Obs.: contém detalhes sobre os rumos da trama.
Obs.2: As imagens são as da época da primeira exibição, pois não tenho um drive de Blu-Ray no computador.
Smile Precure! foi a primeira série da franquia de Meninas Mágicas lutadoras da Toei que vi por inteiro. Gostei tanto que comprei todos os Blu-Rays da série na época de pré-venda. Custou caro, mas não me arrependo. E agora, mais do que nunca, vejo que foi bom ter comprado ao poder ver as imagens em HD. Resolução de 1080i, é verdade, mas muito mais bonitas.
Soube que iriam reprisar a série no Japão a partir de julho nas noites de sábado às 19h30min e resolvi rever todos os episódios seguindo esse mesmo esquema. De vez em quando comentava sobre o episódio da semana no Twitter, mas desta vez só 140 caracteres não são o suficiente para falar deste, que foi exibido no sábado passado e é um dos melhores da série. Chorei na época que vi pela primeira vez e esperava que não fosse acontecer a mesma coisa ao rever. Eu estava errado...
Uma Mensagem que supera a Morte
A história começa em um dia de chuva. Na classe de Miyuki (Cure Happy), Akane (Cure Sunny), Yayoi (Cure Peace), Nao (Cure March) e Reika (Cure Beauty), a professora passa aos alunos uma tarefa escolar aparentemente simples: perguntar aos pais o motivo de terem recebido seus nomes. As meninas se empolgam, mas só uma delas não parece muito animada: Yayoi.
A cena passa para o apartamento onde Yayoi vive com sua mãe, Chiharu. A jovem estudante começa a preparar o jantar enquanto Chiharu chega do trabalho e depois também vai cozinhar. Questionada por sua filha da razão de terem dado esse nome a ela, Chiharu conta que isso foi ideia de Yuuichi, pai de Yayoi, que ver ao rosto dela quando nasceu, decidiu que esse seria o nome da menina e fez de tudo para que fosse assim. Só que Yuuichi faleceu quando Yayoi tinha apenas cinco anos de idade e somente ele sabia o motivo de ter feito isso. De acordo com Chiharu, Yuuichi era um homem um tanto desajeitado para expressar seus sentimentos e por isso nunca havia lhe contado o porquê desse nome, mas mencionou que havia dito à Yayoi uma vez. Infelizmente, Yayoi não se lembra de nada por isso ter acontecido quando ela era muito pequena e, sem saída para essa situação, procura no dicionário o significado do seu nome. Ela vê que "Yayoi" é como o mês de Março era chamado antigamente no Japão. Um mês em que as plantas começam a se desenvolver. E é isso que ela anuncia na aula do dia seguinte.
Yayoi mente mais uma vez, mas neste caso não há outra saída. |
Na volta para casa, Yayoi é questionada por suas amigas, que perceberam que havia algo errado. Yayoi conta a verdade e também revela que tem medo de que suas lembranças com seu pai estejam desaparecendo com o tempo. Então, ela é aconselhada a procurar sua mãe e perguntar mais uma vez se não há outra pista.
Yayoi vai à um desfile de moda comemorativo do Dia dos Pais, organizado pela butique Fairy Drop onde Chiharu trabalha. Ela então mostra a Yayoi algo que Yuuichi tinha como seu tesouro mais valioso: uma carta escrita "Papai, obrigada", com um desenho e um origami de uma raposa, um presente que Yayoi havia dado a ele no Dia dos Pais. Nisso, o local do desfile é atacado pelo vilão Wolflun, que usa o feitiço do Final Infeliz para coletar as energias negativas das pessoas e transforma o origamide Yayoi em um monstro Akanbey. As meninas, que seguiram Yayoi, se juntam a ela e se transformam para deter essa ameaça.
As Cures lutam com todas as forças, mas o Akanbey é poderoso. Yayoi entra em desespero ao ver o objeto que representava o amor dela por seu pai transformado em um monstro e avança para cima dele. Ela hesita ao sobrepor a lembrança de seu pai ao monstro e é rechaçada. Ao ver o chão, percebe que estava em um lugar que ela havia visitado antes, com seu pai: uma rua de paralelepípedos que dava para uma igreja. E ao vê-la, Yayoi finalmente se recorda do dia em que seu pai lhe contou o motivo de ter dado esse nome a ela e percebe o quanto ele a amava. Reanimada, ela reage e derrota o Akanbey.
Yayoi finalmente se recorda de tudo. |
Normalmente é assim. |
Mas não desta vez! |
Ao se reencontrar com sua mãe, Yayoi lhe conta tudo e que com isso percebeu o quão forte era o amor de Yuuichi por ela e também por Chiharu. E a partir daí passou a gostar muito mais do seu nome.
Papai, obrigada... |
Muito mais que um rostinho fofinho
Vamos começar pela conclusão: esse é o episódio mais lindo da série. Yayoi, que até então muitos achavam que se tratava de uma menininha bonitinha e nada mais, tinha uma ferida profunda no coração. Disse na descrição dela em outra matéria que ela se mostrava alegre diante de sua mãe para não preocupá-la e é nesse episódio que isso aparece mais. E isso se estende a suas amigas. Ao ser questionada sobre seu pai, ela mostra um sorriso. Mas suas amigas são próximas o suficiente para notar que Yayoi não sorri de todo o coração e que ela sofre por dentro. Yayoi é mostrada em um estágio em que ela já aceitou a morte de seu pai, mas ainda assim tem inseguranças que afloram quando surge a questão da origem do seu nome.
Uma pequena mentira para não preocupar suas amigas, mas que machuca a si mesma |
A direção do episódio foi de Munehisa Sakai, que foi o diretor principal na série anterior, Suite Precure♪ e mais tarde em Sailor Moon Crystal. Desta vez ele proporcionou um episódio altamente rico e bem construído. Os efeitos dramáticos são dignos de nota, como por exemplo a chuva permeando todo o episódio, como que refletindo o conflito dentro do coração de Yayoi, que pára quando ela relembra o passado e ganha forças para vencer. Falando assim parece algo simples, mas a execução é impecável. As cenas com chuva em que Yayoi fala de suas inseguranças têm as cores com baixo brilho e contraste, com cores esmaecidas e escurecidas, contribuindo para o clima um tanto depressivo. A luz também é muito bem utilizada para demonstrar os seus estados de espírito. E existem elementos espalhados no cenário com metáforas.
Cenas escuras, com cores esmaecidas. |
Metáfora de que algo é passado de pessoa para pessoa. |
Filhotes no ninho esperando pelos pais. |
As memórias parecem desaparecer... |
... mas não completamente! Esse contraste de cenas é magnífico! |
A cena de luta com o Akanbey também tem ótima execução. Ela é bem dinâmica e acontece no meio da chuva, com o chão molhado e isso é bem mostrado com os rastros na água quando são dados passos, pulos ou quando as Cures deslizam pelo solo. O mesmo acontece quando elas são derrubadas pelo Akanbey e quicam no chão, espalhando respingos. A cena é até meio violenta, com a Cure Happy sendo arremessada em um poste e batendo de costas.
Combinação de ataques! (esta animação não é de minha autoria). |
E existem brincadeiras de cenário. Fairy Drop é a butique da mãe de Erika Kurumi, a Cure Marine de Heartcatch Precure!. No desfile é tocada a versão instrumental da Character Song de Erika, Special*Colorful, e Chiharu menciona uma certa "Sra. Kurumi", que estaria indo comparecer. No fim ela não aparece, mesmo porque não há espaço para isso na história, mas foi um bom serviço para os fãs da franquia.
A marca Fairy Drop continuaria a aparecer em outras séries, como a atual, Go! Princess Precure. |
O episódio é de Yayoi, mas as meninas também demonstram sua personalidade, especialmente quando elas falam o motivo de seus nomes, que são bem apropriados. E também aparecem alguns dos pais delas. Geralmente é Yayoi quem faz as cenas cômicas do desenho, mas desta vez essa função é de Miyuki. Mesmo assim isso é feito de forma discreta e não prejudica o ritmo da narrativa.
Uma discreta pitada de humor. Os guarda-chuvas têm as cores-símbolo de cada uma. |
O pai de Akane, Daigo (Masaki Terasoma) já apareceu em outra ocasião. |
Tenho certeza de que Nao puxou o pai, Genji (Nobutoshi Kanna). |
Chiharu (Kyouko Hikami), mãe de Yayoi, também reaparece com importância na trama. |
Os atores também fazem um excelente trabalho. Hisako Kanemoto, a atriz que faz a Yayoi, colocou bastante sentimento em sua interpretação. A voz é bonitinha, mas tem a emoção necessária para representar a insegurança, a dor e depois a coragem e a felicidade da personagem.
E não se pode deixar de citar a música. O som de fundo mais frequente é o da chuva caindo, mas as músicas são colocadas nos momentos apropriados. A canção em coro que toca quando Yayoi se lembra de sua infância é impressionante e colocada de forma perfeita, de modo que a parte mais forte seja tocada exatamente no momento em que a heroína recupera totalmente suas memórias. Isso aumenta em muito a carga emocional e é o gatilho para a ruptura do canal lacrimal. Mais um elemento dramático colocado com maestria!
Lição para os filhos, Lição para os pais
Vale relembrar o que se passava no Japão na época em que este episódio foi feito. O Grande Terremoto de 2011 era ainda recente na memória e Smile Precure! foi concebido para animar as crianças depois dessa tragédia. Aqui é mostrado que mesmo Yayoi, chorona e aparentemente a mais frágil do grupo, passou pela amarga experiência de perder um ente querido em tenra idade. Mas ainda assim, ela demonstra força de espírito, em que é possível superar as perdas e continuar vivendo. Ela tem lembranças de seu pai falecido, mas não fica presa a elas e tenta buscar o futuro. Mesmo assim, isso não quer dizer que ela deixou o passado para trás. Essas lembranças são o que lhe dão força e a fazem continuar. Não são contadas as circunstâncias em que o pai de Yayoi morreu. Provavelmente porque queriam que cada criança que passou pela mesma experiencia se espelhasse em Yayoi.
Outro contexto é que na época vieram a tona crianças que tiveram nomes estranhos dados pelos pais. Eram nomes bastante excêntricos para se dizer o mínimo. Um exemplo seria 王子様 (Ouji-sama, ou "Sua Alteza, o Príncipe"), assim mesmo, com o sufixo de tratamento "-sama". Mais um exemplo: "Pochi", que é um nome dado para cachorros, mas foi dado a um menino. E também há aqueles com ideogramas de difícil leitura e que muitas vezes são usados de forma inapropriada. Esse tipo de nome foi chamado pelos internautas japoneses de DQN Name (DQN é uma gíria pejorativa para designar desajustados, revoltados e/ou pessoas com pouca inteligência, sendo que a pronúncia é "Dokyun" ), e eufemisticamente pela imprensa de Kira Kira Name (algo como "Nome Brilhoso"). Isso se tornou um problema social, já que muitas dessas crianças eram alvo de zombaria pelos colegas. E esse episódio demonstra o peso de um nome a ser dado aos filhos, pois é algo que eles vão carregar pelo resto de suas vidas. E nesse caso, foi uma mensagem que perdurou até depois da morte.
- O nome é a primeira prova de amor dada pelos pais a seus filhos.
Sábias palavras, Reika.
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Digo e repito: este episódio é lindo! Ele traz uma história triste, mas bonita e com uma mensagem de esperança. Algo que talvez as crianças (pelo menos a maioria, na verdade assim espero) ainda não vão entender, mas os adultos sim, cumprindo a premissa do produtor Atsutoshi Umezawa. E os outros elementos não são deixados de lado. A cena de luta é espetacular, movimentada e até um pouco violenta, mostrando que Precure não é só um desenho com meninas bonitinhas fazendo coisas fofinhas. E ainda existe um espaço para comicidade, mas dosada de modo a não interferir no clima da história. Também é feito um pequeno serviço para os fãs ao indicar que o mundo de Smile Precure! tem conexão com o de Heartcatch Precure! e quem sabe, com Go! Princess Precure. Em suma, um episódio completo, recheado de sabor, ainda que um pouco amargo. Choro toda vez que vejo, mas não derramo aquelas lágrimas de ódio e tristeza que verti em Puella Magi Madoka Magica ou Gakkou Gurashi!. São de emoção, de catarse, como em Ultraman Mebius & Ultraman Brothers - Yapool Ataca. E mais uma vez reitero que gosto de todas essas obras citadas, que me marcaram muito.
Logo deve estrear Glitter Force no Netflix, que é uma adaptação americana de Smile Precure!feita pela Saban. Pelo que soube vai ter menos episódios, o que quer dizer que alguns serão cortados. Talvez este seja um deles, por ter uma temática que não é muito abordada neste lado do mundo em desenhos infantis, o que seria uma pena. Mas espero estar errado mais uma vez. Talvez se o nome americano de Yayoi fosse "Marcy" ou pelo menos "April"... Mas até lá...
O Tesouro de Yayoi. O Tesouro de Yuuichi. O Tesouro de Chiharu. |
Em tempo, o episódio foi escrito por Shouji Yonemura, roteirista considerado maldito por muita gente e até mesmo tratado como criminoso por elas, acusado de ter "estragado" várias séries. É ele o roteirista das séries de filmes Super Hero Taisen, que de fato não são muito elogiáveis. Mas eu o considero apenas como um roteirista com altos e baixos acentuados. Para mim, este episódio e o número 26 de Doki Doki! Precure, em que é retratada a aproximação de Rikka Hishikawa, a Cure Diamond, com o menino-vilão Ira o redimem de todo e qualquer episódio ruim que ele tenha feito.
Nunca vi Precure, mas pelo seu resumo tenho certeza que gostaria de ver esse episódio. Confesso que tenho uma certa queda para o drama - alguns dos meus episódios favoritos de tokusatsu e mesmo anime pendem para esse lado.
ResponderExcluirEmbora a televisão não deva ser encarada como substituta dos pais/escola, acho salutar que produções voltadas a crianças mostrem que a vida nem sempre é feita apenas de momentos felizes.
Sobre o Yonemura: realmente os roteiros dos filmes que ele escreveu sejam fracos, não dá para negar que ele mostrou talento em determinados episódios de Kamen Rider Kabuto e principalmente na série Shibuya Fifteen.
Obrigado, Ricardo!
ExcluirPelo menos esse episódio acho que vale a pena conferir. O bom de Smile Precure! é que tudo é fácil de entender e dá para entrar a partir de qualquer episódio. O fato das histórias serem auto-contidas em sua maioria também ajudam para ver episódios soltos. E esta série tem umas piadas com referências bem interessantes de outras franquias de Heróis como Kamen Rider e Ultraman.
O aspecto de mostrar as partes duras da vida são bem presentes em outra série da franquia, Heartcatch Precure!. Orfandade, morte sem retorno, complexos psicológicos... Tudo isso é mostrado, ainda que com toques de comédia (não se trata de humor negro) a começar pelo traço.
Eu notei que o Yonemura é bom para histórias que envolvem família. Acho que ele estava indo muito bem no Rider Taisen de 2014, com a linha de história do X com o 555 e com o Decade e o W. Mas justo isso de ter que fazer um conflito Showa vs Heisei acabou estragando tudo. Bom, alguém com altos e baixos acentuados.
Este é, sem sombra de dúvidas, o episódio mais bonito da franquia. Levando em consideração as temporadas mais recentes até hoje. Lembro de quando acompanhei a transmissão de Smile! Precure, a cada semana era derramado litros de lágrimas. Interessante fazer menção a estes detalhes, na época não havia notado tantas sutilezas. E dá pra ver o empenho da equipe por trás de tudo, pensaram nos mínimos detalhes. Entre algumas histórias com alta carga emocional, Miyuki, Akane, Nao, Reika e Yayoi, esta em questão foi a mais sensível. Acredito que deve ser também por essa razão que a Peace se tornou tão popular, e assim vários modelos de produtos acabaram sendo lançados. Este paralelo abordado aqui no blog com relação a catastrófe e a série sempre me faz pensar no quão importante deve ter sido para os mais afetados, uma mensagem acolhedora.
ResponderExcluirE o bacana de ler esta matéria escrita em 2015, é perceber que o Sakaguchi Shuhei retornou pra franquia em 2022 com mais participação. Excelente matéria e bonita coleção de BDs!
Obrigado, Melissa!
ExcluirMesmo depois de tanto tempo ainda choro vendo este episódio. Especialmente na parte da revelação do motivo do nome. A direção é muito boa, nesses detalhes no cenário, trazendo várias mensagens e que também reflete os sentimentos da personagem. Realmente é um primor!
A Peace já era popular desde antes do desenho começar, quando as personagens foram anunciadas, já que ela era bem bonitinha. E depois desse a popularidade dela foi para a estratosfera. Esse é mais um exemplo de que Smile! tinha algo a ser passado para as crianças.
É verdade! O Narcistoru é interpretado pela mesma pessoa que foi o Yuuichi! E ele está indo muito bem fazendo um personagem que é totalmente o oposto do pai da Yayoi. E eu me pergunto por que o Narcistoru é tão malvado e por que ele fica incomodado em ver a felicidade das pessoas comendo. Quem sabe explicam o motivo.
Sim, sim, e que ótimo episódio, com minha favorita de Smile, um dos pontos mais altos da obra, ótima resenha e como sempre obrigadão pelas curiosidades.
ResponderExcluirVdd
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