghai... pelo menos até agora. Aparentemente, Akira conseguiu resgatar o seriado e os direitos sobre ele, mas com um novo título, acrescentando o termo "Metal Kaiser", que não é usado dentro da obra. Ou talvez os três episódios do DVD sejam os que foram mostrados para a Fuji Television. Não é contado o que aconteceu no livro, que foi lançado em 2013 e o DVD só sairia um ano depois. A Amazon Prime Video do Japão também tem esses três episódios disponíveis para exibição desde 2014, mas desde então não houve nenhum avanço. Hideaki desapareceu depois de dar entrevistas sobre seu livro, então tudo fica envolto em mistério.


O Outro Lado


Existe uma página no Facebook sobre o seriado com várias informações (em japonês), escrita por um membro da equipe japonesa, que assina como "Shiokawa". E lá dá para ver um pouco mais do que aconteceu e por uma outra perspectiva.

Segundo Shiokawa, Hideaki Tsuburaya era bastante descuidado e leviano. Ele teria ido à China pois a mão de obra era barata e a intenção era investir na equipe japonesa para treinar o pessoal local por um ano e depois deixar tudo por conta dos chineses, o que reduziria os custos. Com isso, a Tsuburaya Dream Factory seria pioneira ao fazer o primeiro seriado Tokusatsu na China, arrebatando uma nova fatia no mercado, o que acabou terminando em fracasso.

O próprio Hideaki conta que fazia as coisas sem planejar muito. Quando perguntado se algo era possível, ele respondia "sim" e depois pensava em como realizar. Como fazia Eiji Tsuburaya e era esse o espírito que ele queria seguir. Infelizmente, como visto acima, Hideaki não era genial como seu avô.

A produção enfrentou muitos problemas também devido a diferenças culturais e de linguagem. Um exemplo é que no princípio, Yuan Dong moraria com seu irmão, mas na China havia a Política do Filho Único e por isso foi preciso fazer com que ele vivesse com o primo. A história se passaria em Shanghai, mas acharam que não era bom usar um nome real e por isso foi criada uma cidade fictícia, chamada "Xinhai".

Shiokawa faz várias críticas ao trabalho e até mesmo ao caráter de Hideaki. E é revelado que ele acabou não sendo pago pelos seus serviços. Não só Shiokawa, como também o roteirista Shigemitsu Taguchi e muitos outros... E ele também não sabe dizer nada sobre como esse DVD foi feito ou quem detém os direitos atualmente.

Em tempo, ele frisa constantemente (e eu também, nesta matéria) que, ao contrário do que muita gente pensa e divulga na internet, 五龍奇劍士Metal Kaiser não foi feito pela Tsuburaya Productions e sim por gente que trabalhou lá, em uma empresa totalmente independente, a Tsuburaya Dream Factory, atualmente Tsuburaya Yumekobo. Na página da empresa constam links para os vídeos e também para a Videko, que comercializa o DVD.

2 comentários:

  1. Fala, Usys!

    Que bom trabalho de garimpo, não sabia desse personagem e achei que tinha algum potencial, mesmo parecendo uma variação de Ultraman. E é interessante saber que o Hideaki Tsuburaya não se conformou em sair da área e foi à luta. Porém, é igualmente desagradável saber como as coisas perderam o rumo. Realmente, depois de Eiji e Hajime Tsuburaya, não havia mais nenhum grande talento criativo na família. Só vontade de empreender não basta.

    A qualidade geral dos atores chineses é superior às dos japoneses, em parte culpa da política de "audições" no Japão. Isso é bom pra descobrir novas caras, mas também é verdade que um ator estreante vai ganhar menos que um já experiente. Em termos de ação, é difícil encontrar atores japoneses no nível de movimentação dos chineses e, quando aparece, todo mundo se espanta. Enfim, acho que todos teriam a ganhar com isso. E se essa experiência, como série, tem furos e coisas a melhorar, acho que um caminho interessante havia começado a ser trilhado. Pena que não foi pra frente.

    Um ótimo registro!
    Abraço!!

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    Respostas
    1. Obrigado, Nagado!

      Infelizmente Hideaki cometeu os mesmos erros que ele apontou nos outros membros de sua família. Por outro lado, talvez ele tivesse escrito ao sentir na carne como foi falhar desse jeito. E ele menciona várias vezes que se seu pai, Hajime, não tivesse morrido as coisas teriam sido melhores.

      Fiquei bem impressionado com a atuação dos chineses e sentir a diferença de nível, mesmo sem entender uma palavra do que eles estavam dizendo (ainda bem que tinha legendas em japonês). Só que houve uns percalços, como conta o Shiokawa, já que alguns atores eram geniosos. O Huang Hao, que fazia o capitão da SAM ficava bravo quando apontavam que ele tinha errado uma fala. Mas a Li Zhe era bem simpática e tentava conversar com o pessoal do Japão.

      Ah, uma coisa que me esqueci de mencionar é que os dublês que vestiam as fantasias eram japoneses e também atuaram nas séries Ultra. Mesmo assim dá para ver a diferença na movimentação. É quase um precursor do estilo que o Koichi Sakamoto trouxe. São muito bonitas mesmo, que dá gosto de ver, com golpes bem originais.

      Uma coisa que acho estranho é que o nome do Hideaki não aparece no panfleto do DVD e Akira figura como produtor. Difícil imaginar que o Akira se apropriou do trabalho e acho que essa possibilidade é muito pequena. Eis aqui mais um mistério.

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Peço que os comentários sejam apenas sobre assuntos abordados na matéria. Agradeço desde já.

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