Saudações.
Fui ao primeiro dia do evento Alma Tokusatsu, realizado na cidade de São Paulo nos dias 26 e 27 de outubro de 2019. Ouvi falar no Blog Sushi POP e resolvi ir dar uma olhada no primeiro dia. Abaixo segue um relato.
Não tenho nenhuma relação com o evento e nem participei de sua organização. Sendo assim, esse relato é tão somente o ponto de vista de um visitante comum.
Obs.: não coloquei fotos ou vídeos, pois me esqueci de perguntar se era permitido postar isso em blogs. E também não consegui tirar muita coisa. Mas logo eles mesmos devem disponibilizar materiais.
O evento foi realizado no Aichi Kenjinkai, no bairro da Liberdade. A localização é altamente conveniente para quem usa o Metrô e é bem fácil de se chegar lá. Ao descer da estação, basta descer a Rua dos Estudantes, atravessar a Av. Conselheiro Furtado, virar à esquerda, seguindo a avenida e depois à direita, na Rua Santa Luzia, 74. Nem precisa atravessar a rua.
Existe uma taxa de admissão, de R$ 80,00. Mas há um desconto de 50% em troca de 1 Kg de alimento não perecível. Perto da estação existe um supermercado, e um saco de feijão custa aproximadamente R$ 5,00. Com isso dá para economizar bastante no ingresso.
Cheguei lá na parte da tarde e fui recebido com bastante cordialidade. Eles tinham maquininhas para cartões, o que foi conveniente na hora do pagamento. Recebi uma pulseira de admissão, alguns folhetos de propaganda e um tíquete para sorteios que seriam feito no decorrer do evento. Em troca, dei meu nome e número de telefone. Uma pena que não me deram um folheto com a programação das atrações. Até havia um cartaz na mesa, na entrada, mas não consegui memorizar tudo. Então fui meio no escuro.
Cosplayers
O local era pequeno e havia um número considerável de pessoas. Não estava lotado e dava para andar tranquilamente. Muitos fãs usavam roupas com temas de Tokusatsu como camisetas. Havia no meio cosplayers, com fantasias bem interessantes. Alguns estavam paramentados como heróis mais conhecidos como o Jiraiya, o Incrível Ninja e o Rainin Wild, um dos personagens do seriado, até com uma pistola de formato peculiar. Encontrei também o Red Mask, de Defensores da Luz Maskman e mais alguns nas identidades civis dos Heróis, como o Yousuke Jo (Kenji Sonny, no Brasil) de Guerreiro Dimensional Spielvan e o Koutaro Minami na época de Kamen Rider BLACK.
Mas não havia só de séries clássicas. Tinha gente vestida como personagens de seriados mais recentes também. Uma menina usava o jaleco do Emu Hojo, o Kamen Rider Ex-Aid, até com o Gamer Driver. Outra me surpreendeu como a Yumeria/Yuko Yamada (atualmente Yokoyama), a Akiba Yellow de Akiba Ranger, no traje de gatinha. Ela tinha até um chaveirão da Z-Cune Aoi e portava a Moe Moe Z-Cune direitinho.
E tinha umas fantasias mais maníacas, como a do Ultra Seven X, coisa bem rara. E um que achei que era o Kamen Rider Kabuto, mas olhando para o cinto, vi que na verdade se tratava do Kamen Rider Decade fazendo Kamen Ride e assumindo a forma do Kabuto. Pena que não deu para ver se era a versão de Zi-O ou se era a antiga. Também havia um personagem original(?) o Gokai Black(?), em um traje altamente caprichado.
Lojinhas
Também havia lojinhas com vários itens de personagens de Tokusatsu. A maioria era de figuras em soft vinyl, camisetas e pôsteres.
Havia um estande bem curioso com trabalhos em madeira com temas dos Heróis, como chaveiros e cadernos. Tinha um muito bonito de Kamen Rider, mas acabei me esquecendo de comprar.
Uma outra vendia S. H. Figuarts e Shodo a preços módicos. Os Figuarts, sejam personagens ou motos tinham todos o mesmo preço de R$ 200,00. Considerando os valores no mercado de usados mais o frete e os impostos, dependendo do item até ficaria mais barato.
E em uma lojinha havia capacetes dos Heróis, altamente bem feitos. E ainda tinha uns brinquedos bem interessantes como o Soldozer de Equipe de Resgate Solbrain, lançado pela Glaslite no Brasil na época em que o seriado foi exibido por aqui. Era transformável e fiquei com medo de perguntar o preço. Outro item era o GabuRevolver de Kyoryuger.
Atrações
Cheguei no meio de uma apresentação da banda Tetsuyuusha. O repertório era vasto, passando por O Fantástico Jaspion, Esquadrão Relâmpago Changeman, Tokusou Robo Janperson e terminou com um arranjo de Kamen Rider BLACK RX. Infelizmente não sou muito versado em música, mas senti que eles tinha gosto pela coisa. E as canções eram em japonês, com uma boa pronúncia, sem sotaque brasileiro.
Mas o grande supra-sumo do evento foi um Talk Show do cantor Ricardo Cruz e o pesquisador Ivan Betarelli, do blog Falando de Dublagem, com os dubladores Nair Silva e Gilberto Baroli.
Nair Silva fez vários papéis em seriados exibidos por aqui, como a Gyoru em O Fantástico Jaspion, a Rainha Ahames em Esquadrão Relâmpago Changeman e Mazurka em Gigantes Guerreiros Goggle V. E também fez a direção de dublagem em alguns deles, sendo que seu primeiro trabalho nesse sentido foi em Zillion.
Gilberto Baroli é altamente conhecido por ser o Saga de Gêmeos em Saint Seiya, mas fez vários inimigos menores em O Fantástico Jaspion, como o Aigaman, Zamurai e o Irmão Gasami 1. E em Lion Man, foi o Monstro Humano Gamuji, por sinal o favorito de Ricardo Cruz, que está até tatuando no braço.
Bastidores da Dublagem
Os dois dubladores contaram várias histórias interessantes de bastidores. De como foi trabalhar com seriados japoneses, de uma língua totalmente diferente da portuguesa. Nessa eles contam que tiveram grande ajuda de Carlos Takeshi, que fez as vozes do Jaspion e do Change Griffon, providenciando um glossário com as palavras mais comuns.
E eles revelaram que os trabalhos geralmente eram jogados no colo deles. Era na base do "vai lá e faz" e era necessário, já que eles precisavam do dinheiro. Um relato bem parecido com os que são contados no Japão. Mesmo assim há diferenças entre as empresas de dublagem. A Álamo em especial tinha instalações muito boas, com uma cozinha e banheiro decentes, além é claro do estúdio. E eram usados equipamentos de primeira linha, como microfones da Dolby, cuja qualidade não deve nada aos equipamentos atuais.
Outra história curiosa é que a tradução tinha um cuidado melhor antigamente, em que os roteiros eram feitos tendo em mente que será feita uma dublagem. Atualmente as traduções são muito literais, "em prosa" como notou Baroli. E na verdade tem que haver um ritmo para as falas. Tempo para respirar, inclusive.
Isso foi bem útil em um caso famoso contado por Baroli: o dele ter "escrito" vários episódios de A Princesa e o Cavaleiro, que vieram sem os áudios e os roteiros e consequentemente sem se saber a história. Baroli fez os roteiros, que foram elogiados por Silva, pois havia um ritmo, pensando realmente em dublagem. Uma pena que esse material atualmente está perdido e não foi incluído nos DVDs do desenho.
Nair Silva revela que era fã do National Kid quando era criança e não sabia como terminava. Os episódios finais haviam sido perdidos. Mais tarde eles foram encontrados no Japão e ela teve a honra de dirigir a dublagem desses episódios, além de finalmente saber por que o herói foi embora. Silva comenta que sua personagem mais marcante nos seriados de Tokusatsu foi a Rainha Ahames. Tanto que uma fã a contatou no Facebook pedindo para usar seu nome. Silva achou estranho e perguntou "O meu nome, Nair Silva?". A fã então disse "Não, o da Rainha Ahames". E Silva permitiu ao ver que ela realmente gostava da personagem.
Houve um tempo para o público fazer perguntas. Felizmente uma delas levou à que eu ia fazer: a de onde Baroli tirou sua "Gargalhada Diabólica". Ele conta que quando era criança ouvia histórias infantis em discos de vinil e nisso ouviu uma risada da madrasta da Branca de Neve. Por muito tempo ele tentou imitar essa risada, e um dia a usou para um papel de dublagem. Daí ela pegou. O dublador até deu uma demonstração ao vivo, levando o público à loucura e me dando uma sensação que vai ser difícil de esquecer...
Ainda, foi pedido a Nair Silva que representasse a cena em que a Rainha Ahames morre, enlouquecida. Isso foi atendido, o que também arrancou aplausos, com uma performance idêntica à da época, mesmo depois de tantos anos. Mais uma sensação que fez valer a pena o ingresso. Ou melhor, até pagaria mais. Os aplausos da platéia a emocionaram ao ver o quanto era querida por todos.
Nessa ela anunciou que estaria se retirando do ramo de dublagem, devido à idade e depois de mais de 50 anos na área. E que ela iria se mudar. Felizmente é para Indaiatuba, não muito longe de São Paulo, e por isso estaria à disposição para participar de outros eventos.
Foi também mostrado um LP do dublador Carlos Laranjeira, falecido em 1993, que interpretou o J.J. de Zillion, o Naoto/Jiban e muitos outros. As músicas do disco serão passadas para o formato MP3 a fim de manter sua memória.
Ouvir os relatos desses dois dubladores lendários foi altamente esclarecedor e também deu uma sensação maior de proximidade. Deu para ver como são as condições de trabalho, os aspectos práticos da profissão e de como são as coisas nos bastidores. Não foi muito diferente do que contam os dubladores japoneses que dão várias entrevistas e são muito mais valorizados pelo público que aqui, aparecendo em vários programas de variedades por lá.
Conclusão
Já estava tarde e acabei indo embora antes do horário de encerramento do evento. Fiquei mais um pouco para ver uma demonstração de alunos do Bujinkan Hattori Hanzo e pegar algumas ideias para poses em figuras e cenas de luta. Foi bem instrutivo nesse sentido.
Faz tempo que não participo desse tipo de evento e resolvi fazer isso para prestigiar a iniciativa de se fazer algo tendo como tema o Tokusatsu. Foi um evento que poderia ser considerado simples em relação a outros maiores como o Anime Friends ou a CCXP. Infelizmente não fui a nenhum deles para ter algum parâmetro.
Digo mais uma vez que valeu pelo Talk Show. O carinho do público me fez ver que a dublagem é um ramo que é valorizado, embora não tanto quanto no Japão. E ver as performances ao vivo de dois grandes nomes foi uma experiência maravilhosa. Ricardo Cruz soube conduzir muito bem a conversa, com a assessoria de Ivan Betarelli, cujo trabalho de pesquisa não posso deixar de elogiar. E nem os próprios dubladores, que chegaram a dizer que ele sabe mais do que eles mesmos. O papo foi bem humorado, com Silva e Baroli fazendo piadas um com o outro. Só pincei algumas partes e tem muito mais coisas. Espero que disponibilizem na íntegra um dia.
Um evento modesto, organizado por gente iniciante nesse tipo de iniciativa, os entusiastas Alex Rangel e Narumi Tsuruta, conforme notou Alexandre Nagado em sua matéria. Os dois apareceram no palco e deu para notar que não estão acostumados a aparecer em público ainda, especialmente Tsuruta, que demonstrou certa timidez (algo que eu entendo perfeitamente). Mas espero que dê frutos e leve a algo maior. Embora a premissa seja "de fãs, para fãs" e pode ser melhor manter o aspecto "caseiro".
[Atualização, 27/10/2019 - 22h10min] Evento encerrado.
O evento vai continuar até o dia 27, mas as atrações serão diferentes. Dá para pegar mais detalhes no site do Alma Tokusatsu, inclusive com a programação. Já deixei algumas dicas no começo da matéria, caso haja interesse, sobre o caminho e como conseguir um desconto, ao mesmo tempo em que se ajuda uma instituição de caridade. O evento fechará com um show do próprio Ricardo Cruz, cujo talento já é comprovado, visto que ele é membro honorário do JAM Project. Mas se mesmo assim houver dúvidas, segue uma amostra abaixo.
PS.: Não. No fim eu não fui sorteado. Mas não tem problema, pois já me senti premiado o suficiente.
Olá! Como vai?
ResponderExcluirPelo visto o evento, apesar de modesto, estava bastante atrativo aos fãs de Tokusatsu. Fantástico para quem acompanha as séries e está imenso neste universo, diversão é o que não faltou! Uma pena que não teve fotos, mesmo assim a narrativa ilustrou e contextualizou bem.
No site está descrito detalhadamente como se originou a ideia de criar um evento voltado exclusivamente para este público, com cosplayers, talk shows e pessoas que curtem as obras podiam agora se reunir para ficar cara a cara com os consagrados artistas/dubladores brasileiros que trabalharam nas obras. Por outro lado, e este foi o aspecto mais interessante, que eles contam que devido os altos investimentos e estrutura o evento precisou ser adiado por algum tempo, porém através do incentivo coletivo, apoiadores e colaboradores tornaram este sonho realidade, inclusive atraindo patrocinadores. A União e o esforço dos fãs foi tamanha a ponto de conseguirem erguer um evento dessa proporção com tantos nomes importantes! Muito show! Parabéns aos envolvidos!
Excelente postagem!
Abraços!
Obrigado, Melissa!
ExcluirNão costumo participar desse tipo de evento por ter medo de multidão. Mas senti que tinha que prestigiar, ainda que a decisão tivesse sido de última hora. E não me arrependi. O Talk Show já fez valer a pena e ainda consegui umas mercadorias a bons preços por lá.
Espero que haja mais um e pretendo apoiar. Obrigado mais uma vez e vamos ver se no próximo evento aparece alguém vestida de Izu por lá. Bom, devem aparecer umas três, considerando a popularidade da personagem.
Legal que fizeram um evento de tokusatsu, acho que nunca tinha ouvido falar de um aqui no Brasil, a maioria dos eventos é de animes ou hqs, e a Jedicon, que é focada em Star Wars. Tomara que não seja o último, e que essa ideia se espalhe em outros estados.
ResponderExcluirGosto muito de ir nesses eventos, apesar de não ir com muita frequência porque acabo gastando demais hehehe. A sensação é exatamente essa que você descreveu, principalmente quando se participa de alguma das atrações, como essa dos dubladores. Esses papos com dubladores são sempre divertidos, principalmente quando tem o Gilberto Baroli envolvido, pois ele é muito bem humorado e tem muitas histórias pra contar, e quando ele se junta com o Hermes Baroli então, aí é só zoeira hehehe.
Nesses eventos às vezes é possível encontrar figuras originais por ótimos preços, é um dos motivos que é bom ir em um que outro de vez em quando. Acho que essa lojinha que faz os trabalhos em madeira deve ser a mesma que já vi em alguns eventos por aqui, eles fazem um ótimo trabalho.
Que bom que se divertiu, gostei do relato detalhado. E fico feliz de saber que houve uma participação grande por parte do público, até com vários cosplays de tokusatsu, sinal de que esses fãs estavam precisando de um evento desses.
Obrigado, Ronin!
ExcluirFoi uma boa experiência e era a primeira vez que via ao vivo um Talk Show desses com os dubladores. Se com a Nair Silva era daquele jeito, imagino com o filho do Gilberto, o Hermes! Deve dar para dar umas boas risadas.
Consegui umas coisas interessantes, inclusive uma peça que estava indeciso e sempre deixava de lado quando via. Daí decidi comprar logo de uma vez. Parece que era usada, mas não tinha problema.
Os dois contaram muito mais histórias e peguei só o que me lembrei na hora de escrever. Foi altamente instrutivo e gosto de saber desses detalhes de bastidores. Mas nada melhor do que as performances ao vivo. Isso já faz valer qualquer ingresso. E me fez sentir um pouco culpado por não ter pago inteira mais o donativo.