domingo, 12 de junho de 2016

侵略!イカ娘 - Invasão! A Garota Lula (Versão em Quadrinhos)


侵略!イカ娘 (Shinryaku! Ika Musume, algo como "Invasão! A Garota Lula) é uma série em quadrinhos escrita e desenhada por Masahiro Anbe e publicada na revista Shonen Champion entre 2007 a 2016, totalizando 22 volumes.

Falei uma vez da versão em desenho animado, do qual eu gostei muito e passei a colecionar  a versão em quadrinhos também. Abaixo segue um resumo e impressões.

Informação crucial sobre os rumos da trama: A Garota Lula é uma gracinha.





A Garota Lula vem para invadir o mundo da superfície e com isso se vingar dos humanos que poluem o mar. Mas ao tentar tomar o restaurante à beira da praia Lemon como sua base, ela acaba destruindo uma parede e tem de trabalhar para pagar o conserto. Com o tempo, a Garota Lula tem contato com as pessoas e as coisas do mundo da superfície e acaba se acostumando com a vida dos humanos.

A série tinha certa popularidade, mas apenas em alguns nichos e ganhou maior propagação com a versão em desenho animado em 2010, que teve uma temporada extra no ano seguinte e mais três especiais em DVD e Blu-Ray, que vieram em pacotes especiais dos volumes 12, 14 e 17 da série em quadrinhos. O desenho, com exceção da terceiro especial em Blu-Ray, está disponível no site Crunchyroll, com legendas em português.

E além do desenho, houve vários projetos de colaboração com a personagem, como com a equipe de corridas LMP Motorsport, que concorreu no torneio japonês de Super GT com uma Ferrari F430 com estampas da Garota Lula. Mais recentemente, houve uma colaboração com o jogo Splatoon, da Nintendo feito para o Wii U, em que era possível usar as roupas da Garota Lula nos personagens, os Inklings, que eram lulas humanoides, o que faz total sentido.

Nas lombadas a Garota Lula faz várias poses e expressões, mostrando todo o seu charme.
O volumes que incluem DVDs e o Blu-Ray possuem capas diferentes das respectivas versões comuns. Tirando a capa protetora é possível ver como eram as comuns.


Um visual simples, uma história simples

"Uma comédia sobre a Invasão da Superfície em pleno verão". Esta é a premissa básica da história, contando as aventuras (desventuras?) da Garota Lula. Toda ela se passa durante as férias de verão (entre junho a agosto, no Japão), sem sair desse período, embora no começo de cada volume haja uma historinha extra, a cores, que se passa em outras estações.

O teor das histórias é de comédia, bem leve e tranquilo, embora nada que arranque grandes gargalhadas. Não se trata da Garota Lula tentar algum plano mirabolante para dominar o mundo que acaba dando errado no final, mas sim situações mais triviais, veniais, ora descobrindo como funciona um aparelho do mundo da superfície, ora uma nova brincadeira com as crianças ou qualquer outra situação engraçada. E ela quase sempre acaba se dando mal no final.

Mesmo assim é bem divertido ver a Garota Lula em suas peripécias em um mundo que deveria ser seu inimigo. A personagem é bem simpática, fácil de se familiarizar. Não é excessivamente doce e nem é irritante. Às vezes ela é atrevida, mas logo acontece alguma coisa que acaba com seus breves momentos de glória. Devido à natureza de sua missão, ela poderia ser uma "eco chata", mas esse lado é pouco utilizado, sendo que ela se limita a recolher o lixo na praia jogado por seres humanos desleixados.

A Garota Lula é bem pretensiosa...
... mas sempre se dá mal...
... e não é respeitada nem por cachorro.
"Ela faz coisas de aluno de Primário.
A aparência é de uma aluna do Ginásio.
Em matemática, ela tem um nível que supera alunos do Colegial, ou melhor, toda a Humanidade."
Um bom resumo da personagem.
- Eu vim para proteger o mar! Não me interessa o que acontece com os humanos!
A Garota Lula diz essas coisas, mas... 
... mesmo assim ela salva as crianças que estão se afogando.
- ... Não... Não precisamos que ela seja Salva-Vidas. Mesmo não sendo uma, ela está sempre olhando por nós.
Essa é a verdadeira face da Garota Lula. Uma boa menina que fica se fazendo de má, mas não consegue ser.

Igualmente simpáticos são os personagens ao seu redor, como os irmãos Aizawa, Chizuru, Eiko e Takeru. Sanae e Cindy são bem cômicas em suas tentativas de conquistar a Garota Lula. Kiyomi, amiga da Garota Lula é inocente, pura, ao ponto de ser engraçado. E também é digno de nota Goro Arashiyama (interpretado por Yuuichi Nakamura no desenho animado), o salva-vidas local, sério, dedicado à sua missão, mas apaixonado por Chizuru a ponto de tirar fotos dela escondido. Goro às vezes se torna o protagonista de alguns episódios, deixando a Garota Lula como coadjuvante, mas isso não tira nenhum mérito seu. Na verdade, é possível ter empatia pelo personagem, que também acaba se dando mal eventualmente, mas sem nunca desistir.

Goro, um cara legal e esforçado.

Novos personagens vão surgindo e cada um deles é igualmente gostável. O maior exemplo seria Keiko Furukawa (Misato Fukuen, no especial em Blu-Ray), policial feminina que vem para investigar anormalidades na praia e tem bastante prezo por seu trabalho. Porém ela é muito desastrada, o que faz com que tenha que receber ajuda da Garota Lula para resolver alguns problemas.

Keiko Furukawa, a bela policial feminina.
Usando um biquíni, pois o uniforme policial chama muito a atenção.
Só que isso deu o efeito contrário...
Ela é fã de seriados policias violentos, como Seibu Keisatsu
(referenciada como Toubu Keisatsu, mudando o ponto cardeal).


Quando Menos é Mais

O visual da Garota Lula é simples. Apenas um vestidinho branco, com alguns tentáculos na cabeça no lugar do cabelo, sapatos grandes, cartunescos, e um chapéu com o formato de uma lula. E "Garota Lula" não é um apelido dado a ela e nem a denominação de sua espécie, mas sim seu nome mesmo. Nada mais, nada menos.

- Eu sou o Take... Takezo. E você como se chama?
- -Eu sou a Garota Lula, ora lulas.
- (Ah, esse é o nome mesmo.)

Ao se criar esse tipo de história ou personagem, existe a tentação de se fazer algo mais complexo com conceitos intrincados, mas Masahiro Anbe aparentemente tenta evitar isso ao máximo. Tanto que não é revelado muito sobre como era a vida da Garota Lula antes dela vir ao mundo da superfície e pouco se sabe sobre ela, a não ser o que pode ser motivo para se fazer as histórias.

Bracelete que muda o peso.
Roupa que se conserta sozinha.
Material para piadas.
- (O que que tem dentro do chapéu dela?)
- (Ela tem algum órgão que faz tinta?)
- (Como é que ela vivia debaixo do mar?)
- (Como é que funcionam esses tentáculos?)
- (Pra começar, o que ela é?)
Eiko até se intriga, mas por alguma razão nunca pergunta diretamente...

Na verdade, igualmente enigmática é a família Aizawa. Nada se fala sobre os pais de Chizuru, Eiko e Takeru. Sabe-se que eles existem, através de leves relembranças, como no episódio do parque de diversões onde eles brincavam na infância e que iria ser fechado. E também é mostrado que há um quarto com duas camas na casa deles, que por um tempo é ocupado pela Garota Lula. Porém nunca é dito se os pais deles morreram ou se apenas estão em outra cidade.

Existe um quarto com duas camas para os pais de Chizuru e seus irmãos. Só é dito que não está em uso.
Recordação com imagens dos pais de Chizuru e Eiko.
Não é contado onde eles estão ou o que aconteceu com eles.

Em Shinryaku! Ika Musume, "menos é mais". Com isso, o leitor pode se concentrar apenas no que acontece no momento sem se preocupar com nada. Existem elementos sem explicações, mas nada disso é relevante para entender o que está acontecendo e existe abertura para a interpretação do próprio leitor.

Outro mistério: a enigmática Kozue Tanabe, que muitos fãs suspeitam ser uma "Garota Polvo".
Ela reaparece no Vol. 22 comendo takoyaki (bolinho de polvo). A princípio a suspeita é desfeita,
mas no final surge um fato que faz com que o mistério seja reaberto...


Simplicidade Estruturada

As histórias e os personagens podem ser simples, mas a composição é muito bem pensada. Como no exemplo abaixo:

- Preciso da opinião de todos para decidir sobre uma coisa. É que...

Para saber o que é essa "grande decisão" que Chizuru deve tomar, é preciso virar a página. Ou seja, a história é estruturada de modo que o momento crucial fique escondido e só seja revelado na hora certa. Pode ser algo básico, mas que é seguido por Masahiro Anbe, mostrando que "simples" não quer dizer "simplório". Existe um planejamento na hora de se fazer as histórias, sendo que os eventos não são jogados aleatoriamente. E mesmo em temas que se repetem, como os Festivais de Verão ou os Testes de Coragem, é feita uma nova aproximação.

Outro ponto a se notar é a evolução do traço do autor. No começo, o desenho era bem pesado, de linhas grossas e complexas com bastante uso de sombreamento. Com o tempo, o traço passou a ficar mais econômico, algo natural para uma série de longa duração. Mas isso não é sinal de desleixo e sim de aperfeiçoamento, pois os personagens ficaram bem mais graciosos.

Na primeira página do Volume 22, Anbe reproduziu a capa do 1 com o traço atual,
mais refinado e suave.
O traço do início, mais forte e pesado, com eventuais distorções.
Goro no começo até tinha músculos, mas era raquítico em comparação com o traço atual.

Mas existem algumas inconsistências. A mãe de Goro no Volume 1...
... e mais tarde, no Volume 11. O que aconteceu durante esse período?
Uma coisa que não muda é que os desenhos de animais são bem caprichados.
Também existem cenas dinâmicas, com perspectiva, como neste torneio com pistolas d'água.

O Autor também é uma pessoa simples. Tanto que ele conta no Twitter algumas de suas desventuras, como em uma vez em que ele perdeu um trabalho por esquecer de salvá-lo (felizmente não era algo profissional). Ele parece ser bastante receptivo, pois chegou a responder alguns de meus comentários, que eram bem triviais envolvendo purê de batata-doce, o desenho Ranma 1/2 e o jogo Garou - Mark of the Wolves da SNK. Mas eu não sei dizer se ele entende inglês ou outro idioma que seja o japonês e por isso é necessário critério e ponderação na hora de dizer alguma coisa a ele (como deve ser feito em qualquer ocasião nas redes sociais).


"Showa" dentro de "Heisei"

Ao ler Shinryaku! Ika Musume, tive uma sensação de nostalgia apesar de ser uma obra recente. É porque ele me lembra muito os quadrinhos japoneses que eu lia quando era menor, com o cotidiano de uma família comum mudado com a chegada de um ser inusitado, que podia ser um gato-robô do futuro ou um gênio preso em uma garrafa e que saía com um espirro, ou até mesmo um sapo falante que vira uma estampa na camisa de um garoto. Ou seja, Ika Musume tem o mesmo teor de obras dos anos 1970 e dos anos 1980, no fim da chamada "Era Showa" (25/12/1926-01/01/1989).

De fato, isso é o que eu chamava de "mangá" quando era pequeno. Não o Manga, como um estilo conhecido internacionalmente e nem o 萬画 (manga) proposto por Shotaro Ishinomori, mas apenas o まんが (manga), sem complicações, direto e digestivo, feito para divertir. Não algo cerebral que exige muito do leitor, mas sim uma historieta que pode entretê-lo enquanto, por exemplo, ele espera pelo lamen ficar pronto no restaurante. Segundo Kazuhiko Shimamoto, em Shin Hoero Pen, essa é a condição para uma história em quadrinhos ser boa e Ika Musume cumpre esse papel com excelência. Digo isso por experiência própria, pois eu lia os volumes enquanto voltava do trabalho no transporte coletivo. Com isso pude suportar vários engarrafamentos que travavam o trânsito com tranquilidade e me divertindo no processo. E como as histórias eram curtas, com aproximadamente oito páginas cada, eu podia parar quando fosse necessário sem grandes problemas.


Consistência é Vitória

Shinryaku! Ika Musume é uma obra bem consistente. Ela tem uma premissa que é seguida à risca, que é a de ambientar as histórias no verão e sempre com situações fáceis de se entender, o que aumenta sua acessibilidade e essa é sua maior vantagem. Ela trata de elementos universais, como família e amizade, além de se ambientar no cotidiano, fazendo até com que nos lembremos de brincadeiras da infância, como "pular amarelinha", "policia e ladrão" e muitas outras coisas. E isso também mostra que essas são manifestações culturais que são comuns tanto no Brasil quanto no Japão, para quem quiser fazer uma leitura mais aprofundada.

O grande feito de Masahiro Anbe com essa série foi o de manter o ritmo da narrativa de forma constante por todo o caminho. E ele contava frequentemente nos posfácios que não era uma tarefa fácil manter a ambientação no verão, em um só lugar e ainda assim extrair ideias para fazer as histórias. Mas ele conseguiu.

Outro grande mérito foi o de ter continuado a fazer isso por quase nove anos e no meio do caminho ter dado origem a um desenho animado e colaborações com outras mídias, algo quase impensável para uma obra assim, que é relativamente recente e o primeiro grande trabalho de um quadrinista que era iniciante quando a série começou. A série estava programada para ter apenas cinco episódios, mas conseguiu chegar bem longe, usando-se de simplicidade, mas com consistência.

Masahiro Anbe conta que teve bastante dificuldade em fazer o último capítulo, pois ele já havia visto a versão em desenho animado terminar de forma muito bonita em suas duas temporadas. Seria impossível fazer algo melhor e por isso ele decidiu fazer um final mantendo o ritmo normal de cotidiano. E de fato, o final foi bem assim mesmo, típico do estilo de Shinryaku! Ika Musume, sem grandes reviravoltas (mas com um evento demolidor), fechando a série, porém com possibilidade de reabertura. Anbe conta no posfácio que até gostaria de fazer uma nova história com a Garota Lula, mas até lá ele pretende ganhar mais experiência. E ele contou no Twitter que já apresentou à editora um rascunho de seu novo trabalho. Resta saber se ele será um Grande Mestre ou ficará no One Hit Wonder. Torço por ele e espero que surja uma nova série que lhe dê tanta projeção quanto Shinryaku! Ika Musume deu.



Agora que a série acabou, ao menos a princípio, existe bastante material para se fazer uma terceira temporada do desenho animado. E espero que haja uma, de preferência pela Diomedéa, que fez o trabalho com extrema competência.

Não é a Mikudayo-. É a "Ikadayo-"...?
Attack on Squid Girl?
A Garota Lula finalmente coloca o uniforme da Lemon. E vira Gerente do estabelecimento?!
Sanae finalmente é presa?
Mas o que que tá pegando?
Beast Wars Squid Girl? Como toda versão pirata, tem a cara de Gundam direitinho.
E é um Triple Changer!
- Esquadrão Invasor! Invaderanger!
Pena que a Amarela não é a Garota Lula e sim a Kiyomi. Mas ainda assim faz sentido.

5 comentários:

  1. Salve, Mr. Usys!

    O trabalho é bastante simpático e tenho curiosidade em ler essa obra. A simplicidade é difícil de ser alcançada de modo genuíno. O autor parece bastante coerente e a longa duração da série mostra que ele conseguiu cativar um público fiel.

    Tomara que alguma editora se interesse. Ajudarei a divulgar.

    Abraço!

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    1. Obrigado, Nagado!

      Ika Musume é uma obra bem simples, leve, despretensiosa e exatamente por isso não sei se interessaria ao público daqui, que aparentemente prefere algo mais cerebral, mais "adulto". Mesmo assim é algo feito com esforço, que é um pouco difícil de ser notado. E é por esse motivo que gostaria que fosse mais conhecido por aqui.

      E recomendo dar uma olhadela no desenho animado, que também é gostoso de ver.

      Obrigado mesmo!

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  2. Nobre Usys!

    Trazendo mais uma matéria onde sempre me engano com os personagens fofinhos. Não esperava nem um pouco que a Garota Lula tivesse sua trama tão bem trabalhada. É bacana acompanhar histórias complexas que causam uma certa tensão, mas também é muito bom as que possuem o gênero da Garota Lula, como os antigos gibis da Turma da Mônica. São historinhas para você ler e se divertir, nada que vá mudar sua vida para outro nível ou algo do tipo.

    Bom também quando vemos a evolução do traço do autor. Eu que o diga! Esperava que fosse o contrário, onde o desenho fosse mais pesado, mas é justamente estilizar o traço que deixa o trabalho mais elegante. Só não vou falar do Cavaleiro das Trevas atual de Frank Miler porque já é muita viagem!

    Até a próxima matéria! Curti bastante e, quem sabe, algum dia eu não parta pra mais animes desse tipo? Bom, vamos ver do que meu filho vai gostar!

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  3. Destaque para o robô com cara de Gundam!! hehehehehe!!!

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    1. Obrigado pela visita, Adelmo!

      A história é simples, mas a estrutura é bem pensada. Masahiro Anbe sabe mesmo os básicos de uma história em quadrinhos. A economia gradual do traço não é uma coisa ruim e pode levar o artista a se encontrar e desenvolver um estilo característico. Yoshihiko Umakoshi é um exemplo disso.

      De vez em quando é gostoso ler/ver esse tipo de história, principalmente depois de um dia exaustivo de trabalho. E acho que as crianças iam gostar, sim. Só nunca entendi por que esse desenho era exibido de madrugada no Japão...

      E experimenta procurar em algum bazar ou loja aquelas imitações de Transformers. Vai notar que todos têm cara de Gundam. É muito engraçado!

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