Terminei de ler a versão literária de Heartcatch Precure!, escrita por Takashi Yamada, roteirista que também foi o compositor de série no desenho animado. Abaixo segue um resumo e impressões.
Obs.: contém detalhes sobre os rumos da trama, tanto do livro quanto do desenho.
Heartcatch Precure!: Episódio 0
Obs.: contém detalhes sobre os rumos da trama, tanto do livro quanto do desenho.
Heartcatch Precure!: Episódio 0
Heartcatch Precure!: Episódio 0
Yuri Tsukikage era uma jovem que estudava no Ginásio Myoudou. Ela gostava de flores e sempre ia ao Jardim Botânico de sua cidade, Kibou ga Hana, administrado por Kaoruko Hanasaki, e que era o local de trabalho de seu pai, o renomado botânico Hideaki Tsukikage. Mas um dia, ele desapareceu em uma expedição em busca da lendária Grande Árvore do Coração, que seria a fonte da energia vital da Terra. Hideaki foi visto pela última vez na França, mas as buscas por ele foram infrutíferas. Mesmo com a ajuda de Kaoruko, que tinha contatos na Interpol, não foi conseguida nenhuma pista sobre seu paradeiro.
Yuri retorna para casa desconsolada e retoma sua vida, mas sente que alguém a observa, tanto no banho quanto em suas atividades escolares. Uma semana depois, surge diante dela Cologne, um Mascote que diz ser um emissário da Grande Árvore do Coração e pede que ela se torne uma Precure, uma Guerreira Lendária que luta conta os Apóstolos da Desolação, um povo alienígena errante que transforma mundos inteiros em desertos, um ambiente mais propício para sua espécie, e os abandonam depois de usar todos os seus recursos. Eles tentam invadir a Terra há 400 anos, mas sempre são detidos pelas Precure. Yuri a princípio fica confusa, mas vê nisso uma oportunidade de encontrar seu pai perdido, uma vez que ele estava em busca da Grande Árvore, e aceita a oferta de Cologne, que já avisa que não pode prometer nada. Ela então assume o nome de Cure Moonlight, por gostar da Sonata ao Luar de Beethoven.
Cologne mais tarde revela que Kaoruko era a Cure Flower, a Precure antecessora que há 50 anos atrás deteve sozinha a onda anterior dos Apóstolos da Desolação e selou o poder maligno do líder deles, Dune, em um pingente, forçando-o a se retirar. E ela só venceu ao usar um item de reforço, o Heartcatch Mirage, conseguido após uma luta mortal com sua antecessora, Cure Rose, seguindo os costumes Precure. Kaoruko um dia foi a mais jovem campeã do Torneio Nacional de Karatê e pretendia seguir esta carreira, mas a luta contra os invasores alienígenas causou danos irreparáveis a seu corpo e ela teve que abandonar esse sonho, passando a se dedicar à outra área de interesse, a botânica.
Kaoruko não quis que Yuri passasse por algo parecido e à princípio se opõe à ideia. Ela inclusive impõe a condição de que Yuri passe por um rigoroso treinamento administrado pela própria Kaoruko, esperando que a jovem desistisse no caminho, mas não foi isso o que aconteceu. Yuri consegue aprender todas as técnicas de Karatê que Kaoruko conhecia e com isso ganha a aprovação da Cure antecessora.
Kaoruko aconselha Yuri a aprender o estilo de luta do dojo Myoudouin, para aprimorar suas técnicas de defesa, mas isso acaba não acontecendo, pois os Apóstolos da Desolação retornam à Terra, com novos Generais liderados por um misterioso homem mascarado, o Dr. Sabahku. Yuri então se torna a Cure Moonlight e enfrenta esses inimigos sozinha por dois anos.
Para combater Cure Moonlight, o Dr. Sabahku ordena a uma de suas criações, a Dark Precure, que investigue sobre a Heroína e descubra sua verdadeira identidade. Dark Precure tem êxito em sua missão e relata sua descoberta ao Dr. Sabahku que, por algum motivo então instrui sua criação a não enfrentar Cure Moonlight e ao invés disso procurar pela Grande Árvore do Coração, que muda de lugar quando necessário. Dark Precure obedece, mas ao mesmo tempo faz investigações por conta própria e seu ódio por Cure Moonlight aumenta a cada dia.
Quando Yuri consegue reunir uma boa quantidade de Sementes do Coração ao salvar as pessoas que eram transformadas em monstros Desertrians pelos Apóstolos da Desolação, ela consegue o direito de passar por uma prova para ganhar o Heartcatch Mirage. Mas antes é chamada pela Grande Árvore e ela vai, esperando que sejam notícias sobre seu pai. Ao contrário de suas esperanças, Yuri ganha a guarda de dois novos Mascotes, Chypre e Coffret. Mas nisso, ela é encontrada pela Dark Precure e pelo Dr. Sabahku, que matam Cologne, derrotam Cure Moonlight e fazem secar as flores da Grande Árvore. Yuri então pede a Chypre e Coffret que procurem por alguém que possa levar sua missão adiante.
A Versão do Autor - O que não foi contado no desenho
Este foi um resumo dos dois primeiros capítulos, que contam como Yuri Tsukikage se tornou a Cure Moonlight, assim como os eventos que se passam até sua derrota na introdução do primeiro episódio do desenho. Ou seja, seria mais ou menos um "Heartcatch Precure! Zero".
Essa parte da história tem muitos elementos dos desenhos do século XX, tendo como protagonista uma heroína estoica e determinada, que passa por rigorosos treinamentos e tem a missão de proteger o mundo enquanto procura por seu pai perdido. As situações também remetem a essa época, como por exemplo com Yuri tomando banho e depois perguntando a Cologne se ele a viu nessa hora, quando os dois se encontram pela primeira vez (Cologne alega que "até a seguiu, mas não a viu sem roupa"). A primeira luta com Dark Precure é violenta, com Yuri sangrando pela boca após levar um golpe no rosto, que fica inchado por um bom tempo.
Também é contada a origem dos Três Generais dos Apóstolos da Desolação, que foi mencionada por Futago Kamikita na versão em quadrinhos do desenho. Mas existem mais detalhes, como por exemplo com Sasorina, que foi feita do DNA de um escorpião com a Flor do Coração de uma jovem que trabalhava como cuidadora em uma creche, mas que foi a responsável por um acidente que causou a morte de uma criança e acabou perdendo a sanidade após sofrer com as chamadas "sanções sociais". Uma história bastante trágica, que não foi e nem poderia ser contada no desenho animado.
Outro ponto interessante é que é contado mais sobre a Dark Precure. Ela teria sido feita com uma amostra das células da Grande Árvore e um fio de cabelo que o Dr. Sabahku guardava como amuleto. Mas por ter sido desenvolvida às pressas, uma de suas asas se atrofiou até desaparecer. Dark Precure via Sabahku como um pai e essa seria sua motivação para servi-lo. Porém, o sentimento não era recíproco e Sabahku até mesmo a proibia de chamá-lo de "pai". Parte da história é contada com seu ponto de vista e com isso é possível saber o porquê de suas ações no desenho animado. Isso também é mostrando em diálogos adicionais (ou que foram tiradas da versão final do desenho) no confronto final com a Cure Moonlight.
Os capítulos seguintes seguem os eventos do desenho, mas intercalando partes mostrando como Yuri viu cada acontecimento. É contado como ela se irrita com a imprudência de Tsubomi e Erika, ao deixar as Mascotes desprotegidas, e também pelo fato delas vencerem apenas usando os poderes Precure, sem qualquer tentativa de aprimoramento de suas próprias técnicas. E ao mesmo tempo, Yuri ainda está abalada pelo que aconteceu com ela e com Cologne e tenta se afastar da luta e também para não deixar sua mãe sozinha. Mas isso muda com o desenvolvimento da história e ela consegue de volta seus poderes.
Pode-se dizer que o livro é Heartcatch Precure! como o compositor da série, Takashi Yamada, queria que fosse. Como visto até então, existem vários elementos que não poderiam ser mostrados na série de TV devido aos rígidos códigos de conduta das emissoras para programas voltados para crianças exibidas nas manhãs de domingo. E existem mais detalhes sombrios.
Um deles é o passado de Dune, o líder dos Apóstolos da Desolação. Quando criança, aos sete anos de idade, ele quase foi morto por seu pai, que se deixou levar pelas palavras de uma madrasta, que via Dune como um empecilho para que seu filho sucedesse a posição de líder. A babá de Dune percebeu a trama e tentou levá-lo para longe, mas ela foi morta diante dos olhos do menino, que para se vingar, fez um pacto com um demônio, ganhando uma enorme força, e cortou em pedaços seu pai, a madrasta e seu meio-irmão, assumindo o poder. E uma das razões dele querer invadir a Terra é a de superar seu pai, que não conseguiu dominar o planeta devido à interferência das Precure.
E existem detalhes um pouco mais violentos e sangrentos. O lugar onde Cure Moonlight enfrenta Dark Precure pela última vez no desenho seria uma arena onde Dune se entreteria com lutas entre prisioneiros de planetas invadidos pelos Apóstolos da Desolação. O local é descrito como tendo manchas de sangue em vários pontos. E existe uma cena em que Cure Moonlight mais uma vez sangra pela boca, desta vez após levar um chute de Dark Precure no estômago. Por razões óbvias, tudo isso foi eliminado na versão final exibida na televisão.
No livro figura a cena em que, antes do confronto final com Dune, as Precure se banham em uma fonte termal que existiria em um espaço dentro do lendário Mascote Grande Coppe, mencionada por Futago Kamikita e que aparece na revista infantil Tanoshii Youchien, mas que acabou não sendo feita por falta de espaço. Lá, Yuri finalmente consegue se desabar em lágrimas após cumprir seu intento e encontrar seu pai após longos três anos e também devido aos eventos que ocorreram na luta decisiva com a Dark Precure. E é nesta cena também que as Cures falam de como se desenvolveram durante todo esse período e do que pretendem fazer depois da luta, de seus sonhos. Parte desses diálogos foram usados na cena da batalha final com Dune. O final também é um pouco diferente, contando o que aconteceu com cada uma das Cures dois anos depois. Itsuki em especial segue uma carreira bem inesperada: a de modelo, como Miki Aono (Cure Berry, de Fresh Precure!) e Kirara Amanogawa (Cure Twinkle, de Go! Princess Precure).
Cópia e Cola
É um pouco difícil dizer que este livro é um "romance", se parecendo mais com uma compilação de roteiros. Existem descrições de lugares, mas elas são mínimas e por isso é preciso ter um pouco de imaginação para vislumbrar as cenas. Isso sem falar que o livro não tem nenhuma ilustração, a não ser a capa, desenhada por Yoshihiko Umakoshi, o desenhista de personagens da série. Por outro lado, as lutas são bem escritas, com descrições das ações de cada personagem.
Existem outros problemas, como erros de continuidade e até mesmo de caracterização. Um exemplo é Kaoruko, que nos primeiros capítulos fez uma forte oposição à ideia de Yuri se tornar Precure, por saber dos perigos que isso implica e por isso teria imposto aquelas duras provações, esperando que Yuri desistisse. E ela viu Yuri perder Cologne e com isso sofrer um grande trauma. Mas quando Chypre e Coffret transformam Tsubomi, neta querida de Kaoruko, em Precure, ela não faz oposição e nem repreende os Mascotes por isso. Talvez ela tivesse se resignado ao ver que se tratava de fato consumado e também por ser necessário que alguém detivesse os Apóstolos da Desolação, mas não é feita nenhuma descrição sobre o que se passa em sua cabeça nesse sentido.
Outro erro de continuidade é que assim que Tsubomi chega em Kibou ga Hana, Kaoruko conta a ela sobre Erika, que moraria na butique vizinha à nova casa da menina, mencionando inclusive seu nome completo e que ela estudava no Ginásio Myoudou, o mesmo que Tsubomi iria frequentar. Kaoruko chega até a levar sua neta para conhecer Erika, mas esta teria se ausentado e as duas se limitam apenas a cumprimentar os pais dela. Mas quando Tsubomi chega na escola, ela age como se nunca tivesse ouvido falar de Erika e até se surpreende quando descobre que ela é sua vizinha. E no caminho, ela até se refere a Erika como "Srta. Kurumi", demonstrando que sabe seu sobrenome. Se houvesse uma linha com Tsubomi dizendo algo como "Então essa é a Erika?", isso poderia ter sido solucionado.
A participação de Itsuki é bastante reduzida. O seu conflito e sua história são resumidos em poucas linhas, o mínimo necessário para explicar a personagem. O primeiro contato direto de Tsubomi, Erika e Itsuki com a Grande Árvore, que acontece logo depois da transformação de Itsuki em Cure Sunshine, foi cortado também, o que acabou sendo sentido nos capítulos finais, quando surgem elementos que só são explicados por esse evento.
Logo nos primeiros capítulos são feitas muitas revelações do que seriam as grandes surpresas do desenho, como a verdadeira identidade dos Apóstolos da Desolação, do Dr. Sabahku, de Dark Precure, que tem apontada por Sasorina uma semelhança física com Cure Moonlight, e do jovem misterioso que vem salvar as Precure nos momentos de maior perigo. Assim, é necessário ter visto o desenho para entender algumas partes.
Em uma primeira leitura, a impressão que tive era que Yamada havia feito uma história básica e depois copiado e colado os roteiros que ele escreveu para a série de TV, sem qualquer revisão ou adequação. Nisso pude sentir a veracidade das palavras de Yuji Kobayashi sobre o fato de se existir uma diferença entre escrever roteiros e escrever romances. E o que Yamada faz é realmente uma costura de vários roteiros. Tanto que pude notar várias repetições, como nas cenas de transformação e nos golpes especiais, em que todas as vezes são usadas quase as mesmas frases para descrever, o que chega a ser enfadonho.
Mas depois de ler mais uma vez, compreendi o porquê de ter sido feito desse jeito. Compilar uma série de 49 capítulos em um único livro é uma tarefa árdua e então acabou sendo necessário selecionar apenas os pontos mais importantes. A intenção era a de contar a série na visão de Yuri/Cure Moonlight, e nisso o livro tem sucesso.
Assim como a versão em quadrinhos, esta versão literária não consegue passar de ser um item para fãs, sem conseguir substituir o desenho animado. Mas no total foi uma boa leitura, que ajudou a me aprofundar no universo de Heartcatch Precure!. Pude conhecer vários elementos e conceitos que não foram ou não puderam ser mostrados no desenho animado e isso já valeu a pena. De fato, em alguns pontos pude ver a versão integral dos roteiros, sem revisões por parte do diretor ou de outros membros da equipe, e até com mais falas. Ou seja, uma boa complementação do desenho, embora peque pela forma.
O livro não é muito complexo e pode ser lido sem grandes problemas por quem tem conhecimento intermediário do idioma japonês. Os ideogramas mais difíceis ou incomuns têm a leitura do lado. O formato é de livro de bolso e a história em si tem aproximadamente 310 páginas, com um máximo de dezesseis colunas e quarenta caracteres cada. Claramente não se trata de um livro feito para o público-alvo original da série. Por isso recomendo cuidado para quem pretende comprar.
Nos Bastidores - O Roteirista Takashi Yamada
Takashi Yamada é um roteirista japonês que trabalhou em várias séries de animação de Meninas Mágicas, como Akazukin Chacha e Ojamajo Doremi, e de Super Heróis, como Kamen Rider e Metal Heroes. Seus trabalhos abordam vários problemas sociais e costumam trazer temas um tanto pesados, mesmo em obras feitas para crianças. Algumas vezes ele assina como Midori Kuriyama e K.Y. Green. Yamada tem pouca projeção, mas fez algumas de minhas histórias favoritas. Infelizmente existem poucos dados sobre ele, então contarei minha experiência com suas histórias com uma visão puramente pessoal.
Seu primeiro trabalho foi como um dos roteiristas no desenho animado 宇宙空母ブルーノア (Uchuu Kuubo BLUE NOAH, "Porta-Aviões Espacial"), de 1979, produzido por Yoshinobu Nishizaki como um sucessor do lendário Space Cruiser Yamato (conhecido no Brasil como Patrulha Estelar), mas que acabou não cumprindo seu intento e nem ganhou tanta popularidade.
O trabalho mais antigo que eu vi de Yamada foi em Zillion, de 1987, em dois episódios antológicos. Um deles foi com a menina Addy (Mary, aqui no Brasil), uma mentirosa compulsiva, que no episódio faz com que o protagonista JJ entre em situações constrangedoras devido às suas mentiras. O teor é de comédia, mas é revelado que Addy carrega um trauma muito pesado: ela presenciou a morte de seus pais pelas mãos dos alienígenas Noza. Incapaz de aceitar a morte deles, Addy passa a mentir constantemente.
Seu primeiro trabalho foi como um dos roteiristas no desenho animado 宇宙空母ブルーノア (Uchuu Kuubo BLUE NOAH, "Porta-Aviões Espacial"), de 1979, produzido por Yoshinobu Nishizaki como um sucessor do lendário Space Cruiser Yamato (conhecido no Brasil como Patrulha Estelar), mas que acabou não cumprindo seu intento e nem ganhou tanta popularidade.
O trabalho mais antigo que eu vi de Yamada foi em Zillion, de 1987, em dois episódios antológicos. Um deles foi com a menina Addy (Mary, aqui no Brasil), uma mentirosa compulsiva, que no episódio faz com que o protagonista JJ entre em situações constrangedoras devido às suas mentiras. O teor é de comédia, mas é revelado que Addy carrega um trauma muito pesado: ela presenciou a morte de seus pais pelas mãos dos alienígenas Noza. Incapaz de aceitar a morte deles, Addy passa a mentir constantemente.
Em outro episódio, Apple tem uma amiga, Françoise, assassinada pelos Nozas. Antes de morrer, Françoise deixa com Apple seu filho, Johnny, que guarda uma valiosa informação sobre os Nozas e com isso tem início uma eletrizante fuga com a tropa de elite inimiga, os Noza Warriors (Cyber Metal) no encalço. Nesses dois episódios vemos elementos bastante recorrentes nos roteiros de Yamada: crianças perdendo seus pais diante de seus olhos.
Eu conheceria o nome de Yamada em Super Equipe de Resgate Solbrain, de 1991, ao ver o episódio 20, "A Triste Algema", que conta a história de David Kosugi, que foi o instrutor do herói Daiki Nishio/Solbraver. A filha adotiva de Kosugi é morta por um bando de arruaceiros, que não são presos pois um deles é filho de um político importante. Kosugi jura vingança e faz justiça com suas próprias mãos, usando os métodos que um dia ele ensinou a Daiki, que é forçado a prendê-lo, mesmo compreendendo seus motivos, o que deixa o herói frustrado. Um episódio que mostra o quão duro e até mesmo o absurdo é ter que fazer as coisas pela lei... mas mesmo assim deve ser feito, pois é o correto. Me perguntei quem escreveu uma história assim para um programa voltado para crianças e nisso notei o nome dele e passei a admirá-lo.
Eu encontraria esse nome mais tarde em Battle Fighters Fatal Fury, adaptação em desenho animado do jogo homônimo da SNK, que consistiu em dois especiais para TV em 1992 e 1993 e que rendeu um longa-metragem para cinema, Fatal Fury - The Motion Picture em 1994. No primeiro, me pareceu que Yamada não tinha muitos dados sobre os personagens, sendo que alguns deles ficaram diferentes do que eu imaginava: um Terry Bogard paquerador, um Andy Bogard impaciente e um Joe Higashi sem muita personalidade. Mas já apareciam traços dos elementos característicos do roteirista, como o drama das crianças de rua, incluindo Lily McGuire, interesse romântico de Terry e protegida do vilão Geese Howard, que o trai para se redimir de sua participação na morte do pai adotivo do herói. Foi nessa que eu aprendi como se diz "me dá uma esmola" em japonês.
No segundo especial de TV, Yamada já conseguiu pegar o jeito dos personagens, colocando elementos que acabaram influenciando até mesmo o jogo original, como a paixão desenfreada de Mai Shiranui por Andy, o lado cômico de Joe e mostrando Kim Kap Hwan como um lutador honrado e polido. A relação entre os vilões Geese e seu meio-irmão, Wolfgang Krauser, remete ao que foi contado sobre Dune no livro de Heartcatch Precure!. O sucesso foi tão grande que foram enviadas mais de duas mil cartas para a emissora elogiando a obra, algo impressionante, considerando que foi exibida em uma época em que a internet não estava tão desenvolvida e dava mais trabalho contatar a emissora.
Isso motivou a criação de The Motion Picture, desta vez dirigido pelo desenhista de personagens, Masami Obari. Nisso, Yamada conseguiu fazer uma história totalmente original, sem se basear em nenhum dos jogos da franquia usando bem os personagens e com oponentes igualmente carismáticos e memoráveis, com bastante dramaticidade, se tornando na minha opinião a melhor obra baseada em jogos da época. Todas essas adaptações ficaram tão boas que parecia que o jogo tinha vindo do desenho e não o contrário. Até mesmo as vozes de Andy e Joe foram mudadas em jogos subsequentes, chamando os dubladores do desenho animado para reprisar os personagens.
E finalmente eu o reencontraria em Heartcatch Precure!, em que ele mais uma vez equilibra a dramaticidade com o cômico. Um verdadeiro resumo de sua obra, mostrando uma história que parece ser inocente, mas na verdade tem um tema bem pesado: os complexos do Coração. A dramaticidade da linha de história de Cure Moonlight também chamou minha atenção. As interações entre Tsubomi e Erika também eram excelentes, assim como o conflito interno de Itsuki e como ela aprendeu a lidar com isso. E até existe uma história que trata de orfandade, mas nessa o roteiro ficou a cargo de outra roteirista, Yoshimi Narita, veterana da franquia que foi compositora de série em Futari wa Precure Splash Star, Yes! Precure 5 (e GoGo) e Happiness Charge Precure!, e que noto que segue uma linha parecida com a de Yamada em seus trabalhos.
Yamada não é um roteirista genial. De fato, suas histórias são bastante previsíveis, até com muitos elementos clichê e sem grandes reviravoltas. Mas o que me chama a atenção são os temas que ele aborda, com bastante humanismo e preocupação social. E o roteirista ousa fazer isso até mesmo em obras voltadas ao público infantil. Yamada fez muitas histórias que me fascinaram quando era mais jovem, nos anos 1980 e 1990. Em Heartcatch Precure! pude ter a oportunidade de ver mais um de seus ótimos trabalhos e com isso mais uma vez poder dizer: "Takashi Yamada é meu roteirista favorito".
Só mais uma coisinha sobre o roteirista. Em 2014 foi publicado o Precure 10 Years Official Aniversary Book, que tem comentários de todas as pessoas que trabalharam na franquia. Nesse, Yamada conta que um dia, quando estava comendo sushi em um restaurante, um policial, freguês do estabelecimento, veio para cumprimentá-lo pelo seu trabalho em Heartcatch!. A filha desse policial era portadora de deficiência intelectual e por isso teve que ser internada em uma instituição. Mas com isso, ela acabou perdendo a capacidade de demonstrar emoções, o que preocupou muito seus pais. Após ter contato com o desenho, ela passou a rir e a demonstrar mais interesse pela vida e o policial agradeceu mais uma vez o roteirista por ter feito a alegria de sua filha. Yamada percebeu nessa hora o quão grande foi a obra em que ele participou e viu qual era sua missão no mundo, prometendo fazer mais e mais boas histórias.
Excelente matéria!
ResponderExcluirEsse tipo de material adicional costuma ser bem legal pra quem é fã (os fãs de Star Wars que o digam hehehe), e achei interessante que pelo visto no caso desse livro ele é como uma expansão do material original, algo que você pode considerar parte da história principal facilmente. É diferente da "versão do autor" de Rurouni Kenshin por exemplo, que é uma reformulação da história.
O legal é que nesses livros os escritores podem se soltar mais, sem as limitações impostas pelas emissoras.
Takashi Yamada, lembro desse nome por causa dos especiais de Fatal Fury (tenho os dois em VHS XD). Gosto dos dois especiais, apesar do segundo ser muito melhor e mais fiel ao jogo (e tem a Mai que todo mundo gosta hehe). O Motion Picture eu não me lembro muito bem, tenho que reassistir esse. Uma pena que os outros trabalhos dele não fazem muito o meu estilo, então parei só nos Fatal Fury mesmo. Mas sei que ele fez Lovely Complex, que é bem elogiado, e a patroa tá sempre insistindo pra gente assistir esse. Um dia eu assisto hehehe!
Bacana essa história do policial. Imagino a satisfação do Yamada ao ouvir esse elogio, com certeza a emoção deve ir lá em cima!
E eu ainda tenho que cumprir a promessa que fiz a mim mesmo de assistir uma série Precure hehehe!
Obrigado, Ronin!
ExcluirEsse livro foi bem esclarecedor ao mostrar pontos que não ficaram claros no desenho. E com a mídia diferente, foi possível ir mais fundo na psique dos personagens, embora alguns tenham ficado para escanteio.
Eu tinha o VHS do Motion Picture, que agora não sei onde foi parar. Mas me lembro bem dos especiais para TV. Vibrei quando vi. E Lovely Complex... Pelo visto é meu destino ver esse. Teve uma matéria no Sushi POP sobre o mangá e agora sabendo que o Yamada trabalha no desenho...
Antigamente eu recomendaria o próprio Heartcatch, mas agora aconselharia ver Go! Princess Precure. A história é bem estruturada, é dirigido pelo Yuuta Tanaka, que é o melhor diretor de ação da Toei Animation... e tem a Miyukichi, é claro!
Olá, Usys 222, suas matérias são muito cativantes e me mostraram um lado que eu não havia percebido em Precure, espero que saiam mais matérias, falando sobre Suite Precure e Go! Princess Precure, que tem a Miyuki Sawashiro (Love, Love, LOVE por esta voz).
ResponderExcluirObrigado pelas matérias e espero que elas abram as portas de entrada para quem for ver a série, pois sempre recomendo para as pessoas este blog quando elas se mostram incertas ou "sem paciência" para ver Precure!
Obrigado, Caio Larry!
ExcluirPrecure é uma série muito legal e tenho gostado desde Smile!. Daí não parei mais! Fiz essas matérias para apresentar para todo mundo mesmo e agradeço por divulgar!
Pretendo falar de Suite no blog principal, quando fizer uma matéria das S.H. Figuarts da Melody e da Rhythm. Mas estou pensando se é melhor esperar pela Beat, que já está a caminho. Quanto a Go! Princess (excelente!) estou vendo se falo da versão em quadrinhos ou se espero pela Figuarts da Flora.
E tenho visto seus trabalhos no YouTube! Aquele da luta das Princess com a Twilight ficou muito bom, com cortes muito bem feitos!
Ah, eu falei um pouco sobre a Miyuki Sawashiro em uma matéria no blog principal: http://usys222.blogspot.com/2016/01/sh-figuarts-kamen-rider-kiva-la.html
As cenas de ação provavelmente vão ser bem familiares...
Agora tenho mais certeza AINDA que Heartcatch sempre vai ser o melhor precure (na minha opinião)
ResponderExcluirNENHUM outro precure me chamou tanto atençao que nem Heartcatch, só o princess, que é minha segunda temp. favorita!Ja estou quase terminando Suite e vou ver se vou gostar!
Adorei sua matéria e com certeza, eu leria o livro!
Obrigado, Bernardo!
ExcluirHeartcatch tem a mão de Takashi Yamada, meu roteirista favorito, então eu não tinha como não gostar. Princess teve um tema e seguiu até o fim com ele, com várias lições de vida que queria que mais gente visse.
Para mim, todas e cada uma das séries Precure me ensinou ou me fez relembrar de alguma coisa que eu tinha esquecido. E todas e cada uma delas me marcou de alguma forma. Por isso tenho prezo por elas.
Esses livros são muito bons mesmo. Vale a pena aprender o japonês para ler. Estou vendo agora o romance literário de Smile e me emocionando muito. É a peça final que completa a série e faz ver que tudo valeu a pena. Pretendo escrever sobre ele em breve. Mas antes...