domingo, 21 de julho de 2019

Uchinanchu - Shozo Uehara e Ultraman

Saudações.

Desta vou falar um pouco sobre o roteirista Shozo Uehara e seu trabalho nas séries Ultra. Para isso me baseio em seu depoimento no livro 証言!ウルトラマン (Shougen! ULTRAMAN, "testemunho") e em uma entrevista dada ao site de notícias Okinawa Times.





O Sobrevivente

Shozo Uehara nasceu no distrito de Kume na cidade de Naha, em Okinawa, em 6 de fevereiro de 1937. Ele vivenciou os horrores da guerra quando teve que se afastar de sua terra natal em 1944, na Queda de Saipan, e passou fome enquanto ficou em um navio à deriva, em um mar cheio de submarinos americanos que poderiam torpedeá-lo e aviões das forças aliadas que poderiam jogar bombas a qualquer momento. Tudo o que eles tinham para se alimentar era catchup e por isso, Uehara conta que mesmo depois de passado tanto tempo, não consegue mais comer algo com esse condimento.

Quando estava no colegial, Uehara teve contato com o cinema, vendo filmes de faroeste como Shane e resolveu trabalhar com isso. Então, ele foi para Tóquio após se formar, mas o que o esperava era um ambiente inóspito e hostil em relação a outras etnias, como os Uchinanchu (okinawanos), que sofriam forte segregação na época pelos japoneses. Uehara tentou ficar na casa de parentes que moravam lá, que escondiam suas origens, dizendo que eram de Kyushu. E eles não o receberam bem, pois o futuro roteirista insistia em se mostrar como okinawano e por isso nem sequer lhe emprestaram um quarto para ficar. A partir daí seu grande tema passou a ser "Defender os Uchinanchu vivendo em Yamatu (Japão)", movido por, como ele mesmo diz, "um senso de justiça imaturo", que mantém mesmo agora, por mais de 60 anos.

Uehara ingressou na faculdade, mas nunca ia às aulas e ficava mais no Clube de Cinema ou vendo filmes. Ele conta que nessa época, como amador, só escrevia roteiros sobre a Guerra de Okinawa e as bases americanas. Pois "alguém tinha que revelar a verdade sobre elas e só ele poderia fazer isso". Infelizmente, Uehara teve que voltar a Okinawa devido a uma tuberculose pulmonar. Lá, sua mãe lhe disse que havia alguém que gostava de cinema como ele. Esse alguém era Tetsuo Kinjo.

Os dois se conheceram quando Kinjo estava terminando um filme escrito e dirigido por ele, 吉屋チルー物語 (Yoshiya CHIRU Monogatari, algo como "A História da Prostituta Chiru"), o primeiro feito totalmente na língua de Okinawa, baseada em fatos reais de uma grande personagem local.  Eles então trabalharam juntos em uma obra chamada 沖縄物語 (Okinawa Monogatari, "Uma Historia em Okinawa") para a emissora TBS. A finalização das filmagens tinha que ser feita em Tóquio e Kinjo o convidou para ir junto com ele para lá.

Uehara então foi apresentado por Kinjo a Eiji Tsuburaya, o Grande Mago dos Efeitos Especiais do Japão, ao seu filho, o diretor Hajime Tsuburaya e ao roteirista Shinichi Sekizawa. Kinjo queria que Uehara escrevesse um ou dois episódios para a empresa, mas Hajime lhe disse: "Se quiser ser roteirista profissional, primeiro ganhe um prêmio por isso".

Uehara mais uma vez voltou para Okinawa e escreveu um roteiro intitulado 収骨 (shuukotsu, o costume de entregar as cinzas de um corpo cremado para a família) falando sobre a Guerra, e conseguiu um prêmio, ainda que não o maior. Kinjo então o convidou para visitar a empresa onde ele trabalhava: a Tsuburaya Tokugi Productions, em Soshigaya, onde ele se reencontrou com o diretor Hajime, que ficou contente em ver que Uehara havia conseguido.


Fantasia e Polêmica

Hajime até leu o roteiro que Uehara escreveu, mas o advertiu de que o assunto "Okinawa" era proibido de ser exibido. Pois a emissora TBS evitava temas políticos após ter sido atacada pela Ala Direita japonesa devido a obras como o filme televisivo 私は貝になりたい (Watashi wa kai ni naritai, "Eu quero ser uma concha"), de 1958, que tinha temas antiguerra, conforme conta o roteirista. Bem nessa época, estavam filmando o seriado Ultra Q e Hajime aconselhou Uehara a trabalhar com isso, se propondo a dirigir o primeiro episódio que ele escrevesse, para comemorar sua conquista.

Em Ultra Q, Uehara escreveu uma história intitulada "Oil SOS", que falava de um monstro que se alimentava de dejetos tóxicos e petróleo. Já que não era possível falar de Okinawa, ele resolveu mudar o tema para os perigos da poluição, se baseando no Mal de Minamata. Uma das patrocinadoras, uma empresa de combustíveis, até ofereceu um local para locação, mas ao saber do teor da história, retirou a proposta. O monstro já havia sido feito e o roteiro teve que ser alterado para falar de uma invasão alienígena, dando origem ao episódio 21 da série, 宇宙指令M774 (Uchuu Shirei M774, "Ordem Espacial M774"), que foi sua estréia nas séries Ultra. Só que o episódio acabou sendo dirigido por um diretor também estreante, Kazuho Mitsuta, que se tornaria um dos grandes nomes da empresa.

Uehara ainda não era filiado à empresa e estava vivendo do dinheiro do prêmio que conquistou, que estava acabando. Mas Kinjo fez arranjos providenciais para que ele se tornasse funcionário da Tsuburaya, no Setor de Redação e Projetos da empresa do qual era chefe e o colocou como seu segundo em comando.


A Carreira na Tsuburaya

Uehara escreveu mais episódios para Ultra Q e depois para Ultraman e Ultra Seven. Seu primeiro trabalho em Ultraman foi no episódio 8, A Terra dos Monstros, com retoques feitos por Kinjo, que aparece ao seu lado nos créditos. Era necessário queimar o estoque de fantasias e com isso surgiu a ideia de se fazer um episódio em que vários monstros aparecessem. Uehara confirma que foi ele quem deu o nome ao monstro Red King, por ser originalmente vermelho, feito pelo designer Tohl Narita para ser o seu "Godzilla".

Enquanto escrevia para Ultra Q, Uehara também fez alguns episódios do seriado 快獣ブースカ (Kaiju BOOSKA, "O Divertido Monstrinho"), que se tornou um dos mascotes da Tsuburaya. O produtor da emissora ABC Yozo Nagai então lhe pediu para que visse dois rascunhos feitos roteiristas iniciantes e escolhesse qual era o melhor. Uehara escolheu o de Shinichi Ichikawa, que trabalharia junto com ele em várias ocasiões e foi assim que eles se encontraram. E o episódio 4 de Booska foi a estréia de Ichikawa no ramo.

Em Ultra Seven, Uehara conta que teve bastante liberdade, pois a Tsuburaya estava mais interessada em desenvolver outra série, Mighty Jack. Nisso, ele escreveu várias histórias com Shinichi Ichikawa, aproveitando a situação, que o roteirista descreve usando uma expressão equivalente ao nosso "gato sai rato passeia", pondo a responsabilidade na conta de Kinjo. Mesmo assim ele evitou falar de temas políticos, embora colocasse várias advertências à Humanidade. Uehara revela que a verba para Ultra Seven era curta e que talvez por isso eles tivessem sido chamados às pressas enquanto Kinjo se concentrava em Mighty Jack.

Mas Mighty Jack, teve uma audiência baixíssima (média de 8,3%; Ultra Seven chegava a picos de 33%), dando prejuízos. Por causa disso, a Tsuburaya rebaixou Kinjo, que era o Chefe do Setor de Redação e Projetos da empresa até encostá-lo definitivamente. Com isso, Kinjo perdeu seu entusiasmo e deixou a empresa em fevereiro de 1969, retornando para Okinawa. Uehara também pediu demissão nessa época pois "a Tsuburaya sem Kinjo não tinha graça" e se tornou freelancer.

Depois disso, Uehara trabalhou para outras empresas como a Toei e foi chamado para a criação do Kamen Rider, com a missão de ajudar Shotaro Ishimori (depois "Ishinomori") a convencer os executivos de sua ideia de criar um novo tipo de herói, diferente do Ultraman. Ao ver o herói, baseado em um gafanhoto, Uehara ficou perplexo, mas mesmo assim, junto com Shinichi Ichikawa, ele teve êxito em fazer a ideia passar e até ia trabalhar no seriado. Porém, ele foi chamado pela Tsuburaya para fazer O Regresso de Ultraman e teve que deixar Kamen Rider para trás.


Um Novo Ultraman

Segundo Uehara, o diretor Hajime tinha a intenção de fazer um novo Ultraman, em homenagem ao seu pai, Eiji. Para isso ele chamou gente capacitada, como o renomado diretor Ishiro Honda. Uehara conta que teve certo receio ao ter que ser responsável por algo tão grande.

Uehara optou por fazer um Ultraman totalmente diferente do de Tetsuo Kinjo que tinha um forte teor fantasioso, futurista, com um herói puro e casto, quase divino. Pois não quis copiar o estilo de Kinjo e tomou outro rumo, ao criar um Ultraman mais próximo da realidade, ambientado no presente, que tinha problemas atuais como a poluição. Um herói humano, falível, próximo das pessoas, trabalhando em uma fábrica no bairro. Enquanto no primeiro Ultraman ficava vago se ele era Hayata ou o próprio Ultraman, em O Regresso, era claro que a personalidade de Hideki Go era a dominante.

Enquanto o primeiro Ultraman era um herói em que era preciso olhar para cima, o Regresso baixava seu campo de visão para o dos humanos, especialmente o das crianças. E Uehara deu bastante liberdade aos outros roteiristas de fazer as histórias como eles queriam. As histórias de Ultraman eram diretas, "limpas", mas O Regresso teria um tom de crítica social, até sarcástica.


Quebrando o Tabu

E 1971 foi o ano em que Okinawa seria devolvida ao Japão. Mas ainda assim Uehara sentia que havia muito preconceito, muito segregacionismo em relação a minorias como os Uchinanchu. As bases americanas não seriam retiradas de Okinawa, que ao invés de ficar só sob a administração dos Estados Unidos, agora ficaria em um jugo duplo em conjunto com o Japão. Uehara então decidiu quebrar o tabu de falar de minorias, e quando viu que O Regresso tinha uma posição estável, escreveu o roteiro do episódio 33, O Homem do Espaço, que falava da amizade de um menino com o Alien Mates e do preconceito dos seres humanos.

De acordo com Uehara, o menino Ryo seria um Ainu de Hokkaido, uma etnia também segregada pelos japoneses. O Alien Mates seria chamado de Kanayama, pois esse era o sobrenome mais usado por coreanos que imigraram para o Japão. Em 1923 houve o Grande Terremoto de Kanto e nessa época foram espalhados boatos de que os coreanos teriam envenenado poços e causando badernas. Então, houve um enorme linchamento por parte da população, da polícia e do exército, que acreditaram nesses boatos. Foram mortas até pessoas que não eram imigrantes coreanos, por "pronunciarem as palavras de forma estranha" ou por "falarem diferente". Uehara, como okinawano, sentia que isso poderia ter se estendido a gente do seu povo.

Uehara temeu que o produtor Yoji Hashimoto rejeitasse a ideia, mas se surpreendeu ao ter sua aprovação. E teve a ajuda do diretor Shohei Tojo, que deu mais dramaticidade ainda à história ao colocar a frase "Os japoneses têm mãos para plantar flores bonitas, mas ao empunhar armas, se tornam capazes das maiores atrocidades", proferida pelo Capitão Ibuki. O diretor ia colocar Kanayama sendo morto empalado por uma lança de bambu, algo que não estava no roteiro original, mas essa cena acabou sendo mudada para um tiro de um policial desesperado.

Obviamente a TBS foi contra a exibição, mas Hashimoto retrucou dizendo que essa seria a maior obra de Uehara, contendo sua mensagem para o mundo. Depois disso, como punição, ele tiraria Uehara e Tojo da produção do programa. E assim foi aceito e Uehara ficou fora do seriado até o último episódio. Ele só voltou pois havia uma regra interna na qual o escritor do primeiro episódio deveria escrever o final.

Hideki Go, enfrentando os seus piores inimigos: o ódio, o preconceito e a ignorância.

Uehara comenta que mesmo depois de 45 anos, o Discurso de Ódio continua vivo ou até piorou. Não existe nada mais terrível que a histeria coletiva, em que a população segue algo cegamente, sem questionar. É preciso que cada pessoa veja as coisas com seus próprios olhos e pense com sua própria cabeça. Foi para que as crianças se levantassem com seus próprios pés que ele continuou a escrever roteiros para programas infantis, mesmo com insistentes propostas de Ichikawa para trabalhar com programas para adultos.

Os temas de segregação são frequentes em Uehara. Ele também fala de um roteiro rejeitado de Ultra Seven, intitulado A Vingança de 300 anos, em que um grupo de alienígenas amigáveis, que abandonaram as armas, vêm para a Terra, mas são todos mortos pelos humanos só por serem diferentes, tendo cabelo vermelho. Surpreendentemente, o motivo da rejeição foi a falta de verba e não por tratar de política. As emissoras temiam mostrar problemas sociais, mas usando um monstro isso poderia ser colocado de forma metafórica.

Uehara revela que quando Kinjo decidiu voltar para Okinawa, o convidou para fazer uma nova empresa de criação, mas recusou por não ter uma posição sólida no ramo.  E agora ele quer realizar o intento de Kinjo de criar um herói puramente okinawano. Para resgatar a identidade dos Uchinanchu, que foram privados de sua identidade e de seu idioma, um método bastante usado por invasores. A intenção é não é cumprir alguma promessa feita a Kinjo, mas sim superar o Ultraman criado por ele. E diz que o momento para se fazer isso é agora, em que mesmo Hollywood está decaindo só com cópias e falta de criatividade.


De Deus para Humano

Com isso deu para ver no que Shozo Uehara pensou ao fazer O Regresso de Ultraman. E ficou clara a diferença de estilos entre ele e Tetsuo Kinjo. Uehara era engajado na causa de Okinawa, ansioso por escrever sobre temas polêmicos como política e ambientalismo, enquanto Kinjo se interessava por fantasia e temas românticos como em Chiru, que contava uma trágica história de amor de uma prostituta. E enquanto Uehara  havia decidido viver com orgulho como okinawano no Japão, Kinjo havia feito um "Clube para fazer amizade com venusianos" na Escola Tamagawa em Tóquio, algo insólito, inimaginável para uma pessoa comum.

Kinjo até escrevia histórias que falavam da repressão às minorias e de temas políticos, mas de modo subliminar. Um exemplo seria o episódio 30 de Ultraman em que a menina Yuki era ostracizada pelo povo da vila e criticava a Patrulha Científica por usar de armamento contra o monstro Woo. Era sua mensagem antiguerra, mas de forma discreta. E há o episódio 42 de Ultra Seven sobre os Nonmalt, que também não foi feito tendo em mente a ocupação de Okinawa como muitos dizem, segundo Uehara.

E Kinjo chegou a escrever um roteiro para O Regresso de Ultraman, o episódio 11, se baseando na Operação Red Hat, em que um estoque de gás venenoso encontrado nas bases americanas de Okinawa foi transportado para o Atol Johnson em 1971. Mas segundo Uehara, Kinjo escreveu sem muita convicção, fugindo de seu estilo e esse se tornou seu último roteiro para as séries Ultra. E ele lamentou o fato, pois queria ver como Kinjo faria um "Ultraman puro e casto, fantasioso" em O Regresso.

Mas Uehara nunca negou o estilo e a posição de seu conterrâneo em relação ao seu trabalho. Pelo contrário, ele admirava e respeitava Kinjo por ser capaz de colocar suas posições nas entrelinhas quando as externava. Ele conseguia focar na fantasia, no entretenimento. E também em respeito a Kinjo, quis fazer algo diferente, quase oposto, por saber que imitá-lo seria errado e nunca seria possível superá-lo assim. Esse também foi o argumento que o Uehara usou durante as discussões sobre como seria o Kamen Rider.

E vi a importância de Uehara nas séries Ultra ao fazer sua primeira grande repaginação. O primeiro Ultraman era um ser enigmático do qual não se sabia quase nada. Apenas que ele era um alienígena de M78 que ficou na Terra para enfrentar ameaças de monstros e alienígenas. Um verdadeiro ser de Luz, divino, capaz de dar sua vida pela de um ser efêmero. Já o Regresso de Ultraman era essencialmente um humano, Hideki Go, que tinha suas falhas e seus momentos de arrogância ao ver que tinha superpoderes, e vulnerável, que podia ser abalado ao se atacar seus entes queridos. Ultraman era uma fantasia futurista, enquanto O Regresso de Ultraman era um drama da atualidade. Daí se consolidou a grande transição do Ultraman, que Yuji Kobayashi definiu como "De Deus para Humano".

Ainda, foi explicada sua ausência de O Regresso de Ultraman, só escrevendo mais três histórias depois do 33º: o clássico episódio duplo 37/38 com a morte dos irmãos Ken e Aki Sakata, e o último, o nº 51. Uehara tinha uma mensagem a passar e fez isso com a ajuda do produtor e do diretor, mas teve que pagar um preço por isso ao perder o posto de escritor principal de O Regresso.

Uehara continuou por um tempo nas séries Ultra até Taro, dois anos depois, no qual ele escreveu um episódio. A partir daí, ficou um tempo na Toei, ajudando na criação de seriados que dariam origem a grandes franquias, e só retornaria às séries Ultra de forma esporádica em Tiga, Dyna e Max.

Apesar de estar afastado atualmente do ramo de roteiros, Uehara ainda está em atividade e no ano passado publicou seu primeiro romance literário, Kijimuna kids, que foi premiado no 33º Jouji Tsubota Literary Prize em 23/01/2018.

A história é ambientada no fim da Guerra do Pacífico e conta a história de um grupo de crianças okinawanas que lutam pela sobrevivência, se amparando no ente folclórico local conhecido como Kijimuna. Uehara comenta que ficou surpreso com a premiação, pois os personagens principais são meninos que assaltam as bases americanas e uma menina que se prostitui para os soldados estrangeiros a fim de conseguir dinheiro para construir um orfanato. A obra é descrita por leitores como a versão okinawana de Hadashi No Gen e Conta Comigo. Com isso dá para ver que seu estilo e suas ideias continuam vivas.


Mais sobre Shozo Uehara:

SENSEI! - Shozo Uehara e os Metal Heroes
Ganbattene! - Shozo Uehara e os Kamen Riders
Desafios de um roteirista - Shozo Uehara e os super-heróis japoneses (Blog Sushi POP)

8 comentários:

  1. Fala, Usys! Descobri muita coisa que desconhecia sobre Shozo Uehara, que só fazem aumentar minha admiração por ele. Essas entrevistas e livros que você nos apresenta aqui são verdadeiros documentos históricos, uma referência preciosa para fãs e pesquisadores.

    Shozo Uehara é possivelmente o roteirista mais importante do tokusatsu e sempre procurei tornar seu nome conhecido, desde a época da Herói, nos anos 90. E quanto mais eu aprendo sobre ele, mais aumenta essa convicção. Eu diria que ele está quase no mesmo nível de relevância que um Shotaro Ishinomori, Toru Hirayama, Eiji Tsuburaya, Tomoyuki Tanaka, Ishiro Honda, Tohl Narita, Katsushi Murakami ou Susumu Yoshikawa. Ou seja, não dá pra traçar a História da mídia sem falar seu nome.

    E finalmente, queria fazer um comentário com a liberdade que temos um com o outro. Levando em conta o atual cenário político de engajamento da cultura pop, vi com certa apreensão você usar o termo "cidadão de bem" ao narrar o trágico acontecimento envolvendo o linchamento de coreanos no Japão. "Cidadão de bem" é um termo sempre usado de forma pejorativa e sarcástica pelos militantes de esquerda para se referir a cidadãos de direita ou conservadores. Entendo que o que aconteceu não tem a ver com direita e esquerda, e sim com ignorância e xenofobia. Apenas torço para que a Casa não caia em militância e cutucadas políticas, pois o ambiente virtual já está demasiado tóxico e eu já tenho minha cota de dores de cabeça por ser de direita e conservador. Mas, acima de tudo, respeito suas posições. Só comentei isso pela liberdade que temos, tanto em ambiente virtual público quanto no trato pessoal. Aqui o espaço é seu e jamais deixe que policiem suas posições. E só estou falando porque alguém pode se incomodar e partir pra xingamentos e isso é algo a que já estou, infelizmente, acostumado. Mas não desejo a ninguém, muito menos a um amigo.

    De resto, mais uma grande matéria. E obrigado por sempre linkar matérias minhas por aqui.

    Abraço!

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    1. Obrigado, Nagado.

      Na verdade eu pretendia deixar a parte dos Ultras para o final e falar antes da participação do Uehara nas séries Super Sentai, mas não achei material sobre isso. Daí veio essa entrevista na Okinawa Times, que achei interessante. E talvez fosse a hora de mostrar o que se passava na cabeça dele.

      Ah, sim. Foi uma tradução de um termo usado pelo próprio Uehara quando ele falou sobre o assunto, 市井の善人 (Shisei no Zennin), que literalmente significaria "Pessoas boas da cidade". Mas troquei, já.

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    2. Oi, Usys! Obrigado pela consideração de sempre.

      Sabe uma coisa que realmente me intrigou? Eu sempre vi o Tetsuo Kinjô como sendo mais engajado que o Uehara. E pelo visto, era exatamente o contrário. E esse livro que ele escreveu... Imagino a obra sendo adaptada para um mangá, dorama ou animê. É sensacional saber que ele ainda está em atividade.

      Teria sido fantástico se ele tivesse escrito um episódio de Ultraman Geed. Não que Otsuichi não tenha feito um grande trabalho, mas seria legal ver um roteirista clássico abordando o peso dramático da herança de Riku Asakura e a forma como ele vê Belial. Ou abordar os aliens Shadow vivendo na Terra.

      Falou! Abraços!

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    3. É bem interessante isso. Especialmente pelo fato dele ter feito aquelas atividades em Okinawa depois de sair da Tsuburaya. Mas pelo visto, ele era como o Hajime, interessado em fazer filmes como arte mesmo. É mencionado que ele teria voltado para Okinawa por gratidão à mãe que ele tanto amava.

      E acho que até contataram o Uehara quando fizeram o Geed, já que ele foi um dos escritores do episódio dos Alien Shadow. O "Filhos da Guerra" poderia ser interessante sob sua pena. Ou até o filme do Geed, que se passa em Okinawa. Mas provavelmente ele recusaria, pois estava ocupado escrevendo o livro. Por mais rápido que ele conseguisse fazer histórias, creio que ele iria querer se dedicar a algo que lhe interessava mais, já que a Tsuburaya e os heróis de Tokusatsu não o empolgavam tanto.

      E também acredito que ele vá querer que a adaptação do livro dele fosse feita por alguma produtora de Okinawa, em Uchinaguchi mesmo.

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  2. É incrível ler essas histórias, pois mostra que todos os veteranos passaram por muitas dificuldades e chegaram aonde estão com muito esforço e sempre mantendo suas visões idealistas.
    Conheço pouco sobre o Shozo Uehara, mas lendo essas histórias admiro como ele sempre se mantêm firme no que acredita, e parece que sempre tenta ser o mais respeitoso possível.

    É bizarro ver como esses roteiristas veteranos tinham que passar por muitas adversidades da época para poderem divulgar seus trabalhos, pois eram tempos difíceis e bem restritos, enquanto hoje em dia, que deveria haver uma liberdade maior para esse tipo de trabalho (coisa em parte conquistada por gente como o Shozo Uehara), vemos algumas "polêmicas" bem bobas por parte do próprio povo, que quer limitar a arte por alguns motivos que eu prefiro nem mencionar hehehe. Tomara que sempre tenha gente como o Uehara para mostrar que a arte também deve apresentar as dificuldades do mundo, e não apenas o que é bonitinho.

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    1. Obrigado, Ronin!

      As coisas andam bem repressivas ultimamente. Mas é preciso mostrar como a humanidade não deve se portar, de vez em quando. Expor o seu lado escuro. Se bem que algumas vezes os autores conseguem driblar essas barreiras usando criatividade e fazendo as coisas de forma discreta. E até usando coisas fofinhas para camuflar, às vezes.

      Eu ficava me perguntando por que as emissoras eram tão restritivas e agora vi parte da razão. Opinião pública é vital no ramo deles e fazer algo que desagrade pode ser desastroso. Felizmente hoje temos outros meios de expressão e de publicação de conteúdo além da TV. Embora ainda haja o crivo do público, que também ganhou voz. Tanto para o bom quanto para o mau sentido.

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  3. Difícil até saber por onde começar. Antes de mais nada, agradeço muito por disponibilizar essas informações. Nem vou falar da qualidade da sua escrita ao fazer o resumo do livro, pois é chover no molhado.

    Uehara talvez não seja o melhor escritor de tokusatsu de todos os tempos, mas é sem dúvida o meu favorito e o mais importante.

    Afinal, se considerarmos que os quatro grandes expoentes do tokusatsu na televisão são as linhagens de Ultraman, Kamen Rider, Super Sentai e Metal Heroes, constatamos que ele teve grande importância na origem e desenvolvimento de todas, em graus diferentes - sem contar o trabalho em dezenas de outras séries.

    O que mais me surpreendeu no seu texto foi notar como minha percepção era errada - sempre tive como ponto pacífico que o clima de paranoia em Ultra Seven, calcado nas constantes tentativas de invasão da Terra (Japão) fosse uma metáfora do sentimento do Kinjo ao tratamento dispensado ao povo de Okinawa. Mas vejo agora que talvez essa alegoria tenha sido utilizada por ele em um nível mais inconsciente, e não de forma deliberada para passar uma mensagem.

    Não imaginava que o Uehara fosse mais "militante" (em tempos de polarização essa palavra ganhou um significado negativo, mas não vou deixar de usá-la por isso).
    Ao longo dos anos assisti a centenas de episódios escritos por ele, e embora Uehara tenha tocado em vários temas, um que sempre foi recorrente e que me chamou a atenção foi a forma como o Uehara parecia acreditar que o homem era presa fácil de seus próprios desejos.

    Uehara usou em diversos episódios a mesma trama mestra: o inimigo proporcionava aos seres humanos uma série de facilidades (vindas através da tecnologia ou de algum bem precioso), e os humanos mostravam-se indolentes, fúteis e preguiçosos. Isso se mantinha até que o herói surgisse e acabasse com o plano maligno, o que obrigava os homens a retomar sua vida anterior.

    Voltando a falar sobre o trabalho de Uehara com os Ultras, acredito que a abordagem dele em "O Regresso" tenha sido fundamental para que a franquia continuasse viva até a metade da década de 70 e fosse retomada com sucesso a partir de 1996, ao abordar mais claramente o elemento humano mesmo em um cenário com gigantes de luz e monstros gigantes.

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    1. Obrigado, Ricardo! Mais uma vez, sua presença aqui é uma honra!

      Na verdade esse é só um trecho do livro. Tem mais material ainda que preciso destrinchar. Grande parte das informações veio da entrevista para a Okinawa Times.

      Uehara foi realmente a grande viga-mestra dos Heróis de Tokusatsu. Chega até a parecer absurdo pensar que o mesmo escritor que participou de Ultraman mais tarde fez o Jaspion. Acho que muita gente não acreditaria. E assim ele foi um dos portadores dos ensinamentos de Eiji Tsuburaya e de Tetsuo Kinjo, agora vendo sua admiração por seu conterrâneo.

      Uehara já deu sua contribuição para o Tokusatsu e acho que agora quer fazer o que sempre tinha vontade e por isso se revelou como ferrenho defensor dos interesses de Okinawa. E bem observada essa característica dos roteiros dele. Também casa com a intenção de se fazer com que as crianças pensem por si mesmas e se levantem com seus próprios pés.

      Uehara e também Shinichi Ichikawa deram uma boa revitalizada nos Ultras e é louvável a intenção de não se fazer mais do mesmo. De não imitar o estilo de Kinjo. É certo que Ichikawa queria manter os Ultras como seres divinos, mas isso acabou não dando certo. Era necessário aproximar os heróis dos humanos. Daí começou um processo que continua até hoje.

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Peço que os comentários sejam apenas sobre assuntos abordados na matéria. Agradeço desde já.

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