domingo, 24 de julho de 2022

Takashi Yamada - O Mestre Desconhecido

Saudações.

Desta vez vou falar do roteirista Takashi Yamada, compositor de série em Ojamajo Doremi e Heartcatch Precure!, entre muitas outras obras. Uma figura de grande importância, porém pouco conhecido.


Enquanto estava andando pela Internet, encontrei um vídeo do roteirista Yuji Kobayashi entrevistando Yamada, que contou como começou a trabalhar no ramo e com histórias de bastidores. O vídeo tem quase uma hora e meia de duração só com os dois conversando, mas foram altamente proveitosas. Abaixo seguem os pontos que julguei mais importantes.



Takashi Yamada nasceu em 15/06/1945 na província de Yamanashi, no Japão. Logo no começo da entrevista ele conta que não esperava escrever histórias para programas infantis. Muito pelo contrário, sua intenção no começo era trabalhar com as séries Roman Porno da Nikkatsu, como seu mestre, Seiji Matsuoka, um dos grandes nomes do ramo e que foi roteirista principal para obras como Star of Giants (Kyojin no Hoshi). Yamada encontrou Matsuoka ao saber que ele frequentava uma cafeteria no bairro Kouenji, onde morou por bastante tempo, e lhe apresentou seus manuscritos, mesmo sabendo que eram "ruins".

Yamada foi então convidado a ajudar em alguns trabalhos, escrevendo projetos e esboços de obras de Roman Porno. Um dia, Matsuoka se tornou Diretor do Setor de Redação na Shin-Ei Animation e propôs a Yamada escrever roteiros para Doraemon, baseado no mangá da dupla Fujiko Fujio. Porém Matsuoka estava encarregado de outro projeto, Space Carrier Blue Noah, de 1980, que acabou se tornando o primeiro trabalho de Yamada como profissional no ramo.

Depois disso Yamada passou a escrever para Doraemon. Os episódios do mangá já haviam sido quase todos adaptados e uma das tarefas de Yamada e da equipe era o de criar novas histórias. Porém havia muitos conflitos entre os autores dos mangás e a equipe dos desenhos animados. Yamada admitia que tinha mais afinidade com o membro da dupla Fujiko Fujio "que não era Fujimoto" (Abiko Motoo), e achava que era preciso ter um pouco de "veneno" em suas histórias.

Em um episódio especial de uma hora, exibido na época das Olimpíadas de Moscou, Yamada cometeu a ousadia de impedir que Doraemon usasse seu "Bolso Quadridimensional", de onde ele tirava seus apetrechos, cancelando sua maior característica, o que enfureceu Fujimoto. Depois de muitas outras desavenças, ele acabou dispensado de Doraemon para fazer outras séries. Ainda assim ele pegou trabalhos baseados em obras da dupla como Obake no QTarou, Parman e Kaibutsu-kun (versões dos anos 1980). Chegou também a escrever a primeira metade de um especial de cinema de Doraemon, Nobita's Dinosaur, porém sem ser creditado pois estava apenas "ajudando" seu mestre Seiji Matsuoka.


Migrando para a Toei

Após muitos trabalhos e fazer vários contatos, Yamada passou a escrever roteiros para séries adultas de live-action, como o policial 特捜最前線 (Tokusou Saizensen, algo como "Linha de Frente de Investigação"), filmado nos estúdios da Toei em Ooizumi. Nessa época ele trabalhava bastante com a emissora Asatsu (atual ADK), e tinha várias conversas e trocas de ideias com produtores sobre projetos de novos programas enquanto bebiam. Nisso, Yamada foi convidado por produtores da Toei e da Asatsu para trabalhar em Kamen Rider BLACK. Depois escreveu para Kamen Rider BLACK RX, Winspector, Solbrain, Exceedraft e foi roteirista principal em Kabutack e Robotack. para depois trabalhar em Moero!! Robocon.

Perguntado sobre como foi esse período no Tokusatsu, Yamada conta que gostava de Heróis, como Ryoma Sakamoto ou personagens do escritor Ryotaro Shiba. Essas foram a base para sua imagem de "Herói", porém tinha em mente que os vilões também deveriam ser elegantes, com presença. E que qualquer pessoa teria dentro de si a Luz e as Trevas. Algumas vezes se descobriria que uma pessoa que parecia ser boa na verdade poderia ser o pior dos vilões. Para ele, esses elementos eram o básico para se escrever histórias e saber como representar isso seria o grande papel do roteirista.

Yamada também conta que enfrentou algumas limitações, como por exemplo em BLACK em que escreveu uma cena em que o Monstro Rinoceronte pararia um trem no metrô. O diretor do episódio no começo reclamou dizendo que não conseguiria fazer uma cena assim, mas no fim acabou dando um jeito de realizar.


Nota: o resultado do esforço do diretor Makoto Tsuji pode ser conferido no episódio 7 de BLACK, disponível no canal da Sato Company no YouTube (link para o video). Também tem os elementos citados acima por Yamada, só que aparentemente ele não se lembrou direito de alguns detalhes.


O próprio Yamada não sabe dizer por que tanta gente vinha contatá-lo apesar de não se considerar uma pessoa muito comunicativa. Ele atribui isso ao fato de ser um tanto "intrometido", dando opiniões em projetos quando via algum. Mas com isso ele foi ficando conhecido, o que abriu portas para sua participação em um evento decisivo.


Um Novo Projeto

Um dia, Yamada foi convidado pela produtora Hiromi Seki, da Toei Animation, para a série de animação 夢のクレヨン王国 (Yume no CRAYON Oukoku, ou "O Fantástico Reino dos Crayons"), de 1997, dirigida pelo gênio Junichi Sato. Seria um desenho baseado em uma série de livros infantis com mais de vinte volumes, sendo que seriam adaptados três deles. Também foi a primeira série da Toei Animation a ser animada com meios digitais ao invés de usar acetatos como era até então.

Yamada sugeriu não seguir fielmente a cronologia e diluir o conteúdo desses três volumes para criar uma série que durasse um ano inteiro. A produtora Seki gostou da ideia e chegou a chamar Yamada para beber e conversar a fim de fazer os acertos.

Yamada confessa que queria ficar só no projeto do desenho, pois todos sabiam que a Toei Animation pagava aos roteiristas muito menos do que a seção de Tokusatsu da Toei Company. Mas no fim acabou convencido a participar como Compositor de Série e também como roteirista, assinando como "Midori Kuriyama".

Na época havia um acordo tácito entre as produtoras de um mesmo roteirista não poder aparecer em séries de empresas diferentes que passassem na mesma faixa de horário e Yamada escrevia para duas. Nisso ele resolveu criar esse pseudônimo para driblar esse acordo, um expediente semelhante ao do divino produtor Tohru Hirayama, quando ele assumia o nome de "Saburo Yatsude". Yamada tinha mais um ainda, K.Y. Green. "K.Y." viria de KuriYama e "Green" viria da tradução para o inglês da palavra "Midori", que em japonês significa "verde".

Então, Crayon Oukoku seguiu um esquema em que de quatro episódios mensais, três seriam adaptações dos livros e um seria de criação própria da Toei. Deu certo e até mesmo o autor da obra original, Reizo Fukunaga, gostou muito. Foi um sucesso, embora nada muito estrondoso, mas estimulou a Toei Animation a dar um passo mais ousado.

Seki, Sato e Yamada perceberam que era possível criar um conteúdo próprio, de autoria deles mesmos sem se basear em alguma outra obra, seja literária ou em quadrinhos. Fazia dezenas de anos que a Toei Animation não produzia nada nesse sentido e após várias conversas nasceu Ojamajo Doremi.


Ponto de Mudança

Yamada participou da criação de Ojamajo Doremi desde o começo, em sua concepção, diferente de Crayon Oukoku em que já havia um tema definido antes de sua participação. E conta que esse foi o trabalho em que ele mais se entusiasmou em sua carreira de roteirista. De fato é a sua obra mais representativa, já que além da série de TV, escreveu os romances literários e o especial de cinema de 2020, 魔女見習いをさがして (Majo Minarai wo Sagashite, "Procura-se Aprendiz de Bruxa").

Diferente de outros desenhos, que eram baseados em alguma outra obra, Yamada teve muito mais trabalho, já que a equipe tinha que criar tudo do zero. Mas o projeto contou com pessoal competente, como a produtora Seki, o diretor Sato e o desenhista Yoshihiko Umakoshi.

A produtora Seki trazia o seu álbum de formatura do primário e explicava como era cada um de seus colegas. Isso ajudou muito na criação dos personagens, não só as protagonistas como também todos os alunos da classe que estudavam com as Bruxinhas Atrapalhadas. Eram definidos seus temperamentos, suas personalidades e até suas relações interpessoais, como quem estava brigado com quem ou qual aluno era amigo de qual outro. E com tudo construído, Yamada sentiu que seus personagens, do nada, se moviam sozinhos e falavam por si mesmos ao escrever as histórias, sem precisar fazer muito esforço, de tão caprichados e detalhados eles ficaram. Tudo o que ele precisava era limitar o tempo de cada episódio para aproximadamente trinta minutos. Ele considera isso uma experiência muito rara como roteirista.

Toda a equipe dava ideias, com experiências pessoas de quando eram crianças, mais ou menos da idade dos personagens. Inclusive a produtora Seki chorava quando contava algumas de suas histórias e por isso os episódios tinham tanta vida. A série teria um ano, mas foi decidido fazer mais um, até chegar a quatro. E nessa a equipe, já bastante animada, resolveu contar as histórias das meninas até a formatura do primário.

Kobayashi pergunta dos problemas enfrentados em Ojamajo e Yamada responde que houve vários temas que talvez não fossem adequados para um programa infantil de domingo, como evasão escolar, bullying ou divórcio dos pais. Houve muita pesquisa sobre esses assuntos em que deveria haver realismo. Era importante que as histórias tivessem um quê de realidade. Não se podia contar pequenas mentiras. Só grandes, como disse o Mestre.

O roteirista cita o caso da Aiko, que tinha pais separados. A questão dela não poderia ser resolvida em um só episódio, então foi feito um desenvolvimento do assunto em vários capítulos, de forma esparsa ao longo dos quatro anos da série.

O mesmo é dito da evasão escolar, em que uma das colegas de Doremi, Kayako, se recusa a ir às aulas. Resolver em um só episódio pareceria mentira. Então a resolução levou um ano, aos poucos, seguindo um longo processo de reaproximação. A equipe conversou com vários professores, com depoimentos de casos reais e com isso conseguiu construir uma boa história. Nessa, Yamada se sentiu como um pai perguntando de um problema da filha.

E já havia um consenso de que Doremi e suas amigas não se tornariam Bruxas no final. Que elas depois de passar por tantas experiências, poderiam viver suas vidas sem mágica e que isso é parte de seus desenvolvimentos. Essa foi outra tônica no decorrer da série, delas não dependerem da magia para resolver seus problemas, e para isso foram estabelecidas várias regras como por exemplo ser proibido ressuscitar os mortos. Ainda, ficou acertado que a magia não poderia ser usada para interesses próprios, mas sim para ajudar outras pessoas e como último recurso.

Yamada conseguiu reconhecimento e vários outros colegas de ramo comentaram com ele que gostariam de trabalhar em um projeto assim. O próprio Kobayashi comenta que nunca participou de uma série de tão longa duração com os mesmos personagens e a mesma equipe de produção, contando todo o seu desenvolvimento por vários anos, cultivando a obra, e admite que sente um pouco de inveja. Quando tudo terminou, foram reunidas todas as pessoas que produziram a série, diretores, animadores, dubladores, roteiristas etc. para cantar o tema de formatura.

Só que mesmo assim, Yamada comenta que tem gente que não sabe que foi ele quem escreveu as séries Ojamajo Doremi e se surpreendem com isso.


Conquistando Corações

Yamada foi convidado pelo diretor Tatsuya Nagamine para fazer Heartcatch Precure!, de 2010, para dar um gosto de Ojamajo. Yamada tinha feito Ashita no Nadja há algum tempo e achou que já estava bem, mas não conseguiu recusar o convite do diretor, que tinha a intenção de construir uma nova série Precure e inclusive dizendo que Yoshihiko Umakoshi, também de Ojamajo, participaria do projeto. O próprio Yamada via algumas séries Precure, mas nunca imaginou que participaria de alguma.

Sendo assim, Yamada planejou uma história de crescimento, de como Tsubomi/Cure Blossom, a "Precure mais fraca da história" se tornaria forte, de forma fácil de entender e dentro de um ano. Esse desenvolvimento culminaria com ela exortando Yuri/Cure Moonlight, que seria a mais forte do time, a se manter firme e lutar por amor e não por vingança.

Quanto a Erika/Cure Marine, Yamada ficou surpreso ao saber que os espectadores no começo a achavam "chata", "irritante", mas o escritor a achava "bonitinha". Kobayashi completa dizendo que é uma personagem que só poderia existir em um desenho animado e menciona alguns de seus "feitos" em filmes, como no cartaz de Precure All Stars New Stage 2.

Kobayashi ainda comenta que vendo bem, Erika seria do tipo "personagem principal", como a parte ativa da dupla, mas em Heartcatch! acabou sendo o contrário, sendo que Tsubomi que é mais contida, apesar de ser a principal. Yamada diz que isso foi decidido coletivamente pois todos queriam criar um novo tipo de protagonista na série. Principalmente em uma que meninas dão socos e chutes, diferente de Ojamajo. Veio do desejo de se inovar.

Yuri, ou "Yuri-neesan" (Mana Yuri), como Yamada a chama, passou pelas maiores provações. E então ela teria de superar essas tragédias. No começo ela só ficava olhando, intervindo pouco para só então entrar no grupo. Para ele o desenvolvimento de Yuri seria sua recuperação depois de experimentar a derrota e a perda de um ente querido. A surpresa final também foi decidida desde o começo.

Um obstáculo que Yamada encontrou foi a cena de transformação, que era bem longa e poderia consumir o tempo que seria voltado à história. O roteirista estava disposto a deixar o diretor fazer o que quisesse, mas Nagamine era compreensivo, entendia o sentimento do escritor e arranjou as coisas sem criar conflitos.

Yamada elogia o trabalho do desenhista Umakoshi, especialmente no design da Cure Moonlight, que ficou bem elegante. E também os roteiristas de sua equipe, especialmente Yoshimi Narita, que ficou encarregada das histórias de Itsuki/Cure Sunshine e Mio Inoue, que cuidava das histórias da Erika. Sinto que isso explica um pouco por que na versão em romance literário não havia muitas histórias com essas duas personagens, focando em Yuri, que se tornou a personagem principal do livro, e Tsubomi. Na entrevista Yamada comenta que escreveu essa versão, mas sem dar muitos detalhes.

Kobayashi comenta que viu todas as séries Precure até então e que Heartcatch! ainda é sua favorita. Por ter personagens marcantes, uma Cure antagonista, outra que é colegial, além de vários elementos adultos dentro da trama, porém mantendo um bom equilíbrio entre as partes sérias e as cômicas. Kobayashi menciona a despedida de Cologne, com o Mascote dizendo a Yuri que ela "sempre foi uma chorona", comentando que aquilo era algo de "adulto", e pergunta como foi feita essa cena. O Mestre comenta que não se lembra direito e ao invés, destaca como um elemento adulto a morte da Dark Precure abraçada ao Dr. Sabahku, com um sorriso e um olhar de vitória.

A equipe de Heartcatch! foi muito elogiada pelos produtores, que chegaram a dizer que a qualidade da imagem, da animação e da história eram altos demais e que seria difícil criar uma nova série nesse nível. De fato é uma série que conquistou muitos corações, como seu título diz e é popular até hoje, com muitos fãs cativos.


De Roteirista para Roteirista

Esse vídeo foi altamente esclarecedor, com Yamada expondo sua visão de trabalho de como escrever roteiros e fazer a Composição de Série. Tudo isso com Kobayashi, também roteirista, fazendo perguntas pertinentes.

Para Yamada, o importante em um desenho animado são os personagens. Se forem bem feitos, é possível criar uma série de um ano como em Heartcatch! ou até quatro, como foi em Ojamajo. Isso se provou verdade no relato sobre Ojamajo e também com uma de suas criações, uma personagem que se tornou marcante nas séries Precure.

Personagens carismáticos e bem feitos são importantes também ao se escrever histórias baseadas em outras obras como mangás ou livros. Como exemplo, ele cita Kaibutsu-kun, em  que o personagem-título tem como amigos um vampiro, um lobisomem e um monstro de Frankenstein, cada um com características próprias, incluindo o próprio Kaibutsu-kun, que tem a capacidade de se esticar como se fosse de borracha. Kaibutsu-kun, e seu amigo humano Hiroshi, aceitam seus companheiros do jeito que são, com suas qualidades e defeitos e tudo isso é um bom material para se fazer histórias, mesmo sem adaptar outras já existentes.

Em Heartcatch!, Yamada já tinha mais consciência de como fazer composição, adequando-se às séries Precure, que apesar de não serem baseadas em outras obras, tinham um formato definido. Ele já sabia que roteirista seria adequado para qual tipo de história e tendo isso em mente definia quais seriam os quatro episódios de cada mês para então perguntar para a equipe quem gostaria de escrever. Daí ele ficaria com os episódios que sobrassem, tudo em um clima bem amigável, com muita bebida. Com isso deu para se ter uma ideia de como é a Composição de Série e como é organizada, ao menos no estilo de Yamada.

Kobayashi menciona sobre a venda de brinquedos, sobre as formas e membros extras. Que em Ojamajo, ao menos no começo, dava-se mais ênfase à história. Yamada responde que já estava acostumado, pois tinha trabalhado com isso em Akazukin Chacha, com a Takara (atual Takara Tomy). Nessa ocasião, ele deixou os brinquedos para a parte em que se dá o golpe final em cada episódio (a transformação da Chacha em Magical Princess). A própria autora original, Min Ayahana, achou isso divertido e nessa Yamada viu que inserir os brinquedos na trama não era tão difícil e até dava liberdade para se ter várias ideias. Só que a Bandai fazia mais pedidos, com vários produtos para serem colocados no desenho em determinada ocasião. Mesmo assim, Yamada conseguia conciliar as coisas contando com a colaboração do diretor Nagamine.

Outra pergunta é se o roteirista sentia diferenças entre trabalhar com live-action e Anime. Yamada conta que realmente percebia isso ao escrever para Tokusatsu, mas mesmo assim os diretores comentavam que seus roteiros eram bem fáceis de entender e de transpor para a tela. Pois ele não escrevia só as falas, como também anotações com descrições precisas de como seria cada cena (algo que em teoria seria trabalho dos diretores). E nas cenas de ação não conseguia simplesmente escrever "conto com vocês", como fazem muitos outros roteiristas.

Os de Anime requeriam ainda mais detalhes e por isso teriam muito mais instruções. Mas isso também rendia algumas reclamações, por exemplo da produtora Seki, que dizia que os roteiros eram longos demais e tomavam tempo para ler e revisar. E também que dava a impressão de que ele não confiava no trabalho dos diretores. Então era preciso conhecer cada um deles e saber que partes dispensariam grandes explicações.

Mesmo assim a produtora Seki e as equipes deixavam avisado que iriam cortar algumas partes e Yamada dava liberdade para que fizessem como desejassem, com um sorriso no rosto, pois tinha dado todos os detalhes e realmente confiava no trabalho deles.

Yamada finalmente diz que sempre escreveu para programas voltados para o público infantil e por isso sua intenção é que por trinta minutos, ou pelo tempo que estiver disponível, suas histórias possam divertir e emocionar as crianças que sempre estão ocupadas, ora com cursinhos ou com os exames de admissão em escolas. E deseja continuar com esse trabalho.


O Mestre Desconhecido

Com isso tudo, finalmente pude ver a história de um roteirista cujo trabalho eu apreciava, mas do qual não encontrava muito material. Uma pessoa que teve participação em grandes sucessos como os já mencionados Ojamajo Doremi e Heartcatch Precure!, e também em outras séries como Captain Tsubasa J (conhecido por aqui como Super Campeões), Hime-chan no RIBBON (do qual também escreveu um romance literário), Fatal Fury (especiais de TV, de cinema e romance literário) e Tomica Heroes Rescue Fire. E fez roteiros para Zillion, Humanoid Monster BEM (versão de 2006), Cashern Sins, Powerpuff Girls Z e Inu Yasha, entre muitos outros.

A entrevista focou mais no começo da carreira e em suas duas maiores obras, além de abordar um pouco sobre Onegai My Melody, de 2005, outra série com uma aparência fofinha, uma temática inocente, em que o roteirista decidiu se liberar e criar algo totalmente alegre e engraçado, porém ainda tinha algumas pitadas de "veneno", o que é o seu estilo.

Yamada não é um roteirista badalado e conhecido pelo grande público, especialmente deste lado do mundo. Mas é reconhecido nos bastidores, entre seus colegas de ramo e pelos produtores, visto seu extenso currículo. Tanto que dizem que ao ler um dos roteiros de Yamada, logo conseguem perceber e inclusive visualizar seu rosto, mesmo quando se trata de uma história baseada na de outra obra.

Foi bem curioso saber que um roteirista cujos trabalhos mais representativos são voltadas ao público infantil no começo queria escrever para um gênero adulto, como as séries Roman Porno. Kobayashi chegou a perguntar como Yamada se sentiu ao trabalhar com algo que ele não tinha em mente e o roteirista respondeu que gostava de criar histórias e escrever, mesmo sabendo que não era muito bom, como ele mesmo diz, embora eu seja obrigado a discordar.

De fato, como comenta Kobayashi, Yamada consegue fazer as pessoas rirem, se divertirem, com personagens altamente simpáticos e carismáticos. Mas ao mesmo tempo coloca elementos sérios no fundo, fala de relações humanas e aborda problemas sociais do mundo real. Uma descrição precisa do estilo do Mestre Takashi Yamada com a qual concordo plenamente.

Ainda, soube mais da história da Toei Animation e sobre uma obra que foi um grande ponto de virada, Yume no CRAYON Oukoku, tendo como centro Yamada, o diretor Junichi Sato e a produtora Hiromi Seki. Com isso pude constatar sua importância histórica em um evento que mudou a linha da empresa e deu espaço para dar origem às séries Precure, apreciadas até hoje pelo público japonês. Por isso posso dizer que valeu a pena ter visto essa entrevista, que foi uma experiência altamente gratificante e me trouxe muita satisfação.

Espero que mais gente leia esta matéria para invalidar seu título e todos conheçam o trabalho e os méritos de um grande contador de histórias.


Como é de praxe, esta matéria não é uma tradução ipsis-literis e só peguei alguns tópicos que achei mais interessantes e o ideal é ver na íntegra. Só que não tem legendas em outros idiomas por se tratar de um canal de iniciativa própria, com poucos recursos, sem financiamentos externos ou pessoal para isso

Existem ainda outros vídeos nesse sentido no mesmo canal, com grandes nomes como o veterano Masaki Tsuji e Junichi Miyashita. Um prato cheio para quem se interessa pelos bastidores (e sabe falar japonês).



Vide também:

小説ハートキャッチプリキュア! - Heartcatch Precure! - Romance Literário - Link para a parte em que conto as minhas impressões sobre Yamada, muito antes de ver a entrevista. A impressão não mudou tanto, tirando o fato de saber agora como ele é.

Nendoroid Onpu Segawa - Com notas de como foi feita a série Ojamajo Doremi.

8 comentários:

  1. Escritora ao dispor e muito bom saber quem foi a cabeça por trás de "Ojamajo Doremi". Já fazia um bom tempo que não gostava de uma série mahou shoujo, nada contra o que há atualmente, apenas que sinto que houve uma perda de "identidade própria" nesta temática tão cheia de histórias e personagens.
    Mesmo que só tenha visto apenas a 1ª temporada, deu pra ver o quão criativo e tocante era a trama de Doremi e suas amigas, o final foi emotivo e provou porque é uma obras mais marcantes da Toei Animation. Cheguei a fazer fanart da Doremi, Hazuki e Aiko que ficaram umas gracinhas. Sobre mudança de rumos que este mestre desconhecido passou, mesmo não podendo ser o que sonhava, pode sim trabalhar com afinco onde esteve envolvido. Pena que certos artistas ou obras não tem seu espaço por falta de informações nestas bandas, por isso vale a pena conferir quando tem e valorizar, afinal, vai que a obra que curta aja envolvimento deste pessoal. Um ponto que este blog tem de sobra, está de parabéns. Até a próxima!!!

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    1. Obrigado, Escritora!

      Já fazia um tempo que queria escrever sobre Takashi Yamada, mas não tinha material o suficiente. Daí encontrei esse vídeo com um monte de informações e com isso consegui o que queria... e ainda mais.

      Ojamajo Doremi foi feita com bastante alma e empenho, não só do Yamada e do Junichi Sato como também da produtora Hiromi Seki que deu todas essas ideias. Foi fascinante saber dos processos de criação.

      Sempre tento trazer informações do pessoal que faz de tudo para nos divertir. Mostrar os seus méritos. Uma pena que aparentemente pouca gente se interessa. Pelo menos eu mesmo acabo adquirindo conhecimento e entendendo um pouco como são as coisas. Se é o certo ou não eu não sei, mas...

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  2. Nobre Usys!

    Parabéns pelo trabalho! Realmente, não conhecia o Yamada e sequer sabia da participação dele em séries que assisti quando criança, como Captain Tsubasa e Kamen Rider Black.
    Interessante demais essa modéstia dele em falar sobre seu trabalho, pois a arrogância acaba tornando as pessoas insuportáveis quando atinge um certo nível.

    Depois de muito tempo, retomei Shirobako e pude associar a imagem do Yamada a um dos diretores que compõem o animê. É interessante demais ver como funcionam os estúdios quando estão produzindo uma obra - e aí imagino o Yamada nesse contexto.

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    1. Obrigado, Adelmo!

      Yamada é modesto, mas também mostra que tem muito orgulho de seu trabalho, especialmente de Ojamajo. E isso não é a toa, pois é realmente uma obra-prima. Isso sem falar que ele é muito bem humorado. Ficou rindo a entrevista inteira. Deve ser legal trabalhar com ele, que mostra ser democrático ao distribuir os papéis. E imagino como ele seria como diretor. Podia dar uma coisa bem legal.

      Gostava bastante das histórias dele, questionando certas coisas como por exemplo a fascinação por idols em um episódio de BLACK. Ou a validade de se fazer justiça com as próprias mãos em BLACK e Solbrain. E o que significa ser um policial e que para se ser herói não precisa ter uma armadura tecnológica.

      Fiquei bem surpreso ao ver que ele fez composição de série em Captain Tsubasa. Não só, nesse como em muitos em que nem esperava. Cá entre nós, acho que ele é quem teria sido ideal para Saint Seiya Omega. Ele sabe tratar do assunto de orfandade como ninguém.

      Yamada é uma pessoa que fez muita coisa, mas quase incógnito por aqui. Espero que ele ganhe reconhecimento.

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    1. Obrigado pela visita!
      A história do Yamada é fascinante. Fico contente por ter gostado!

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  4. Que baita texto!
    Muito feliz em conhecer esse artista, Ojamajo e HeartCatch são meus Mahou Shoujos favoritos atualmente, eu não tinha ideia da importância do compositor nas duas obras.
    A sua forma de trabalhar vai se tornar uma grande inspiração para minha forma de enxergar a parte do roteiro em minhas obras.
    Por coisas como essa que eu adoro seu blog!

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    1. Obrigado, André!

      Takashi Yamada é um daqueles nomes que a gente deixa passar batido, mas que tem muita importância. E esse diálogo foi uma tremenda aula de como são feitas as coisas na Toei. Já admirava o trabalho dele, mas agora a admiração é como pessoa também.

      Tem mais gente por aqui ainda. Tohru Hirayama, Shozo Uehara, Akio Jissouji, Toshihiro Iiijima, Takeyuki Suzuki, Nobuo Yajima e muitos outros na seção de Personalidades. Na parte de Mangá tem Os Homens que fizeram Kamen Rider, outro relato fascinante dos envolvidos.

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Peço que os comentários sejam apenas sobre assuntos abordados na matéria. Agradeço desde já.

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