quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Glitter FORCE - 2ª Temporada


Desta vez vou falar da segunda temporada de Glitter FORCE, adaptação americana de Smile Precure! pela Saban Brands e exibida na Netflix. Abaixo seguem minhas impressões sobre o desenho.

Opiniões sobre a primeira temporada podem ser vistas nesta matéria.




Após uma longa espera, finalmente foram disponibilizados os vinte capítulos restantes da série, exibidos como uma "segunda temporada". E de certa forma faz sentido, uma vez que Takashi Otsuka, diretor de Smile Precure! chegou a comentar em tom de brincadeira que havia dado tudo de si no episódio 23 (que se tornou o 20, o último da primeira temporada de Glitter FORCE) e que até dava para terminar por lá mesmo. Mas não foi assim (ainda bem!).

Basicamente não houve muitas mudanças. O escurecimento das cenas com luzes mais fortes e em movimentos mais frenéticos se manteve. Muito do que foi dito na matéria sobre a primeira temporada se aplica a esta, então vou focar apenas nos aspectos mais característicos a ela.

As "forças da escuridão" continuam interferindo.
E não consertaram o nome do diretor nos créditos...

Cortes Pesados

Desta vez os cortes foram mais pesados, sendo que vários episódios ficaram de fora. Um deles foi aquele em que Akane se apaixona por Brian, um estudante inglês de intercâmbio que veio passar uma semana no Japão. Esse é um episódio muito bonito, que mostra bem a amizade das meninas, que fazem de tudo para que Akane vá se encontrar com Brian uma última vez, usando todos os recursos disponíveis. A cena final ao entardecer é marcante, com uma arte belíssima.

A bela cena do entardecer, com Akane e Brian no aeroporto.
A luta também é muito bonita, com Akane usando uma espada de fogo improvisada.
Não sei dizer os motivos disso ter acontecido. Talvez por tratar de namoro, mas esse é um assunto que é bastante explorado em desenhos deste lado do mundo, então essa hipótese é implausível (ou os padrões americanos enrijeceram nesse aspecto). Talvez o problema do idioma, já que Brian é inglês e o desenho a princípio se passaria em um país de língua inglesa. Uma solução seria mudar a nacionalidade do personagem para alguma outra, francesa, alemã ou finlandesa, assim como o nome, mas aparentemente não foi considerada esta possibilidade. Outro problema seria editar os escritos em sua camisa, que são ideogramas japoneses que querem dizer "está tudo bem".

Porém, Brian não ficou totalmente de fora. Ele aparece no episódio 32, mas apenas mencionado como um jogador de vôlei famoso, de quem Kelsey é fã. Não aprovo terem tirado o episódio original, mas reconheço que foi uma boa solução para não precisarem editar as cenas.

De estudante de intercâmbio para astro do voleibol. Brian subiu na vida! 

Outros episódios cortados foram o do Festival de Verão, o da visita à casa da avó de Miyuki e a ida a uma vila cinematográfica. Talvez por eles tratarem de assuntos tipicamente japoneses, algo que já teria sido esgotado em Glitter FORCE no arco da "Exposição Ásia Pacífico". E a casa da avó de Miyuki é bem japonesa, assim como os costumes mostrados lá. Seria inviável dizer que Emily também descende de japoneses, uma vez que Chloe já ocupa essa posição.

Cenas com algumas das mais belas artes do desenho acabaram ficando de fora.
Nada de Glitters em yukatas...
... ou em roupas da época dos samurais.
Sinto muito, fãs ocidentais do Pop... Ele não tem forma humana em Glitter FORCE.
Esses cortes se mostraram prejudiciais nas partes em que as Glitters se lembram de momentos difíceis que foram superados graças à sua união, pois nessa hora são mostradas justamente cenas de episódios perdidos. Isso acaba tirando a força da mensagem a ser transmitida.

Quando é que foi isso mesmo, Lily? Da Yayoi eu me lembro...

E algumas cenas foram removidas, como no capítulo da Cinderela, em que Yayoi enrubesce ao ser salva por Reika, talvez para evitar algum tipo de conotação homossexual. E por alguma razão o mesmo acontece com as cenas do último episódio em que Akane e Yayoi se abraçam em lágrimas, assim como Reika e Nao.

Até entendo terem tirado esta cena (embora não aprove).
Vetar esta aqui eu já acho exagero.
Quando tiraram a cena em que Yayoi faz a pose do Raio Emerium do Ultra Seven, achei que iam remover todas as referências às séries Ultra do desenho. E essa apreensão aumentou quando vi que adaptaram tardiamente o "Ultra Happy" de Miyuki para "The Happiest Happiness". Mas fiquei aliviado quando vi que deixaram intacta a cena em que as Cures assumem sua forma Ultra, mesmo que com um nome diferente para as Glitters: "Royal Mode". É certo que houve um "Ultra Mode"...

Yayoi, em uma referência ao Ultra Seven, que foi removida.
Transformação da forma Ultra, que se tornou a "Royal Mode".
A "Ultra Mode" ficou sendo esta, quando elas despertam para seu verdadeiro poder.

Edições, Humor Americano e Eufemizações

A edição de inscrições em japonês foi extensa e com isso dá para perceber por que demoraram tanto para trazer a segunda temporada. Algumas delas foram realmente necessárias, como as placas e cartazes com nomes de lojas e produtos. O problema é que tiraram todas as referências ao 道 (michi, "caminho") de Reika. É certo que esse assunto já foi visto na primeira temporada, mas trata-se de um elemento indispensável para a personagem, que busca por seu "caminho", além de ser uma boa piada recorrente.

Essa foi necessária. Seria engraçado se o nome do robô inimigo fosse "Waruconn".
Trocaram o "道" do alto da cortina por uma coroa.

Houve intensa inclusão de "humor americano" nesta temporada, com piadinhas sobre o visual dos personagens e até comentários em tom sarcástico sobre as situações e soluções apresentadas, o que acabou cortando a dramaticidade de cenas que deveriam ser emocionantes. Talvez isso fosse um recurso que a Saban tomou a fim de fazer uma amenização e poupar crianças que fossem mais impressionáveis, mas essa superproteção acabou deteriorando essa temporada.

Piadinha sobre o visual da Queen Euphoria. A Miyuki até faz um comentário bobo no original, mas...
No Rascal isso funcionou bem, reforçando seu caráter zombeteiro.

Como era de se esperar, a surpresa final sobre a Royal Queen/Queen Euphoria foi mudada, ou melhor, removida. E em sua cena final é dito apenas que ela estaria "indo embora e deixando seu reinado", apesar das imagens mostrarem que existe um sentido mais profundo nas lágrimas das personagens.

Eufemizando o destino da Rainha.

As grandes mensagens de Smile Precure! são "Amizade" e "Nunca Desistir" e isso era mostrado de forma ostensiva e até insistente. Em Glitter FORCE, conseguiram exagerar ainda mais nesse aspecto, mudando algumas falas. Em um episódio, Nao/Cure March chora após encarar seu maior medo, que é o de perder sua família. April/Glitter Spring chora de emoção ao ver suas companheiras se arriscarem e perceber o poder da amizade. Em ambas a mensagem é bonita, mas a versão japonesa mostra melhor a personalidade, não só de Nao, como também de April, que dá valor à sua família.

No original ela apenas diz "Eu tive medo! Muito medo!".

Dublagem. Com mais espírito, mas ainda assim...

A performance das dubladoras americanas melhorou muito desde a primeira temporada. A dubladora de Emily se esforça, é convincente, mas ainda assim não tem a mesma intensidade da dubladora de Miyuki. Isso fica bem claro quando a Cure Happy enfrenta o Joker no episódio 32 de Smile Precure!. Só de ouvir dá pra perceber que ela está sentindo dores enormes por todo o corpo ao ser golpeada impiedosamente pelo inimigo, mas ainda assim se levanta com determinação para salvar suas amigas a todo o custo. Nessa hora, não é Misato Fukuen quem está falando, mas sim Miyuki Hoshizora, a Cure Happy. Basicamente em Smile Precure!, as mensagens são passadas com poucas palavras, com as personagens conseguindo exprimir os sentimentos só com o tom de voz.

As dubladoras americanas são boas.
As japonesas ainda são melhores.

Smile Precure! é um verdadeiro desafio de dublagem, já que existem várias situações em que as personagens trocam de personalidade ou são transformadas em crianças ou até mesmo mascotes. E é aí que se vê quando uma dubladora é boa. As americanas foram bem. As espanholas e italianas foram mais ou menos. A grande surpresa foram as alemãs, que conseguiram expressar as emoções das personagens e as caracterizações em cada situação e forma até melhor que as americanas, embora ainda não cheguem no nível das japonesas. Quanto às dubladoras da versão em português brasileiro, a atuação continua sofrível...

Pode não parecer, mas fazer voz de criança de forma natural é muito difícil.

Nas séries Precure, as dubladoras refazem as cenas de transformação a cada capítulo, para mostrar o estado de espírito, o desenvolvimento das personagens e a ascensão do nível de interpretação delas mesmas durante a série. E existem variações das cenas, mesmo quando são editadas para ficarem mais curtas. Esse é um cuidado tomado pela equipe de produção que mostra o prezo que ela tem pela série, algo que continua ausente em Glitter FORCE, em que a cena de transformação é a mesma em todos os episódios e sem regravação das falas.


Avanços e Retrocessos

Mesmo assim houve melhorias. As lutas mantiveram a sua intensidade e até violência, sem quaisquer cortes. Os nomes dos novos golpes que as Glitters conseguem ao despertar para seu verdadeiro poder foram mantidos ou até melhorados. "Sparkle Fire Inferno" e "Sparkle Shot Maximum Impact" ficaram ótimos. Os Hyper Akanbey se tornaram os Twilight Buffoons, um nome mais inspirado. E cada Shadow Force, as cópias malignas das Glitter Force, também ganhou um nome de golpe melhor.

Gostei em especial do golpe final, (Royal) Rainbow Burst. As frases ditas durante esse ataque em Glitter FORCE são muito mais apropriadas que as usadas em Smile Precure! e mostram bem uma das premissas da série, na qual a força vem da diversidade de personalidades e habilidades. Cada uma das Cures/Glitters é uma cor e juntas elas formam um arco-íris.

As Shadow Force ganham nomes melhores para seus golpes.
Nogo juntou forças com Dyspear?
Voadora no estômago do chefe inimigo!
Ficou provado que nem uma trilha sonora genérica consegue estragar esta cena... embora tire 20% de sua força.
Essa frase ficou melhor, mostrando bem a premissa da série, tanto de Glitter FORCE quanto de Smile Precure!.

Por outro lado, as vinhetas de encerramento não tiveram nenhuma melhoria nos modelos. Isso é bastante desapontador ao ver os originais japoneses, que usam modelos bem expressivos, tão "vivos" que poderiam ser confundidos com animação convencional. As coreografias não são muito bem pensadas, sem sincronização com a letra da música.

As músicas variam das "muito boas" para as "nem tanto". I'm Every Woman é sensual demais e não combina com o desenho, além da coreografia estranha. Yeah tem muito menos força que a Yay! Yay! Yay! de Smile Precure!. Gosto em especial de Lucky Girl, que é bem dançante e animada. You can't stop me só é prejudicada pela coreografia.

Dança do gorila?
A Sunny até faz uma pose assim, mas a Breeze?!
Vocês não vão pular?
Smile Precure!. usando técnicas de cinco anos atrás. Tudo na tela é CG... e se move.
Glitter FORCE. Feita este ano com as mais novas tecnologias...?
Para servir de referência, esta é a vinheta de encerramento de Maho Girls Precure!, feita este ano no Japão.

Mais uma vez é possível notar que em Glitter FORCE não existe o mesmo zelo das equipes de produção das séries Precure. Entendo que se trata de um novo projeto, com muitas incertezas e nenhuma garantia de retorno em um mercado altamente competitivo. Me lembro de que mesmo Mighty Morphin Power Rangers de 1993 não tinha uma produção muito caprichada e só em séries mais recentes, quando ela se tornou uma franquia de sucesso conseguiram fazer algo com qualidade.

Mas para fazer sucesso é preciso investir, arriscar se for preciso, como fizeram Takashi Washio ao criar a franquia e mais tarde Atsutoshi Umezawa ao implementar melhorias. E se quiserem que Glitter FORCE  se torne uma franquia como Precure se tornou, é necessário também pensar no próximo passo.


O Futuro

Glitter FORCE teve uma boa recepção, ao menos por parte de seu público-alvo e que não conhece as séries Precure. Ainda existem aqueles que vêem como um "arremedo de Sailor Moon" e é até compreensível, mas essa é uma opinião rasa. Digo isso pois também pensava assim das séries Precure até ver de fato com Smile! e gostar. Entre os que viram o original as opiniões são variadas. Há quem considere Glitter FORCE uma atrocidade e tem quem compreenda os motivos das mudanças.

O futuro é incerto. Ainda não existem notícias do lançamento de produtos relacionados, que seriam uma grande fonte de renda e a Netflix não divulgou dados sobre a popularidade da série. O formato de exibição é restrito e por isso não alcança um público tão grande quanto a TV gratuita. Isso sem falar que o mercado ocidental já conta com muitas produções para meninas, como My Little Pony ou Monster High.

Existe ainda um especial para cinema de Smile Precure!. Se vai ser adaptado ou não é uma incógnita, pois não surgiu nenhum anúncio. Um ponto desabonador é que o especial pode criar confusão nos espectadores daqui, uma vez que se trata de uma versão paralela da história de como Miyuki aprendeu a importância do sorriso, tema que foi abordado de forma diferente na série de TV.

E também não se sabe se vão trazer mais séries Precure nesse sentido. Se trouxerem, é possível que continuem com a palavra "Force" nas séries subsequentes, uma vez que "Pretty Cure" talvez não possa ser utilizado por já haver uma empresa no ocidente que usa essa marca na adaptação da primeira série, Futari wa Precure, que é exibida no Crunchyroll (existe bloqueio de região para o Brasil).

Qual série poderia ser a próxima caso continue? Heartcatch Precure! foi a mais popular, mas existem muitos elementos que podem não passar pelo crivo americano. Creio que Go! Princess Precure seja a mais indicada, devido ao seu tema de "princesas", algo que encanta meninas de qualquer época. E ainda, o desenho tem uma mensagem de que as meninas podem realizar seus sonhos com sua própria força sem depender da ajuda de um "príncipe encantado", mas sem desmerecer os personagens masculinos. Muito pelo contrário.

Go! Princess Precure. Na minha opinião um bom candidato.

E Smile Precure! ainda não acabou. Logo será lançada uma versão em romance literário contando um episódio que se passa depois dos eventos do desenho, escrita por Yuji Kobayashi, que participou da série e trabalhou em várias séries Ultra como compositor de série, incluindo a atual, Ultraman Orb.

4 comentários:

  1. Eu não me arrependo de ter me divertido com a série , principalmente porque o único
    jeito de ver a versão original é com pirataria. E conquistar meninas fora do nicho
    otaku é algo que me faz orgulhoso de continuar vendo animes mesmo sendo renegados
    pela tv tradicional.

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    1. Obrigado pela visita!

      É isso mesmo! Não se arrependa de ter se divertido e tenha orgulho disso, sim!

      Disse tudo isso, mas torço pelo sucesso da série e para que tragam mais, só que desta vez nos 100%, sem cortes de episódios ou cenas. E espero que o próximo seja "Princess FORCE", pois Go! Princess Precure é muito bom. Essa é uma obra que deve ser vista por todo o mundo.

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  2. E foi só isso né? Estamos em 2023 e temos as séries originais disponíveis por streaming, e essa versão EUA ficou em suas duas temporadas, até fico feliz que tenha existido, pois deve ter trago um novo público. Mas não vi e nem verei rs.

    Obrigado pela resenha!

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    1. Ficou nessa e em Doki Doki!. Essa teve uma dublagem em português melhor, mas ainda assim não consegui ver até o fim. Ah, a Minako Kotobuki, a Rikka/Cure Diamond uma vez fez um vídeo falando as frases de efeito da Rachel/Glitter Diamond. Ela mostra que se quisesse, poderia participar da versão em inglês sem problemas.

      Aqui:
      https://www.youtube.com/watch?v=1kqMeGrSuy0

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