Precure e eu

Em 2018, o dia 01/02 foi instituído oficialmente como o Dia de Precure no Japão, como parte da comemoração do 15º ano da franquia, que se iniciou com um projeto ousado de Takashi Washio, no qual "Meninas também querem lutar". Futari wa Precure estreou em 01/02/2004 e deu origem a muitas outras séries, criando uma linhagem de Super Heroínas que perdura até os dias de hoje.

Sendo assim, vou falar da minha experiência com esta grande franquia, que para mim ganhou importância especial. Trata-se de um relato pessoal, sem objetividade, com muitas aleatoriedades, sem uma tentativa de se chegar a uma conclusão.

No começo, eu não tinha interesse por Precure. Minha impressão era a mesma de muita gente que não viu a série: "coisa de criança", "arremedo de Sailor Moon", "tentativa da Toei de faturar", "vitrine de brinquedos". Essas impressões ficaram bem mais fortes quando saiu Yes! Precure 5, que eu via como algo visivelmente tirado de Sailor Moon.

Mesmo assim eu ouvia muita gente falar dessa série em fóruns e páginas do Japão. Eram entusiastas, que escreviam dissertações sobre o assunto e produziam desenhos e contos. Mas ainda assim eu não dava muita atenção. Simplesmente não tinha interesse. Só cheguei a ver um episódio quando fui ao Japão em 2009, de Fresh Precure!. Mas foi só de passagem e não consegui pegar direito todo o contexto.

Fui dar uma chance à série em 2011, quando vi o primeiro episódio de Suite Precure♪. Havia retomado Super Sentai com Gokaiger e Kamen Rider com OOO, então achei que seria uma boa hora. Mas não me atraiu. Senti que não era para mim. Ou talvez por no momento estar mais interessado em Puella Magi Madoka Magica. E de fato, essa série me marcou muito e se tornou o novo padrão para o gênero de Meninas Mágicas. Nesse meio tempo, via várias artes na plataforma Pixiv, de artistas amadores e profissionais, com as personagens dessa série interagindo com Precure, o que despertou novamente minha curiosidade.

No ano seguinte, ouvi falar da série subsequente. Se chamaria Smile Precure! e nessa eu pensei "Os nomes das personagens são aleatórios e o título não é nada criativo. Estão ficando sem ideias". Mesmo assim resolvi dar uma chance, pois teria a participação de Hisako Kanemoto, que foi a Garota Lula em Shinryaku! Ika Musume, um desenho que havia gostado muito. E os visuais, assim como o fato de ser um quinteto me lembravam Madoka e ainda outro desenho que gostava, Galaxy Angel.

Ao ver o primeiro capítulo, tomei um choque. Era clichê, infantil, mas muito divertido! Me despertou sensações que eu senti que havia esquecido. Desde então passei a acompanhar a série e me divertia com cada capítulo, que era incrivelmente cheio de variedade. E ficava ansioso pelo próximo para ver em que confusão as meninas iriam se meter. Logo me encantei com Miyuki, e sua atitude positiva; Akane e seu jeito "Osaka" de ser; Yayoi, tímida, fã de Super Heróis; Nao, destemida com quem faz coisas erradas, mas comilona e com medo de insetos; Reika, tranquila, inteligente, que porém guarda um lado frágil. As personagens eram atraentes e fáceis de entender, inclusive os vilões Wolflun, Akaohni, Majolina e Joker, assim como os Mascotes Candy e Pop.

O clima era de comédia, mas quando as Cures tinham que lutar era para valer. E havia muitos episódios emocionais, delicados, com uma forte mensagem, como a da corrida de revezamento em que às vezes mesmo se esforçando não é possível ganhar, mas que mesmo assim não se deve desistir. E o antológico episódio do pai da Yayoi. Essa série era capaz de despertar em mim as mais diferentes sensações e isso era o que me agradava.

Outro aspecto interessante era que os vilões não estavam totalmente errados. O que eles diziam correspondia à verdade, como muita gente constata ao enfrentar o mundo dos adultos. Eles falavam dos absurdos da vida que temos de enfrentar e ter de ouvir que as coisas que a gente gosta não passam de futilidades, besteiras. Mas as Cures refutam tudo isso, dizendo que existe esperança neste mundo, que todos podem tentar de novo se falharem e que o que gostamos é importante para nós. Podemos levar vidas bestas, mas são as nossas vidas. E vamos fazer de tudo para protegê-las.

Esse foi o desenho que mais uma vez redefiniu meus conceitos de Meninas Mágicas, desta vez com bastante luta corporal. De fato, eu chegava a ver como uma espécie de Madoka com um clima mais alegre.

Ao mesmo tempo, resolvi ver Precure All Stars DX 3, para saber como era um filme assim, reunindo as Heroínas de todas as séries. E me maravilhei! Só conhecia algumas personagens de nome e conceitos que havia ouvido falar na internet. Mas mesmo assim, consegui acompanhar sem nenhum problema, pois o filme apresentava uma história fácil de entender, envolvente. Estava diante de algo que poderia ser visto por pais que nunca viram os desenhos e estariam acompanhando suas crianças. Foi uma grande experiência.

Depois vi Precure All Stars New Stage, em que as Smile apareceriam pela primeira vez na tela grande. Já fui pego logo na primeira cena, com as Cures em cima da gigantesca roda gigante de Minato Mirai 21 e um dos transeuntes, um ancião dizendo: "Quando as Trevas envolvem o mundo, surgem as Guerreiras Lendárias". E logo em seguida uma cena de uma menina no colo de sua mãe gritando com um sorriso e olhos marejados "Ganbare! Precure!" ("Coragem! Precure!"). O jeito de dizer era puro, inocente, vindo de alguém que acreditava nas Guerreiras Lendárias. Naquela hora para mim, a palavra "Precure" ganhou a mesma importância e conotação de "Ultraman". E o tema de abertura Eien no Tomodachi se tornou meu hino, junto com Ultra no Kiseki.

O momento da consagração.

Nos episódios finais de Smile!, resolvi checar as outras séries e comecei por Fresh! e Heartcatch!, das quais ouvia muito falar. Nessas eu vi que a história de Smile! realmente era meio desorganizada, sem uma linha definida. Não era exatamente uma série contando uma grande história e no começo isso me incomodava. Mas, anos mais tarde, eu li sobre o formato omnibus no livro de Yuji Kobayashi sobre "Como fazer um programa de Super Heróis de Tokusatsu" para finalmente entender como funcionava. Era como nos desenhos mais antigos que eu via quando era menor . E curiosamente, foi esse mesmo Yuji Kobayashi que fez o resumo final da série no formato de romance literário.

Em Fresh! encontrei uma história bem estruturada, contando sobre a redenção da vilã Eas, assim como o esforço de Love, Miki e Bukky (Inori) de realizar um sonho. Suas tentativas, erros e finalmente o sucesso. E também foi nessa série que me reencontrei com alguém que me encantou com Sailor Moon, fazendo a cena de transformação e o capítulo de estréia da Sailor Jupiter, e que na verdade trabalhava para fazer minha alegria desde os anos 1980: o Mestre Desenhista Hisashi Kagawa.

Heartcatch! foi um grande impacto. O traço estilizado no começo me causou estranheza, mas com o tempo passei a ver a beleza, tanto estética quanto funcional, do Mestre Desenhista Yoshihiko Umakoshi. E me reencontrei com o meu roteirista favorito, o grande Takashi Yamada. As personagens eram cheias de charme, com destaque para a Erika/Cure Marine, que até hoje é um ícone da franquia. E também me encontrei com minha Musa, Yuri Tsukikage/Cure Moonlight.

Artbooks dos mestres Hisashi Kagawa e Yoshihiko Umakoshi.

Finalmente vi a série original, Futari wa Precure. Via vídeos delas lutando intensamente, mas constatei que não era assim em todos os capítulos. Em alguns elas só se moviam um pouco para depois disparar o golpe final. Mesmo assim pude ver as bases da franquia, na qual Nagisa e Honoka construíam sua amizade e só passaram a se chamar pelo nome no capítulo 8, que é lembrado até hoje pelos fãs. Logo depois foi Max Heart, com a introdução de Hikari e o conceito de "estranha em uma terra estranha", recorrente na franquia.

Passei então para Splash Star, em que esperava um requentamento da série original, mas mais uma vez estava errado. Era totalmente diferente, a começar pela ambientação da série, contrapondo o clima urbano de cidade grande da série original. Yunagi era um lugar cheio de verde e natureza, localizada entre montanhas e o mar, altamente aconchegante e com a presença dos Espíritos. Inclusive eram usados os conceitos de Tsukumogami (espíritos que habitam em objetos) e Kotodama (o "poder da palavra").

E nessa série foi desenvolvido um conceito que havia sido introduzido na série original: a dos vilões que tentam se aproximar das heroínas para roubar seus poderes, mas acabam se afeiçoando a elas. Nesse caso com Michiru e Kaoru. Esta série se tornou outra de minhas favoritas.

Ao mesmo tempo ia acompanhando as séries correntes e percebia que uma era totalmente diferente da outra, algumas vezes com conceitos opostos à anterior. Cada uma delas trazia sua mensagem, mas havia uma em comum.

Amor, até para um inimigo.

Felicidade. A própria e a dos outros.

Sonhos. Desespero e Esperança.

Encontro. Separação. Reencontro. O que é Família.

"Gostar" e "Não gostar".

Futuro. Possibilidades.

Essa mensagem maior teria grande valor para mim em 2013, quando tive um ataque cardíaco. A mesma mensagem de Ultraman que salvou a minha vida:

あきらめるな

Akirameruna, ou "não desista". A frase que ouvi em Ultraman Nexus e que depois notei que é mencionada em todos os filmes das séries Ultra. E isso era corroborado por Precure com uma frase semelhante:

絶対にあきらめない

Zettai ni akiramenai, ou "não desistir de jeito nenhum". Uma frase que era dita em todas as séries. Pois Precure era a história de Meninas que não desistiam de seus sonhos e isso foi o que me animou. Tinha meus sonhos, minhas ambições e não queria desistir deles.

Depois de sair do hospital, decidi levar uma vida mais saudável e para isso era preciso reduzir o peso. Nisso eu me lembrei das dicas da Miki/Cure Berry e passei a praticar. Essa passou a ser a minha meta para o ano de 2014. Foi um ano difícil. Experimentei todos os métodos possíveis até encontrar um que me fosse adequado. Esmoreci várias vezes, mas repeti as palavras de Ultraman e Precure para ir em frente.

Graças a isso, consegui cumprir meu intento e emagrecer mais de 30 quilos. Com os princípios de comer e me exercitar, com a reeducação alimentar, reverência à comida e equilíbrio nutricional. Tudo o que aprendi com Miki, Rikka/Cure Diamond, Honoka/Cure White e Yuko/Cure Honey. E tenho conseguido manter o peso seguindo esses princípios.

Outra lição importante é a de que é possível recomeçar mesmo depois de cair. Nesse ataque cardíaco, perdi uma grande parte do coração e por isso, nunca mais vou poder voltar a ser 100% saudável. Mas ainda assim tenho muitas possibilidades. Mesmo dentro de minhas limitações, posso ser e me tornar o que eu quiser. De fato, agora eu consigo fazer mais coisas do que quando tinha um coração inteiro! Mas teria sido muito melhor se eu soubesse que conseguia antes de ter o infarto...

Veria isso anos depois com Henri em HUGtto! Precure.

Por isso eu digo que Ultraman salvou minha vida e Precure a mudou. E é por esse motivo que dou tanta importância a essas duas séries.

Não desista!

Anos mais tarde, resolvi dar mais uma chance a Suite♪. E ao ver, desta vez eu pensei "Onde eu estava com a cabeça naquela hora?" e curti bastante. As brigas de Hibiki e Kanade, que no fundo faziam isso por se gostarem muito. A amizade de Hummy por Seiren. Ako e seus dramas. E enormes surpresas que surgiam durante o decorrer do seriado.

Depois disso, resolvi ver Smile! mais uma vez. Para ver se o que diziam era verdade, se ela se tornaria uma série medíocre depois de ver outras. Mas ao rever, fiz isso com lágrimas nos olhos. Era a sensação de se voltar ao lar. Ou melhor, de recuperar uma parte do corpo. Prestava mais atenção nos detalhes e notava coisas que não via na primeira vez. Por exemplo, a mensagem de "Na hora de se despedir, sorria!", que aparece no último capítulo era algo que já foi dito nos primeiros capítulos, sedimentando essa parte. E me dei conta que Smile! era a minha série favorita e ocupa o lugar deixado pela parte do meu coração que se foi.

As séries Precure deram muito para mim e resolvi que também deveria dar algo em troca. Sendo assim, resolvi comprar os Blu-Rays da série e comecei com Smile!. Na época o dólar não estava tão caro e dava para fazer a extravagância de comprar a série inteira. E o melhor é que era vendida em partes, o que aliviava um pouco. Mas com o tempo, isso se mostrou impraticável e acabei tendo que ficar só nos especiais de cinema. Ainda faltam muitos, mas espero conseguir todos um dia.

A única série de TV que tenho.

Especiais de cinema.

Passei a também a colecionar figuras da franquia. Comecei com a S.H. Figuarts da Cure Moonlight, mas me decepcionei um pouco. Por um lado a modelagem era muito boa, mas o sistema de articulações era abaixo da média. O controle de qualidade também não era dos melhores e havia muitas falhas de projeto. Esses problemas foram solucionados gradativamente a cada novo modelo, apesar do controle de qualidade deixar a desejar. E ia pegar só algumas delas, uma representante de cada grupo e só ter o time completo de Smile!, mas no fim acabei conseguindo todas as que constam no catálogo da Bandai. Ou quase, já que anunciaram um novo modelo, a Cure Yell, para julho deste ano.

Cure Moonlight, a primeira que adquiri. E muitas vieram depois.

E não fiquei só nas articuladas. Adquiri vários outros tipos, na proporção SD, como as chibi-arts (essa também tenho a coleção completa) e de pose estática. Uma pena que até agora não consegui nenhuma da linha Excellent Model Core, modelos de altíssima qualidade e negociados a preços altos no mercado de usados.

Outra área que resolvi explorar foi a das versões em quadrinhos, publicadas na revista Nakayoshi, feitas pelas irmãs Futago Kamikita, das quais somente havia ouvido falar. Mas as compilações já estavam com tiragem esgotada e teria que procurar em lojas de usados, algumas vezes por altos preços ou em péssimo estado. Felizmente, como parte da comemoração dos 60 anos da Nakayoshi e dos 10 anos da franquia, foi anunciada a Precure Collection, uma reedição de todas as séries, incluindo histórias que não foram incluídas em algumas compilações. Passei a colecionar esta série também e agora ela se encontra incompleta, faltando o 2º volume de HUGtto! Precure, que será lançado em março deste ano.

Os trabalhos das Mestras Futago Kamikita.

E havia mais uma área a desbravar: a dos romances literários. Vi em um site de notícias que iriam lançar livros nesse sentido, o que me despertou curiosidade. Alguns eram versões paralelas de eventos das séries de TV. Outras eram a versão do autor. E mais outras eram continuações. Se tratava de um verdadeiro universo expandido, com muitas possibilidades e oportunidades de saber mais sobre as personagens.

Existem modalidades para o público infantil e o juvenil.

Também cometi a loucura de conseguir um Nintendo 3DS só para o jogo de Happiness Charge Precure!, comemorativo dos 10 anos da franquia com a participação de todas as antecessoras. E bem no dia seguinte ao do que fechei a compra, foi anunciada uma versão mais avançada do aparelho... E agora gasto muitas horas no jogo Precure Tsunagaru Puzzlun, para smartphones...

Infelizmente não tinha rosa...

E no fim acabo jogando mais este, que é gratuito...

A série agora completou seus 15 anos e atualmente no Japão é um dos maiores conteúdos de entretenimento para meninas e consta como "força principal" nos relatórios da Toei Animation, junto com Dragon Ball e ONE PIECE. De fato, a Toei tem botado bastante força na franquia, com lojas especializadas em produtos relacionados, as Precure Pretty Stores, espalhadas por todo o Japão. Outra novidade foi a abertura de um Canal Oficial no YouTube, com vídeos promocionais, cenas dos próximos capítulos, brinquedos e lições de dança.

Foi feito um enorme trabalho de marketing na comemoração dos 15 anos com outdoors e uma colaboração com uma minissérie em live-action, Koe Girl!, que conta a história de aspirantes a dubladoras, estrelando Haruka Fukuhara (Himari/Cure Custard) e com participação de Haruka Tomatsu (Iona/Cure Fortune). A franquia teve destaque na inauguração do Toei Museum, com exposições e espaços para as crianças brincarem.

E o filme mais recente, Futari wa Precure♡HUGtto! Precure All Stars Memories, ganhou reconhecimento internacional ao figurar no Livro Guinness de Recordes como "O Filme Animado com mais Guerreiras Mágicas", sendo que todas as 55 heroínas têm falas. Tanto que até foi feito um vídeo especial para confirmar:

E recentemente foi realizado o Precure 15th Aniversary Live ~15☆Dreams Come True~, reunindo todas as cantoras dos temas da franquia e todas as dubladoras das protagonistas de cada série. Foi um grande espetáculo que fez os fãs chorarem de alegria, em que todos celebraram o aniversário de 15 anos da franquia. Também houve um pequeno milagre: a célebre cantora/dubladora Nana Mizuki, que foi a Tsubomi/Cure Blossom não poderia comparecer, pois ela tinha um show próprio na mesma data, o NANA MIZUKI LIVE GRACE 2019 - OPUS III. Em seu lugar, para representar Heartcatch! compareceu Fumie Mizusawa, a Erika/Cure Marine. Mas na última hora, Mizuki anunciou que compareceria em um dos dias do show de Precure, logo depois do seu próprio. Ela cumpriu sua promessa e fez pequenos números de comédia com Mizusawa e cantou a abertura e o encerramento de Heartcatch! levando os fãs à loucura. Esse show não foi gravado e nem será disponibilizado em DVDs ou Blu-Rays. Foi feito para ser uma experiência única a ficar gravada nas lembranças de quem compareceu.

O dublador Yuki Kaji, que participará do próximo filme, Miracle Universe, chegou a dizer que "Precure é algo que toda menina provavelmente vai ver na vida". Mas isso é dentro do Japão. Infelizmente as séries Precure ainda não conseguiram ganhar o mundo, alçar voo para atingir outros países fora da Ásia. Tanto que é difícil encontrar produtos relacionados aqui no Brasil mesmo em lojas de importados, como as do bairro da Liberdade, em São Paulo. O mais fácil de encontrar são produtos alimentícios, como furikake, chicletes e balas de goma.

Itens aleatórios que encontrei na Liberdade pegando poeira, pois ninguém dava bola.

Até foi feita uma tentativa de se trazer as séries Precure para cá com Glitter FORCE, mas foi um fracasso, devido a modificações desnecessárias, anacrônicas, cortes de episódios e uma administração desastrada que terminou com a Saban Brands devolvendo os direitos à Toei e ao abandono da marca. Pior é que mesmo assim, a exibição das séries pode não ser possível enquanto o contrato com a Netflix não expirar.

Ainda assim torço para que ela seja disponibilizada para todo o mundo. Um conteúdo como esse, com grande potencial, não pode ficar restrito a um determinado território. Tenho feito o possível para divulgar e contribuir e espero que chegue o dia em que as séries Precure sejam exibidas neste lado do mundo.

Ao menos as músicas podem ser encontradas no Spotify.

Agradeço por ter lido este longo e enfadonho texto até o fim. Foi feito às pressas, sem revisões de qualquer tipo, exatamente para me forçar a externar tudo o que sinto sobre Precure. Foi com elas que aprendi muita coisa e também sobre a estrutura do anime, como composição de série, direção de arte e o papel do diretor. Foi com essas séries que pude saber quem é Yuta Tanaka, Takashi Otsuka, Tatsuya Nagamine, Akira Takahashi, Toshie Kawamura, Yoshimi Narita, Isao Murayama, Atsutoshi Umezawa, Fumi Tsubota, Mitsuru Aoyama, Nishiki Itaoka e muitas outras pessoas que se esforçam nos bastidores para fazer a alegria das crianças.




Extra: Confissões de um Hater

Com Precure, também tive a oportunidade de rever o lado escuro dos fãs. Polarizações, discussões sem sentido, comparações injustas... E também havia discórdia entre fãs de determinadas séries. Alguns fãs de Heartcatch! detestavam Suite♪. Parte dos que gostavam da série original tinham birra com Splash Star!. Happiness Charge! era atacada por causa de um determinado personagem. Havia ainda aqueles que se achavam superiores a outros. E por aí vai.

Tenho que admitir que eu mesmo tive algo assim. Quando começou Doki Doki! Precure, foram feitos comentários maldosos sobre Smile!, fazendo comparações injustas entre as personagens e a série, o que me incomodava muito. Talvez por causa disso, eu tivesse pego certa cisma por Doki Doki!, embora visse toda semana e de fato fosse muito boa. Mas houve uma frase que me fez ver a verdade:

"A obra não tem culpa"

De fato, quem tem culpa são aqueles que espalham ódio e discórdia. Curiosamente, uma frase parecida seria dita pela Makoto/Cure Sword nos últimos capítulos de Doki Doki!. Isso me fez ver que uma obra não tem que ser odiada por causa de seus fãs. E nem por birra pessoal por não querer dar razão a eles.

Mesmo assim, um pouco dessa cisma continua até hoje, devido a essas lembranças ruins. Tanto que demorei a conseguir o livro com os conceitos e até agora não comprei o Blu-Ray ou o DVD do especial de cinema. É uma marca que vai ser difícil de tirar, embora atualmente tenha menos intensidade.

Mesmo assim a Rikka é bonita.

E teve outra vez em que cometi esse erro. Foi no final de Go! Princess Precure. Enquanto assistia a série, via na internet gente falando mal da anterior, Happiness Charge!. Mais uma vez eram feitas comparações maldosas, especialmente entre os personagens Blue e o Príncipe Kanata. Senti raiva e no último capítulo de Go! Princess, me peguei tentando procurar defeitos. Alguma coisa que desmerecesse a série e calasse a boca dos haters de Happiness Charge!. Porém, eu voltei a mim e pensei: "O que eu estou fazendo?!". Estava me deixando levar por um ódio banal ao invés de curtir e me emocionar! Mas já era tarde demais e isso tudo cortou o efeito que o episódio deveria causar. Me arrependi amargamente e desde então tenho tentado tomar cuidado para não cair nessa falta.

Mais uma ocasião em que vi o lado ruim dos fãs foi durante Smile!. A série trouxe muitos fãs novos à franquia, e alguns deles proferiam impropérios como "Smile é que é bom! O resto é lixo!", o que causava a ira de fãs mais antigos. Isso gerou uma enorme polarização e os fãs de Smile! passaram a ser malvistos entre os fãs de outras séries da franquia, sendo taxados de "Smile Buta" (ou "Porcos de Smile"), que estariam vendo a série só porque as personagens eram bonitinhas e não entendiam nada de Precure, que seria algo muito mais profundo. Em represália, eram feitas tentativas de se desmerecer a série, até acusando de não merecer ter "Precure" no título. E esse ódio se voltou até mesmo para os fãs de Smile! que não desmereciam outras séries. Felizmente esse tempo passou e Smile! passou a ter seu lugar.

Nessa eu percebi que havia uma "hierarquia" entre os fãs mais velhos e os mais novos. Entre os fãs de determinadas séries e os de outras. Uma polarização sem sentido que ia contra os princípios da franquia. Mas recentemente vi a voz da razão, por parte do fã desenhista Eunos, que conheço desde  que ele produzia fanzines de Lucky Star.

"Em relação a Precure, do qual gosto muito, eu também sou um "novato" que começou com Heartcatch! e só depois vi todas as séries, mas não pretendo negar os valores de nenhum fã novo. Ou melhor, os fãs de obras de entretenimento têm todos os mesmo valor. Dizer que quem tem mais conhecimento ou tem mais tempo é superior  não tem sentido".

Aprendi que cada série é para ser apreciada por ser ela mesma. Cada uma com um estilo diferente e boa ao seu modo. Acredito que essa variedade também é parte da grande mensagem da franquia de que "Todas são diferentes e (devido a isso) todas são boas".